(Mt 22,1-14. TCA, XXVIII)

Talvez já conheces a história do dr. Marco. Ele nasceu no seio de uma família favorecida. Estudou nas melhores escolas. Cursou medicina e abriu um hospital para ganhar sua vida. O hospital era muito competente e buscava sobre tudo o lucro. Os dependentes tinham uma consigna de ação muito clara: primeiro se paga, depois se é atendido. Um dia chegou um jovem acidentado no seu hospital; mas como não tinha meios, não foi atendido e morreu. A sociedade se revoltou, mas numa entrevista a uma TV local ele disse: “minha atitude foi legal; e pode acontecer mil vezes que para mim será normal… Avise a população para não ter esperança, pode ser jovem, idoso ou até mesmo criança”. Um dia, seu filho perdeu o controle e sofreu um acidente. Um homem que passava por ali, prestou socorro e o levou para o hospital e, pensando que ali seria bem atendido, o deixou ali com a certeza do dever cumprido. A secretária não reconheceu o jovem, tão desfigurado estava. Sabia do protocolo. O jovem agonizava no chão do hospital, sem ninguém lhe pôr a mão. Enfim, ela ligou para o médico dizendo: “doutor, se o senhor não atender este rapaz, ele não verá mais a luz de um novo dia. O médico lhe respondeu: “conheces as normas da casa; faz bem seu trabalho e preocupe-se com sua vida, ou amanhã mesmo serás despedida”. Aquele jovem seguiu gemendo a ali mesmo morreu. Quando foram ver quem era para dar o atestado de óbito e avisar a família, a secretária descobriu quem era aquele moço; era o filho do doutor. Quando ele recebeu a notícia, ao ver seu filho jogado no seu próprio hospital, morto como um indigente, quase morreu de dor. E decidiu mudar de vida e atender a todos os que precisavam da sua ajuda, sem importar-se mais com o dinheiro. Apesar da sua grande mudança, isso não trouxe seu filho de novo.

O evangelho de hoje, nos fala de um rei que dá um banquete de casamento. Quer partilhar sua alegria com todos seus amigos. Porém, ninguém responde ao seu convite: “não posso, tenho outra coisa que fazer….” O povo de Israel, esperou tanto o Messias; quando ele chegou e o convidou para entrar no seu Reino para partilhar da sua alegria, simplesmente respondeu: “não posso, tenho outra coisa urgente para fazer”. Tinham terras, negócios, esposas para cuidar. Tanta espera, tanto desejo de salvação e alegria plena e, quando chega o momento, tinham outras coisas para fazer. Deixam o importante pelo urgente. E de que serve o homem ganhar o mundo inteiro (cf. Mt 16,26) se perde a sua alma, se deixa de ganhar o único importante, o único necessário: a vida eterna? Uma vez, Jesus foi visitar seus amigos em Betânia. Enquanto alguns ficaram conversando com ele, feliz da sua visita, a irmã mais velha, Marta, se preocupava por dar uma boa impressão da família. Fazia de tudo, subia e descia, trazia comida e bebida… “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc 10, 41-42). De quantas coisas nos preocupamos e quantas delas são de verdade importantes? Muitas coisas são urgentes na nossa vida, mas poucas são de verdade importante. Para este médico, era urgente que ele ganhasse dinheiro; não fazia outra coisa se não fosse para ganhar dinheiro; era sua prioridade. Até seu filho, seu único filho, sofreu suas urgências. Era mais urgente para ele ganhar dinheiro que salvar uma vida. De que importa que tenhamos dinheiro, fama, poder se, no final dos nossos dias, não o levamos conosco? Pior ainda se, no final dos nossos dias, não temos o único importante nesta vida, se não ganhamos a vida eterna.

Todos os dias, de muitos modos, Deus vem até nós para nos oferecer o céu. Quantas vezes deixamos de ir à missa no domingo para nos encontrar com Deus e agradecer a semana por outras coisas urgentes? “Não, mas vou receber uma visita e preciso fazer uma comida especial….” “Teremos um encontro em família e não vou poder ir….” Se isso acontece conosco, será que temos um tempo para estar com Deus em oração cada dia? “Impossível, não tenho tempo”. O problema não é teu tempo, mas tuas prioridades. Tens as mesmas 24h que todos; somente que tu as usa de outro modo. Uma pessoa que vive sempre na correria, acha que vai ter tempo para ver o próprio filho jogar, ou ver uma apresentação de ballet da própria filha, ou visitar os pais anciãos, ou visitar algum amigo doente ou que não vê há muito tempo? Claro que não! Todos temos muitas coisas urgentes a serem feitas, mas no final do mês, mas no final do ano, mas no final da vida, qual delas verdadeiramente marcou nossa vida. Talvez Jesus nos queira repetir o que disse a Marta: tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc 10, 41-42). Qual é essa melhor parte que não nos será tirada, o único importante que não passa com o tempo? Sem dúvida o amor. A-mor significa sem morte, eterno. Quando dedicamos nosso tempo em fazer o bem para os demais, começando por aqueles que estão mais perto de nós, aqueles que mais precisam, investimos nosso tempo em algo que não passa, pois essa boa ação ficará gravada para sempre naquele que a recebeu. Nossas diversões, preocupações, afãs passam; o amor permanece.

Jesus nos convida colocar numa balança todas nossas preocupações, todas nossas atividades, até os nossos sonhos. Que peso eles têm? Será que tem um peso de eternidade? Podemos falhar em muitas coisas na vida: podemos falhar na escola, no trabalho, nas expectativas que os outros tinham sobre nós; podemos falhar até em algumas das nossas relações com as pessoas que estão próximas a nós, mas não podemos falhar na nossa amizade com Deus. De que serve o homem ganhar o mundo inteiro (cf. Mt 16,26) se perde a sua alma, se deixa de ganhar o único importante, o único necessário, a vida eterna? Deus bate à porta da nossa vida para perguntar em que dedicamos nossa única vida, essa vida que é passageira. Será que estamos buscando investir em algo que não passa, será que estamos buscando entrar na vida eterna? Deus segue nos oferecendo participar do grande banquete do Seu Filho. Depende de nós aceitar seu convite, escolher o único importante nesta vida, entrar na vida eterna, ou seguir preocupado pelas coisas urgentes que precisamos fazer.

 

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