(Mt 20,1-16a. TCA, XXV)

Alguns anos atrás, um amigo resolveu comprar uma casa no campo. Na realidade, esta casa não era em um lugar diverso de onde já tinha uma casa de descanso; também não ficava no campo. Ficava numa cidade mais tranquila para fugir da agitação da capital do seu estado. Ele já tinha uma casa de repouso e não era pequena. Porém, seu vizinho precisou ir embora e colocou a casa à venda. De repente, apareceu um cantor de rock querendo comprar a casa que ficava do lado dele no condomínio. “Venho aqui para buscar sossego e agora vou encontrar barulho até aqui?” pensou ele. Ele tinha umas reservas no banco e se decidiu pela paz; comprou a casa do vizinho. Porém, esta casa tinha caseiros. “Para que eu preciso caseiro se vou morar na casa ao lado?” comentava com sua esposa. “Nós não precisamos deles, mas eles sim precisam de nós”, respondeu ela. “Já perguntaste se eles têm outra casa onde morar, outro trabalho para sustentar a sua família?” Esta mulher era sábia e de bom coração. De fato, os caseiros continuaram mais um pouco na casa até a sua própria casa ficar pronta. Depois, sempre que os donos precisavam algo, eles os ajudavam.

O evangelho de hoje nos mostra uma característica do coração de Deus. Ao escutar este evangelho pela primeira vez, ficamos com um sabor de injustiça na boca. Como é possível que Deus dê o mesmo salário para o que trabalhou todo o dia e para aquele que trabalhou somente a última hora? O que suportou todo o calor e cansaço do dia tem o mesmo valor que aquele que apenas transpirou algumas gotas? Será que este evangelho prega a injustiça? Será que Deus trata do mesmo modo aqueles que se esforçam toda a vida para viver junto d’Ele com os que se convertem segundos antes de morrerem? Nestes momentos de crise no Brasil, muitas pessoas perderam seu emprego e, sem renda, perderam muitas outras coisas: jovens que tiveram que trancar sua faculdade porque já não têm mais dinheiro para pagar, pessoas que precisaram interromper tratamentos médicos, pois a rede pública não os atendiam conforme suas necessidades. Algumas famílias tiveram que cancelar as férias, os presentes nos aniversários dos filhos, a festa de colação. Algumas coisas complicaram até para seguir com uma boa alimentação.

Quando escutamos este evangelho, devemos olhar o que está detrás destas palavras. Um proprietário vai à praça contratar empregados para trabalhar nos seus campos. Encontra alguns homens e combina com ele um salário para trabalharem para ele naquele dia. Eles aceitam. Volta no meio da manhã e encontra outros ociosos. “Vinde trabalhar comigo e vos pagarei o que for justo”. E eles foram. O mesmo no meio da tarde. Ao declinar a tarde, volta à praça e encontra mais pessoas sem trabalhar. “Por que ficais aí todo dia sem trabalhar?” “Porque ninguém nos contratou”– responderam eles. Imaginem esses homens com uma foice na mão, com um rosto triste. Quem diz que eles estão ali porque não querem trabalhar? Talvez estiveram buscando trabalho em outro lugar e ninguém os deu. Se eles não quisessem trabalhar, teriam ficado nas próprias casas. Mas por que então eles estavam ali, se o dia já estava acabando? Eles precisavam deste trabalho, eles precisavam do dinheiro do trabalho; talvez era necessário para que comprarem comida para aquele dia, ou um remédio tão necessário para um filho doente. Eles insistiram em buscar e em esperar.

Deus, que é bom, sabe disso. Sabe que talvez tenha alguém ali que na verdade sim era muito preguiçoso; mas conhecia muito bem as suas necessidades. Por isso começa pagando por eles, porque eles eram os que mais precisavam; do contrário, não teriam insistido em esperar até o último momento para terem a chance de trabalhar e levar algo para casa. Deus não é injusto com os que trabalharam desde o raiar da manhã; pagou-lhes o combinado. Eles não mereciam, o proprietário não estava obrigado a dar trabalho; se a oferta laboral era grande, ele poderia até combinar menos do preço normal, pois muitos aceitariam a proposta. Não, ele acerta a medida justa, o denário, o preço por um dia de trabalho; e sem direitos a refeição e ao vale transporte! Ao receberem seu salário, os trabalhadores da manhã começaram a murmurar: “isso não é justo! Ele nos igualou àqueles que trabalharam uma só hora”. “Amigo, pega o que é teu. Não foi isso que nós combinamos? Então, por que estás insatisfeito? Ou tens inveja que sou bom com aqueles que trabalharam só uma hora? Pega o que é teu e vai embora; deixa que eu faça o que eu bem entender com meu dinheiro.”

Quando era pequeno, também achava isso uma injustiça; Deus coloca tudo no mesmo saco. Será que ele não sabe que têm valor diverso, que não é o mesmo um grão de café maduro de um verde ou quase maduro? O resultado do café é bem diverso. Ao entrar jovem no seminário, também achava que Deus deveria me dar muito mais que meus companheiros que já tinham vivido mais tempo fora e só com certa idade resolveram seguir e dar sua vida por Cristo. Com o tempo, fui compreendendo algo. O preço que Deus me daria era bem maior do que eu poderia merecer. Ele me prometia cem vezes mais nesta vida e ainda a vida eterna. O que se pode comparar com a vida eterna? Quanto vale o céu? Quem pode comprar o céu? Ninguém pode compra-lo, mas todos nós o precisamos, pois todos queremos ser plenamente felizes e o céu é o lugar onde todos nossos desejos profundos de amar e ser amados serão realizados. Somente aí entendi que não se trata de questão de justiça, mas de necessidade e generosidade. Nós precisamos de Deus, desejamos ser plenamente felizes; mas só Deus pode nos dar isso. E, quem o busca com sinceridade, sempre o encontrará, ainda que seja ao final da sua vida. Agradeçamos a Deus pela sua generosidade e pelo grande amor que Ele tem por cada um de nós.

Existe mais alegria no céu por um pecador que se converte que por noventa e nove que não precisam de conversão. Alegremo-nos com Deus e peçamos-lhe todas as graças necessárias para que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Deus sabe quanto precisamos d’Ele. Ele nunca desiste de nós; nunca desistamos de buscar o Seu rosto.

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