Por: José Luiz

A Celebração Eucarística, popularmente conhecida por Missa, foi instituída por Cristo na noite de Quinta-feira Santa, antes de morrer. Pegando no pão e no vinho, deu graças, abençoou-os e distribuiu-os aos discípulos, dizendo: «Tomai: isto é o meu Corpo. (…) Isto é o meu sangue» (Mc 14, 22.24). No fim, pediu-lhes que repetissem esse gesto em Sua memória.

Assim fizeram os discípulos de Jesus, os primeiros cristãos, e sempre sucessivamente, até chegar aos nossos dias. No entanto, o ritual da Missa passou por algumas alterações até estar como hoje o conhecemos. Desde os primórdios que se manteve praticamente a mesma estrutura, que divide a celebração em dois momentos essenciais: a liturgia da palavra e a liturgia eucarística.

Na primeira parte, dá-se especial atenção aos textos bíblicos. Nos primeiros séculos, liam-se as Cartas dos Apóstolos às diversas comunidades e mais tarde os Evangelhos. Aquele que presidia à celebração fazia, em seguida, uma pequena meditação sobre o que tinha acabado de ser lido e partilhava-a com todos os presentes. No fim, todos juntos rezavam o que nós hoje chamamos Oração dos Fiéis, por toda a Igreja. A segunda parte da celebração dedicava-se à consagração do pão e do vinho e à comunhão.

A Didaqué, um escrito catequético do século I, apresenta as fórmulas que então eram usadas para a consagração na Eucaristia. Sobre o cálice deveria dizer-se: «Nós Te bendizemos, nosso Pai, pela santa vinha de David, teu servo, que Tu nos revelaste por Jesus, Teu servo; a Ti, a glória pelos séculos»; e sobre o pão: «Nós Te bendizemos, nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, Teu servo; a Ti, a glória pelos séculos. Da mesma forma como este pão partido foi inicialmente semeado sobre as colinas e depois recolhido tornou-se um, assim das extremidades da terra seja unida a Ti Tua Igreja em Teu reino; pois Tua é a glória e o poder por Jesus Cristo pelos séculos!»

Durante os primeiros séculos, a celebração da Missa era bastante simples e evitava tudo o que pudesse desviar a atenção do mistério central. A partir do segundo milénio, no entanto, começaram a surgir algumas alterações. Introduziram-se os sacrários, que passaram a ganhar tanta ou mais importância do que a mesa do sacrifício – o altar. O pão e o vinho tornaram-se os elementos centrais de toda a celebração e a leitura da Palavra passou para um plano secundário.

Anos mais tarde, a Igreja decidiu que a Missa deveria ter um ritual uniformizado e passou a ser celebrada em latim. Para além disso, o sacerdote passou a estar virado de costas para a assembleia, pois o altar encontrava-se encostado à parede. Os fiéis participavam muito pouco na celebração e geralmente limitavam-se a esperar pelo momento da comunhão (quando esta era possível) ou pela Adoração do Santíssimo Sacramento, não participando na liturgia da palavra.

O próprio ritual da celebração também se foi complicando e no período barroco chegou a tornar-se quase como que um espectáculo. Grandes ornamentos nas igrejas, o uso excessivo de incenso e coros e organistas que davam autênticos concertos foram algumas das inovações desta época. Como consequência, isto afastou ainda mais os fiéis do essencial da celebração.

A partir de certa altura, em finais do século xix e inícios do século xx, começou a perceber-se que o ritual que então se celebrava se tinha afastado bastante do original dos primeiros séculos. A Igreja começou a sentir necessidade de voltar às origens. Por este motivo, entre muitos outros, o Papa João XXIII resolveu convocar os bispos de todo o mundo para uma grande reunião com vista a reformar alguns aspectos da Igreja, entre os quais a celebração da Eucaristia. No dia 11 de Outubro de 1962 começaram oficialmente os trabalhos daquele que ficaria conhecido como Concílio Vaticano II, um dos mais importantes concílios da história da Igreja.

Do Vaticano II saíram importantes reformas para a vida da Igreja, muitas delas dirigidas à forma como até então se celebrava a Missa. Procurando regressar ao essencial, enfatizou-se a presença real de Cristo no pão e no vinho e deu-se nova importância à liturgia da palavra. Para isso, o altar passou a tomar um lugar central, sendo colocado diante de todos. A Missa passou a ser celebrada na própria língua e o ambão (de onde se fazem as leituras) tomou um lugar de destaque, de modo a que toda a assembleia participasse na celebração. A liturgia da palavra e a liturgia eucarística voltam, então, a unir-se, formando duas partes essenciais do ritual que não podem ser separadas. A Missa tornou-se algo mais comunitário, em que os fiéis participam como convidados da Ceia do Senhor e onde também podem desempenhar diferentes ministérios: leitores, cantores, acólitos, etc.

Atualmente celebra-se a Missa de acordo com as reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II. No entanto, o Papa Bento XVI permitiu que fossem celebradas também Missas tridentinas, isto é, Missas em latim, de acordo com o missal publicado no século xvi por S. Pio V, renovado em 1962 pelo Papa João XXIII. Diz o Papa que este missal nunca chegou a ser proibido e que, apesar de ser possível usá-lo e celebrar em latim a Eucaristia, a forma normal continuará a ser aquela que saiu do Vaticano II, que é a mais usada hoje em dia.

O Papa Bento XVI salientou, contudo, que, apesar de todas estas transformações na liturgia da Missa, não existe qualquer ruptura com o passado. «Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de repente totalmente proibido ou mesmo considerado prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar», diz o Papa na Carta aos Bispos a propósito da publicação do motu proprio Summorum Pontificum, sobre a liturgia latina.

Apesar de todas as mudanças e reformas ao longo dos séculos, a base da Missa permaneceu sempre a mesma. A estrutura pode ter mudado ligeiramente, mas o mistério manteve-se e continua a alimentar a vida da Igreja.

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