Por: Dom Adelar Baruffi- Bispo de Cruz Alta

Na despedida do ano civil, a Igreja eleva a Deus um grande hino de louvor (Te Deum laudamus). “Que poderei retribuir ao Senhor Deus, por tudo aquilo que ele fez em meu favor?” (Sl 115,12). Mas, por que louvar e agradecer a Deus? Quem tem fé reconhece que no caminho da vida pessoal e também na história humana temos uma companhia inseparável, que nos sustenta, anima e oferece sentido para todas as coisas. Precavemo-nos do risco de sermos gratos somente por aquilo que julgamos ter sido bom. Cuidemos, também, de não identificar a autorrealização somente com o que trouxe alegrias. Senão, como faremos para integrar o sofrimento e a provação, presentes em todas as pessoas? Mas nossa gratidão é pela companhia de Deus no nosso caminhar, pelo seu amor infinito que está sempre com suas criaturas. Também a motivação da nossa gratidão não é uma retribuição à bondade de Deus em nos conceder as graças que a Ele pedimos. Não podemos projetar para Deus as relações comerciais de compra e venda. Deus não faz comércio conosco. Nesta lógica, nossa relação com Deus deve ser semprede louvor e gratidão, como nos ensina Santa Terezinha: “não vou fazer senão uma coisa: começar a cantar o que deverei repetir eternamente: «as misericórdias do Senhor»” (Manuscrito A,2r).

O louvor e a gratidão a Deus não dispensa, pelo contrário, supõe um olhar retrospectivo, com realismo, sobre a orientação de nosso caminhar neste ano. Ter a coragem de ler, aprofundar, compreender e aprender dos fatos vividos e do rumo que estamos dando para nossa vida. É bom compreender a vida como um processo de construção permanente, num diálogo conosco mesmos e com os desafios da realidade, diante da referência última de tudo o que somos e vivemos, Jesus Cristo e seu evangelho. O que ainda preciso crescer para ser mais humano, cristão, servidor, misericordioso?

No louvor e gratidão também tem lugar a tristeza e indignação pelas chagas sociais que nós ainda não conseguimos sanar. Como é difícil superarmos dificuldades básicas do convívio humano: a raiva, a intolerância, a crescente violência social, a dificuldade de dialogar e a polarização de posições políticas. Enquanto tudo for regido pela economia, ao invés do bem da pessoa humana e seus valores, teremos dificuldades de construir a desejada paz. Em Deus buscamos a força para não desanimar e nunca cairmos na indiferença diante de tudo o que fere a vida humana, sagrada aos olhos de Deus.

Iniciemos 2018 com renovada esperança. “Não deixemos que nos roubem a esperança”, repete tantas vezes nosso Papa. Partimos dispostos a dar o melhor de nós mesmos. Feliz e abençoado Ano Novo!

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