(Mc 14, 12-16.22-26. Corpus et Sanguis Christi)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

Um dia estava de viagem e me hospedei na casa de uma família amiga que ficava perto de uma escola militar. De repente, bem cedinho, a banda militar começou a tocar; uma bela festa. Na hora do café, perguntei se tinha algo especial no quartel, pois era um dia comum. Responderam-me que era a memória do dia em que os soldados daquele quartel libertaram uma cidade na Itália na Segunda Guerra Mundial. Todos os anos, o prefeito daquela cidade italiana manifestava sua gratidão à tropa brasileira que os libertou do invasor. Eu nem sabia que o Brasil teve algum papel importante nesta grande guerra.

Na Europa e nos Estados Unidos, é muito comum encontrar memoriais a pessoas que se destacaram, sobretudo dando suas vidas pela nação. Uma vez, conheci a história de uma menina que foi salva por um bombeiro quando era pequena; sua casa foi consumida pelo fogo. O bombeiro conseguiu tirar ela de lá, mas ficou gravemente machucado e faleceu. Todos os anos, no dia da sua morte, ela vai ao cemitério levar flores no túmulo daquele que deu a própria vida por ela. “Não tem maior amor daquele que dá a vida por seus amigos.”

Podemos nos perguntar qual é o sentido da festa de hoje. Não bastaria a quinta-feira santa para lembrar a instituição da Eucaristia? A Igreja não celebra neste dia um acontecimento da vida de Cristo, mas uma verdade de fé: no santíssimo sacramento da Eucaristia estão «contidos, verdadeira, real e substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo» (CIC 1374). Cristo está presente por excelência na eucaristia, porque nela está presente de modo substancial, tudo aquilo que Ele é, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É para nos lembrar de modo especial esta verdade de fé da presença real de Cristo na Eucaristia combatendo toda rotina ou indiferença que a Igreja colocou esta festa. Nos meio de vós, está um que vós não conheceis (Jo 1,26).

Uma vez, um ateu disse que se pudesse acreditar que na hóstia consagrada estava verdadeiramente o Filho de Deus, cairia de joelhos e jamais se levantaria. Muitas pessoas estão acostumadas a ver “a hóstia consagrada”, mas quantas pessoas verdadeiramente veem Jesus nesta hóstia consagrada? Em muitos corações, o costume da presença de Deus nas suas vidas levou a desvalorizar e até banalizar este grande tesouro. Em outros lugares, as pessoas acham que “receber a hóstia” é somente parte de um rito que deve ser iniciado e concluído em todas as suas partes. Não têm consciência do que fazem nem preparação para receber a Jesus Eucaristia, ou até recebem indignamente o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Será que recebemos de qualquer forma em nossas casas alguém importante? Pelo menos, não limpamos e ajeitamos bem a casa para recebe-lo?

Um amigo meu, missionário, foi uma vez para um lugar remoto da antiga união soviética, uns anos após a queda do muro de Berlim. Aquela cidade tinha ficado 40 anos sem a presença de Jesus eucarístico, por falta de sacerdotes. Quando ele foi enviado para lá em missão, há poucos meses de ser ordenado sacerdote, as pessoas o foram receber uns quilômetros antes da sua chegada. Ele contava que até beijavam seus pés. Em um momento, ao chegar na frente da Igreja, não aguentou mais e disse ao intérprete para que dissesse aos outros para pararem de beijar seus pés pois ele também era um homem como eles. Antes mesmo que relatasse seu pedido, uma senhora de avançada idade se aproximou dele e disse na sua língua: “como são belos os pés do mensageiro que anuncia a paz. Não é pelo senhor que estamos beijando seus pés, mas porque Deus te enviou para nos trazer novamente sua presença entre nós na eucaristia. São mais de quarenta anos que tiraram Jesus e os padres do meio de nós. Nós nos reunimos todos os domingos para rezar a missa. Quando chega o momento da consagração, fazemos um grande silêncio e muitas pessoas choram pela falta de Jesus. Mas hoje é dia de festa para nós, pois Jesus vai voltar a estar conosco”. Aquela senhora avançada na idade, era a única catequista que tinha sobrado quando a revolução levou consigo todos os sacerdotes. Ela tinha batizado, catequisado e assistido o matrimônio de todas as pessoas daquela cidade; mas eles queriam Jesus Eucaristia.

Outra vez, uma senhora se aproximou e pediu para confessar faltando uns dez minutos para iniciar a santa missa. Ela disse assim: “padre, eu sei que falta pouco tempo para a missa, mas eu acabei de chegar; fiz 35 km a pé e gostaria de confessar para poder receber a Jesus na eucaristia, porque depois tenho que voltar para casa e amanhã não vou poder sair de casa porque minha filha que mora longe vai vir me visitar”. A missa era às 18:00h. Ela preparou o almoço e saiu de casa para chegar a tempo na missa para poder receber a Jesus; e depois tinha mais 35 km de volta. “Isso é fé e amor a Cristo”, pensei. E quantas vezes nos acostumamos, viemos à missa somente para cumprir um preceito, chegamos tarde na missa ou até recebemos a Jesus sem a devida preparação da confissão e o arrependimento sincero dos nossos pecados.

Este é um dia para agradecer o grande dom de Deus. Ele, tão grande se fez tão pequeno para poder estar conosco, ser nosso amigo e o sustento da nossa vida. “Senhor, eu não sou digno de entres em minha casa, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Agradeçamos a Deus pelo dom que fez de si mesmo a nós; agradeçamos também com nossa vida preparando-nos melhor para reviver sua paixão, morte e ressurreição por amor a nós, com mais consciência, como mais amor, com o coração purificado. Jesus fica toda a semana nos esperando; não deixemos ele sozinho. Busquemos alguns momentos durante nossa semana para acompanha-lo no sacrário, seja partilhando toda nossa vida, seja numa adoração silenciosa. Ele nos está esperando e nos diz: eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo (Ap 3.20).

Escutemos juntos este hino eucarístico composto por S. Tomás de Aquino:

O pão dos Anjos

Torne-se o pão dos homens;

O pão do paraíso

Ponha fim a toda dúvida

Oh, coisa digna de admiração!

Alimenta-se de Deus

O pobre, o pobre e o humilde servo

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