A morte assusta a todos nós. Diante dela, tomamos consciência de nossa fragilidade e, sem fé, podemos facilmente ser acometidos por incertezas, dúvidas e mal estar.

Muitas vezes, para fugir desse tema, dizemos que ainda nos falta muito tempo para esse dia, que não nos devemos preocupar com isso e, quando alguém nos lembra de nosso destino comum e inevitável, sempre tentamos dar um jeito de mudar de assunto.

Na verdade, o que precisamos fazer é entender o verdadeiro sentido da morte. Para isso, seguem alguns conselhos, que nos darão uma visão cristã desse acontecimento e uma ajuda para viver o luto em paz e com sabedoria.

1. Recorrer aos Sacramentos da Igreja

Ao se aproximar o momento de nossa partida deste mundo, devemos nos preparar, procurando livrar a nossa alma do pecado e de outros fardos que impedem a nossa união com Deus. Por isso, é muito importante receber a Unção dos Enfermos e, se possível, os sacramentos da Confissão e da Comunhão. Assim, quando a morte chegar, mais do que uma despedida, será ela um encontro com Cristo, que, como Bom Pastor, acompanha as Suas ovelhas na passagem para a vida eterna.

Se um ente querido ou um vizinho se encontra em perigo de morte – ou por velhice ou por alguma doença –, será de grande ajuda procurar ou avisar um sacerdote próximo para que visite o enfermo e este possa partir na graça de Deus. Não se pode deixar de chamar o padre por receio de que a sua visita passe uma “impressão errada” ou “apresse”, por assim dizer, a morte da pessoa. A assistência espiritual do sacerdote é de grande conforto para todas as almas, seja qual for o seu destino. Na verdade, seria um grande mal que deixássemos de recorrer à Igreja nessas horas, pois estaríamos nos descuidando do bem mais valioso que possuimos: a nossa própria alma.

Por isso, lembremo-nos também de buscar viver sempre em comunhão com o Senhor. Cumpramos os Seus mandamentos e recebamos com frequência os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, fazendo isso por amor a nosso Deus e considerando que a morte pode chegar quando menos esperamos.

2. Compreender que a morte nos liberta e nos faz entrar na vida eterna

“Intérprete autêntico das afirmações da Sagrada Escritura e da Tradição, o Magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus Criador” [1]. Porém, quando Se fez homem para a nossa salvação, o Verbo de Deus experimentou em Sua própria carne a realidade dolorosa da morte, a fim de mudar em bênção o que era condenação..

A partir da Cruz e Ressurreição de Nosso Senhor, portanto, tudo muda de figura. A morte não é mais a triste descida do ser humano à mansão dos mortos, mas a entrada na vida eterna. Muitos protestantes, ao interpretar as Escrituras individualmente, terminam acreditando que as almas depois da morte ficam inconscientes e caem numa espécie de “sono” inconsciente. Esquecem-se que Jesus prometeu o Céu ao bom ladrão no mesmo dia em que este morreu (cf. Lc 23, 43), e que “está determinado que os homens morram uma só vez e depois vem o julgamento” (Hb 9, 27).

A Igreja, em conformidade com o testemunho das Escrituras e com o ensinamento dos primeiros cristãos [2], lembra que, na verdade, a nossa alma parte para o encontro com Deus imediatamente após a nossa morte corporal. Por isso, nós devemos vivê-la compreendendo que um ciclo terreno termina e se inicia o tempo da glória, ao lado de Deus e de Sua corte celestial. “Eu sou a ressurreição e a vida”, disse Jesus. “Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11, 25-26).

3. Conservar com amor e alegria a lembrança daqueles que partiram

Ainda que não estejam mais fisicamente conosco, todas as lições e momentos compartilhados com os nossos entes queridos vivem em nossos corações. Honremos sempre sua memória como um inestimável tesouro que nos acompanhará em nossa vida.

Mesmo que nos doa que alguém amado tenha partido e sintamos um vazio por sua perda, deve-se evitar cair em tristezas prolongadas. Primeiro, porque somos confortados pela esperança cristã de que quem creu e viveu no Senhor tem a vida eterna com Ele. Segundo, porque sabemos que quem se foi não gostaria de ver-nos assim. Se nos é difícil levantar-nos do luto, busquemos a ajuda de um sacerdote ou diretor espiritual para superar a dor. Será muito útil.

Também pode ser uma boa obra de caridade doar algumas (se não todas) roupas ou objetos que a pessoa usou a um abrigo ou casa de beneficência. Além de ser um sadio exercício de desapego, que nos pode ajudar a superar o luto causado pela perda, colocamos em prática a terceira obra de misericórdia temporal, que é “vestir os nus”.

4. Auxiliar as famílias que perderam seus entes queridos

Quando perdem alguém, as pessoas geralmente se refugiam na solidão, no silêncio e no pranto, podendo experimentar falta de apetite e estresse ou mesmo entrar em depressão.

Como cristãos, o nosso dever é acompanhar, aconselhar e ajudar aqueles que perderam os seus entes queridos, fazendo com que se recordem deles com alegria e incentivando-os a ver na morte não um fim, mas uma permanência no amor de Deus, que tem preparado um lugar para cada um de nós.

“Consolar os aflitos” também é uma obra de misericórdia, recomendada pelas próprias Escrituras: “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12, 15). Além disso, a solidariedade com quem sofre é um grande remédio para aliviar também as nossas dores. Quando nos voltamos às necessidades dos outros, somos capazes de ver a mão de Deus que levanta o próximo por meio de nós. Quem, como o bom samaritano (cf. Lc 10, 30-37), cuida das misérias alheias, tem suas próprias misérias pensadas por Nosso Senhor, que é o Bom Samaritano por excelência.

5. Evitar brigas por causa de dinheiro ou herança

É possível que a pessoa falecida tenha deixado alguns bens que tocam aos filhos e parentes mais próximos. Tudo tem seu tempo apropriado e é lamentável ver famílias que, antes mesmo da morte da pessoa, brigam por causa de bens materiais; irmãos que, ao invés de se unirem, nem sequer conversam mais um com o outro, por conta de interesses.

Ante a tentação de acirrar os ânimos por causa de heranças terrenas, vale ter diante dos olhos a única herança imperecível, a qual – como ensina São Gregório Magno – “não diminui com o crescimento do número de herdeiros”. “Se ressuscitastes com Cristo – exorta São Paulo –, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus; cuidai das coisas do alto, não do que é da terra” (Cl 3, 1-2).

6. Evitar cair em práticas espíritas ou supersticiosas para mitigar a dor

Algumas empresas, no afã de lucrar com a dor alheia, oferecem rituais funerários absolutamente incompatíveis com a fé cristã. São práticas como semear uma árvore com os restos mortais da pessoa, jogar as suas cinzas em um lago para perpetuar a sua memória, ou mesmo domesticar um animalzinho com o nome do parente falecido, relacionando-o com a crença na reencarnação.

O Catecismo da Igreja Católica é bem claro ao ensinar que não existe reencarnação:

“A morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo de graça e misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar a nossa vida sobre a terra, que é só uma, não voltaremos a outras vidas terrenas. ‘Os homens morrem uma só vez’ (Hb 9, 27). Não existe ‘reencarnação’ depois da morte.” [3]

Por isso, não é nada aconselhável, a quem perdeu os seus entes queridos, que saia à procura de “comunicações do além” em casas espíritas ou ambientes parecidos. A dor não nos pode fazer desviar de nossa fé! Nossa confiança deve estar sempre colocada em Deus e em Suas promessas. É a Sua graça que nos ajudará a continuar, não as falsas mensagens de doutrinas abertamente contrárias à doutrina de Cristo.

7. Rezar pelo descanso eterno daqueles que partiram

A maior obra de amor que podemos realizar por nossos entes queridos é oferecer orações por eles. Como diz Santa Teresinha do Menino Jesus, “pensar em uma pessoa que se ama é rezar por ela” [4].

No Brasil, há o piedoso costume de se honrar as almas dos falecidos com a conhecida “Missa de sétimo dia”. O Catecismo ensina que, “desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus” [5]. Por isso, não importa o quanto tempo tenha passado, é sempre recomendado oferecer muitas Missas pelas almas dos fiéis falecidos, além de Terços, jejuns e toda espécie de orações.

Também não se pode esquecer o motivo de todas essas práticas. Os católicos rezam por seus mortos porque acreditam na verdade do purgatório. A Igreja não é composta apenas pelos cristãos que vivem neste mundo (Igreja militante), mas está unida aos santos, no Céu (Igreja triunfante), e às almas que se purificam de seus pecados, no purgatório (Igreja padecente). Por essa união mística – que a Igreja chama de “comunhão dos santos” –, as nossas preces e súplicas pelos falecidos têm valor diante de Deus e fazem entrar no Céu aqueles que amamos e que partiram desta vida.

Um dia, será a nossa vez de nos juntarmos à corte celeste e às almas de nossos entes queridos. Por isso, estejamos sempre preparados para a nossa morte e para nosso encontro definitivo com Deus. É verdade que ninguém pode ter certeza absoluta da própria salvação [6]. Se, porém, vivermos uma vida de virtudes e de oração, ao fim de nossas existências poderemos dizer, com São Paulo: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Desde agora, está reservada para mim a coroa da justiça que o Senhor, o juiz justo, me dará naquele dia, não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua manifestação” (2 Tm 4, 6-8).

Referências

  1. Catecismo da Igreja Católica, 1008.
  2. Cf. Papa São Clemente, Primeira Carta aos Coríntios, 56 (PG 1, 321-324); Santo Inácio de Antioquia, Carta aos Tralianos, 13 (PG 5, 799); São Policarpo de Esmirna, Carta aos Filipenses, 9 (PG 5, 1019).Moralia in Iob, V, 86 (PL 75, 729).
  3. Catecismo da Igreja Católica, 1013.
  4. Cartas, 225 (2 de maio de 1897).
  5. Catecismo da Igreja Católica, 1032.
  6. Cf. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 112, a. 5.

FONTE: Pe. Paulo Ricardo

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