Por: Luciana Marques

Existe toda uma realidade nos bastidores do recomeço que muitos ignoram (exceto os que já tiveram que forçosa ou opcionalmente, recomeçar). Os recomeços, permita-me dizer, são somente para os fortes. E se você já teve que recomeçar de algum ponto em sua vida, então, parabéns! Você é uma pessoa forte!

Você está usufruindo da segurança de um emprego do qual dependem outras pessoas e um dia alguém te convida a sentar numa cadeira para lhe comunicar que seus excelentes serviços estão dispensados. Agora você precisa rever os planos, as contas, se aterroriza diante de um futuro incerto e sabe que a única coisa que lhe é proibida é ficar estagnado no tempo. Você precisa recomeçar.

O relacionamento vai mal e por mais que você tenha acreditado ter doado seu 150%, acabou. Ou por mais dedicada que tenha sido a outra pessoa, para você, não foi o bastante. Poderia ser um relacionamento promissor ou um aterrorizante, mas chegando ao seu fim, você agora precisa juntar os cacos e… Recomeçar. Tenha sido sua escolha ou da outra pessoa, depois do fim, a gente recomeça.

O que há de tão difícil por trás dos recomeços? Por que é que a gente foge dele e tenta viver numa zona de desconforto, só pra não ter de enfrentá-lo?

Existe o… Recomeço! Pleno, absoluto. Quando uma etapa se encerra em nossa vida, um ciclo se finda e, a gente precisa recomeçar, não envolve somente aquilo que acabou. Existe todo um bastidor por trás das imagens projetadas aos telespectadores das nossas vidas, que só a gente conhece.

Em qualquer fim, de amizade, de trabalho, de relacionamento, na morte, na mudança de cidade, se finda também tudo o que àquilo estava atrelado.

A vida é um conjunto de fatores interligados e quando um deles se rompe do fio fino do dia-a-dia, desestabiliza tudo o mais. Havia uma rotina, amigos, conhecidos, o cabeleireiro habitual, a manicure, o Sr. João da padaria, a vendedora da loja de roupas, toda uma gama de pessoas e lugares que correspondiam àquela velha rotina.

Agora você precisa seguir caminho, desfazendo os nós que aquilo que se encerrou tinha com sua realidade. Aquilo ficou para trás. E então você percebe que ao desfazer certos nós, algumas coisas continuam atreladas a outras e seguem com você, mas outras, muitas outras, vão ficando pelo caminho, soltas, perdidas, com sentimento de abandono, porque você precisou desprendê-las daquele contexto e elas só estavam ali porque se prendiam aquilo, não a você.

É a nostalgia que eu sinto quando falo com alguns colegas de faculdade, com quem tive momentos que quis levar para a vida toda, para mais tarde colocá-los no grupo “colegas de faculdade”, que ficaram no mesmo ano em que a graduação terminou, soltos, desprendidos do único fio que nos ligava.

É a nostalgia que sinto quando antigos companheiros de trabalho me fitam agora como quase desconhecidos, porque somente o que nos ligava era aquela fase em nossas vidas.
A mesma nostalgia de ver perdido no tempo e no espaço pessoas por quem tive e tenho o carinho mais sincero, mas que ao fim de um relacionamento partiram com quem se desprendeu da minha vida, porque era fina a linha que nos unia.

Quem recomeça precisa reinventar todo o contexto em que vive. Outro endereço, outro trabalho, outros amigos, outro amor, uma outra vida, repleta de novos integrantes pelos quais, quem recomeça, vai atar os mesmos nós, talvez um pouco mais apertado, pra ver se eles não se desfazem se porventura, algum fio arrebentar.

Porque mesmo quem recomeça, por mais forte que pareça ser, precisa se reconstruir para recomeçar. É um processo cansativo, doloroso, pelo qual sempre é melhor não ser preciso passar. Contudo, que é a vida, senão um constante recomeçar?

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