(Lc 2, 22-40)

Pe. Mairon Gavlik Mendes, LC

Seguimos comemorando em clima de Natal e agradecendo à Deus pelo grande presente que nos deu, o dom que fez de si mesmo ao se encarnar. O Emmanuel, o Deus conosco para nos salvar, Jesus, nasceu por obra do Espírito Santo e da Virgem Maria em Belém. Por que será que Deus quis vir ao mundo no seio de uma família humana? Seguramente tinha algo importante para nos dizer sobre a família.

Bem no começo da Bíblia, pouco depois do “nascimento” do primeiro homem, Deus viu que que Adão estava só e disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda semelhante.” E das costelas de Adão, Deus forma Eva, a mãe dos viventes. Adão fica feliz com a bela surpresa: “Isso sim é osso dos meus ossos, carne da minha carne.” E Deus continuou: “Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne.” Deus seguiu: “Sede fecundos, multiplicai-vos, submetei a terra.” Deus pensou no matrimônio como uma ajuda mutua, uma ajuda semelhante a que Ele mesmo dava a Adão, um sinal da grande origem e da vocação de todo homem: Chamado por amor para amar; chamado a comunhão. Este foi o grande plano de Deus para o homem: ser uma ajuda semelhante, um reflexo do mesmo amor que Ele quer dar para cada um dos seus filhos. Somente sendo amados e amando aprendemos amar, eis a nossa vocação. Foi somente com o pecado que esta relação de paz, comunhão e amor mudou para relações de domínio, utilidade e opressão. Isso não foi o que Deus pensou para a família! Como deve ser uma família? Como podemos chegar a viver nossa vocação à comunhão?

Olhemos para o mistério do Natal. Belém, Bet-lehem, significa “a casa do pão”. Não é à toa que o menino Jesus, nosso Salvador, foi reclinado numa manjedoura, num lugar onde se serve o alimento que os animais necessitam para sobreviver. Jesus vem numa gruta, num lugar desprovido de quase tudo, sem calor, sem luxo, sem o conforto necessário para uma jovem mãe e para um recém-nascido para nos ensinar que pode faltar quase tudo em nossas vidas, que muitas coisas são supérfluas e poucas, uma só, é necessária: o amor.

É o amor o que protege a família dos ventos do mal do mundo, é o amor que fortalece os pais para trazerem o alimento para o crescimento dos filhos, é o amor que os veste de dignidade e os educa como filhos livres, é o amor que dá a vida, a vida física, a vida psicológica, a vida espiritual. Por que encontramos tantas crianças abandonadas, passando fome, solitárias e feridas? Porque faltou e falta amor.

Belém é a casa do pão, o lugar onde se dá vida. Para formar um pão, é necessário plantar o trigo, a semente precisa brotar, crescer, passar por chuva e calor, ser colhida, amassada, misturada, fermentada e assada. Mas o resultado é bom. Nosso dia-dia é um contínuo desafio. Estamos continuamente nesta luta da vida onde nem tudo acontece como planejamos: temos momentos fáceis e difíceis, dias de sol e chuva; momentos de trabalho duro, dias de espera, dias de colheita. Mas se na nossa vida de família falta o amor, o pão não alimenta: ou chega azedo, ou é insuficiente, ou nem chega às mesas da nossa vida.

A Bíblia nos ensina a fundar nossa vida e nossa família na rocha de Cristo, lares fundados num amor livre, renovado todos os dias, num diálogo cheio do amor familiar que cancela todo tipo de opressão e de cobrança, mas ao mesmo tempo num amor que se transforma em fidelidade. Mas como chegar a ter uma família assim? A família não nasce de repente; ela se constrói passo a passo. É necessário estar à escuta de Deus para que Ele nos revele seu plano para nós, a vocação que nos deu e, se for o matrimônio, que nos guie na eleição da esposa e do esposo com fez com Isaac e Tobias (cf. Gen 24,42s; Tob 3,16s). Depois, saber que o mesmo Deus une o homem e a mulher transformando esta escolha que os dois fizeram por constituir uma família como numa consagração que supera os mesmos esposos: os constitui um para o outro nesta ajuda mutua, semelhante ao socorro que Ele mesmo quer dar para cada um dos seus filhos. Este matrimônio é sinal da mesma aliança que Cristo instituiu em Seu sangue dando sua vida pela sua esposa, a Igreja, para que fosse santa e sem manchas, toda bela. A família é o lugar da doação: “Eu vim para que todos tenham vida e todos tenham vida plenamente.”

Deus quer construir uma casa, quer nos dar uma família onde sejamos amados como Ele nos ama e onde aprendamos amar, pois é dando que se recebe. Família é o lugar da acolhida, da compreensão, do perdão, da ajuda mútua, da paz e da alegria. E este amor, como o pão, se prepara cada dia. O papa Francisco nos mostra um caminho para crescer no amor em família; são três palavrinhas mágicas: por favor, desculpa, obrigado.

Por favor, pois ninguém é obrigado a nada numa família porque a família é o lugar da doação. Quando se necessita algo, nunca se obriga, mas se pede e se espera para acolher este gesto de amor que precisamos. Desculpa, porque todos erramos. Quantos pais querem passar uma imagem aos filhos de perfeição do “pau oco”? Isso não ajuda em nada; pior, os fazem perder toda confiança. Obrigado é a palavra de reconhecimento: não mereço seu amor, mas agradeço porque o necessito.

Peçamos à Deus que ninguém seja carente de família, carente de amor, carente de atenção, carente de consolo e de reconhecimento, carente de compreensão e perdão, carente de dons e presentes dados com o único desejo de fazer feliz a quem recebe, carente de ajuda, de um beijo, de um abraço. Peçamos que nossas famílias sejam lugares de doação, pois é somente se dando que se gera nova vida. Jesus também quis ter uma família porque Ele é infinitamente amado por seu Pai e quis que pudéssemos, ao menos de modo limitado, experimentar desde já o amor que Ele nos tem. Peçamos por todas as famílias para que sejam uma escola de amor, de doação e de vida:

“Que nenhuma família comece em qualquer de repente. Que nenhuma família termine por falta de amor. Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente. E que nada no mundo separe um casal sonhador! Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte. Que ninguém interfira no lar e na vida dos dois. Que ninguém os obrigue a viver sem nenhum horizonte. Que eles vivam do ontem, do hoje em função de um depois. Que a família comece e termine sabendo onde vai. E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai. Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor. E que os filhos conheçam a força que brota do amor! Abençoa, Senhor, as famílias! Amém! Abençoa, Senhor, a minha também”. 

(Pe. Zezinho)

 

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