(Mc 1,40-45. TCB, VI)

Pe. Mairon Gavlik Mendes, LC

Nesta semana recebi uma mensagem de uma família amiga pedindo orações por que a filha iria ter que passar por uma operação grave. Ela foi para o hospital enquanto sua mãe não passou bem em casa: teve uma crise de pressão e hipoglicemia que se agravou muito rápido e lhe levou até a UTI. Lá descobriram uma insuficiência renal aguda. A hemodiálise era a única esperança dela; ela não resistiu e os órgãos entraram em falência. A filha tem uma operação de risco, mas era a mãe quem realmente não resistiu. Mistérios da vida. Sabemos que uma coisa é certa para todos nós, porém sua hora é incerta.

A liturgia deste domingo, segue falando das curas de Jesus. Senhor, se queres, tens o poder de curar-me. Não se tratava de qualquer doença, mas de lepra, um mal extremamente contagioso e incurável nos tempos de Jesus. Existiam muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu e ninguém foi curado senão Naamã, o Sírio. “Eu quero, fica curado. Lava-te sete vezes no Jordão e ficarás limpo’, e sua pele ficou como de uma criança.” Jesus tem poder para curar. Por que então nem todos são curados? Existem muitos tipos de doenças; algumas nos deixam de mal-estar, outras até põem em risco nossa vida; porém existe um tipo de doença que é ainda pior. “Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10,28). Existe uma doença que pode nos afastar de Deus, da mesma fonte da vida para sempre, o pecado.

Conta-se que um dia, Luis IX disse publicamente que preferia trinta vezes ser um leproso que cometer somente um pecado mortal. O barão de Joinville estava presente e assustado com tal afirmação disse que preferia cometer trinta pecados mortais que chegar a contrair a lepra. Diante deste acontecimento, o poeta Péguy comenta, como se Deus fosse o terceiro interlocutor: “ah, se Joinville visse com os olhos da sua alma o que é a lepra da alma que chamamos pecado mortal. Se pudesse ver como a soberba resseca a alma de modo infinitamente pior, infinitamente funesto, infinitamente maligno e odioso, ele teria entendido imediatamente quão estúpido era o que estava pensando”.

Todos nós temos um grande dom que nos foi concedido com a vida: o tempo. Não sabemos quanto tempo nos foi dado, mas sabemos que um dia ele acabará. Este é o grande talento que Deus nos confiou para que pudéssemos dar frutos. Algum dia, Ele irá nos chamar para darmos conta da nossa administração.

“Senhor, se queres, tens o poder de curar-me.” A lepra não se tratava somente de uma terrível doença física; era visto por muitos no tempo de Jesus como um castigo por algum pecado cometido. Ademais de uma condenação, de uma sentença de morte, era uma morte durante o resto que lhe faltava de vida. A pessoa era isolada para a proteção da sociedade; ela era desprezada e vista como ameaça, condenada a morrer em solidão. Na verdade, a lepra é um verdadeiro símbolo do pecado. Quando alguém comente um pecado, ele mesmo se isola e despreza aos outros, porque a raiz de todo o pecado é o egoísmo e a desconfiança em Deus e nos demais. No nosso mundo, podemos descobrir novas formas de lepra: o vício das dependências, da ganância, da autossuficiência, do utilitarismo. Aparentemente a pessoa parece conseguir algo, mas na realidade reduz sua capacidade de amor e doação acabando cada vez mais preso e escravo destas dependências.

Jesus não despreza os leprosos. Ele tem outro modo de se relacionar com estas pessoas. Não é uma mera empatia ou somente uma compaixão. Jesus toca a miséria humana e assume o risco da sua própria sorte para poder curar e devolver a vida física, a vida social, a vida eterna. Jesus nos convida também tocar “os irmãos nas suas desgraças” para ajuda-los a recuperar a vida. Quantas pessoas precisam da nossa atenção, do nosso serviço, da nossa compaixão? Descobrir a Jesus naquele que sofre foi um dos grandes caminhos que Deus concedeu para as verdadeiras conversões de vida, como S. Francisco e Madre Teresa. É mais fácil apontar as doenças, os erros, os pecados; a Lei também o fazia. Jesus veio nos trazer outra Lei, a Lei do amor, a Lei da sua graça que não somente nos indica o caminho da vida, mas que nos dá forças para sair da morte em direção à vida.

Jesus cura o leproso e manda apresentar-se ao sacerdote, conforme ordenava a Lei, não somente para cumpri-la, mas sobretudo para dizer e mostrar aos sacerdotes que Ele veio para levar a Lei a sua plenitude, para que soubessem que Ele era o Messias tão esperado que curaria os enfermos: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19). Jesus veio para curar-nos dos nossos males, sobretudo o pecado que pode nos afastar para sempre dele. Aproveitemos este tempo de quaresma que está prestes a começar pedindo que Deus nos conceda o dom da cura interior e nos dê um coração como o seu, capaz de amar, pois no final da nossa vida, seremos examinados pelo amor. O Amor nos examinará se vivemos como Ele nos ensinou, dando a vida pelos nossos irmãos. Para isso serve a nossa vida. “Senhor, se queres, tens o poder de curar-me.” 

Jesus quer nos curar.

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