(Mc 1,21-28. TCB, IV)

Pe. Mairon Gavlik Mendes, LC

Certa vez o missionário E. Stanley Jones encontrou-se com Gandhy na Índia, e perguntou: “Senhor Gandhi, apesar do senhor sempre citar as palavras do Cristo, por que é tão inflexível e sempre rejeita tornar-se seu seguidor?” Gandhi respondeu: “Ó! Eu não rejeito seu Cristo. Eu amo seu Cristo. Apenas creio que muitos de vocês cristãos são bem diferentes do vosso Cristo.” Conta-se que a rejeição de Gandhi ao cristianismo nasceu de um incidente acontecido na África do Sul, quando ele era um jovem advogado por lá. Gandhi estava atraído pela fé cristã; tinha estudado a Bíblia e os ensinamentos de Jesus. Estava explorando seriamente a possibilidade de tornar-se um cristão, quando decidiu assistir um culto em uma igreja local. Mas, assim que subiu os degraus, o ancião da igreja, um sul-africano branco, barrou seu caminho na porta. “Aonde você pensa que vai, kaffir?” Perguntou o ancião em um tom de voz beligerante. Gandhi replicou: “Eu gostaria de assistir o culto, aqui.” Mas o ancião rosnou: “Não existe lugar para kaffirs nesta igreja. Fora daqui ou eu chamarei meus assistentes para atirá-lo escada à baixo.” Kaffir era um tratamento pejorativo dado pelos brancos, aos negros e estrangeiros na África do Sul no regime do apartheid. No meio muçulmano, kaffir tem o significado de “infiel”.

Uma Igreja cristã onde falta o amor de Cristo, não é Igreja, mas sim um túmulo para a fé alheia, pois uma primeira impressão ruim, é difícil de ser apagada. Por isso Gandhi repetia muitas vezes: “Não conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos. Vocês nem começaram a viver segundo os seus próprios ensinamentos.”

O evangelho de hoje mostra como Jesus ensinava, com autoridade. Qual era esta autoridade tão nova que Jesus tinha e que nem os escribas e fariseus possuíam? Jesus ensinava com todo seu ser e não somente da boca para fora. Seu ensinamento levava as pessoas a uma liberdade maior e a uma maior confiança em Deus capaz de uni-las a Deus. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Quando Jesus revela a intenção do seu ministério, mostra qual era aquilo que verdadeiramente lhe motivava (cf Is 61,1s): Jesus veio para aliviar os sofrimentos das pessoas, restaurar suas vidas. Jesus busca a saúde, a salvação integral de cada homem e mulher. “Eu sou o bom pastor, conheço minhas ovelhas e elas escutam minha voz. Dou a vida pelas minhas ovelhas.” A salvação que Jesus vem oferecer, não é somente nos liberar de um mal que nos oprime, mas ao mesmo tempo é um dar-nos esta vida plena e cheio de sentido que tanto desejamos (cf. Sal 23).

De onde vem esta autoridade de Jesus? Qual é o motivo da sua autoridade? A autoridade de Jesus vem de Deus Pai: “todo poder me foi no céu e na terra e não há outra salvação que no nome de Jesus.” A autoridade de Jesus vem da sua união a Deus Pai. “O Filho faz aquilo que vê seu Pai fazer.” E ainda: “meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou. E a vontade de Deus é “que todos se salvem e cheguem ao conhecimento pleno da verdade.” Que todos se salvem. Isso é o que Jesus busca: “Não vim para os sadios, mas para os enfermos, para chamar os pecadores à conversão.” A preocupação de Jesus não está em repetir umas frases ao pé da letra, mas em trazer a salvação, esta vida plena a todas as pessoas.

Se a autoridade de Jesus vem de Deus Pai e Deus é amor, a autoridade de Jesus é o amor que Ele tem por cada pessoa. É isso o que justifica seu obrar, o que lhe move a buscar o bem das pessoas, inclusive a dar sua vida para que tenhamos vida. É sua compreensão, sua paciência, sua ternura, o perdão que Ele oferece, a confiança na bondade do Pai que Ele transmite, seu empenho para transformar este mundo numa civilização onde reina o amor o motivo da autoridade de Jesus. Todos se aproximavam dEle, os mesmos pecadores e até os que tinham inveja dEle, porque Sua personalidade os atraía e os acolhia como eles eram, ao mesmo tempo que buscava levar a uma vida verdadeira, mais plena e mais unida a Deus.

Nós não devemos confundir autoridade com poder. Jesus não trata de impor suas ideias, não busca controlar as pessoas; Ele quer elevar as pessoas e por isso as convida a uma vida nova, deixando a responsabilidade das suas liberdades nas mãos de cada pessoa. Como os primeiros cristãos, precisamos nos unir à autoridade de Cristo, pois “a Igreja não cresce por proselitismo, mas «por atração»” (Evangelii Gaudium, 14). “Vede como se amam”, diziam dos primeiros cristãos. É na medida em que estejamos unidos a Deus, que tenhamos experimentado Seu amor redentor que poderemos viver como Ele viveu: amando e dando a vida por cada um de nós. E se temos este fogo do amor de Deus em nossos corações, não vamos poder controla-lo ao ver outras pessoas que, como nós estávamos, vivem ainda na escuridão do desespero e da falta de sentido e no frio de um coração que ainda não foi amado sem medida, como só Deus pode fazê-Lo. É esta autoridade, este amor que nos levará ao anúncio do Evangelho.

“A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1Jo 4,10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!” (Evangelii Gaudium, 24) e ser instrumentos do amor de Deus com a mesma autoridade que vem de Deus.

Precisamos anunciar o amor de Deus com a autoridade e com a ousadia de Jesus: no respeito e na estima às pessoas, um anúncio que gere a esperança e cure as feridas de todo medo e temor, mas ao mesmo tempo convencido que Jesus é este bálsamo, esta salvação que eles, como também nós, tanto precisamos.

“Creio que existem homens que realmente entenderão a Mensagem de Cristo e como Cristo estão por todo mundo disseminando a única mensagem que Cristo deixou: o AMOR” (Ganghi). “Sede também vós verdadeiros evangelizadores! As vossas iniciativas sejam «pontes», estradas que levem a Cristo a fim de caminhardes com Ele. E, neste espírito, permanecei sempre atentos à caridade. Cada cristão e cada comunidade é missionária na medida em que transmite e vive o Evangelho e testemunha o amor de Deus por todos, especialmente por quem se encontra em dificuldade. Sede missionários do amor e da ternura de Deus!” (Papa Francisco, 5.5.2013). Sejamos sempre autênticos discípulos e missionários de Cristo com o testemunho da nossa vida e, se preciso for, também com nossas palavras”.

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