(Mc 13,33-37. Advento B, I) Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

O século IX foi um tempo de grandes batalhas marítimas no sul da Itália. Talvez, a mais conhecida deste tempo foi a batalha de Ostia de 849. Os ducados de Amalfi, Gaeta, Nápoles e Sorrento se uniram numa liga católica contra a frota sarracena. Os muçulmanos já dominavam o Norte da África, a Espanha e o extremo sul da Itália e agora eles queriam tomar de vez Roma, o centro da cristandade. Diante da ameaça, o mesmo papa, Leão IV, foi ao encontro dos defensores católicos para dar-lhes a bênção e pediu a todos os fiéis que
rezassem por esta intenção, pois o inimigo vinha em número superior, quase o dobro.

A batalha foi se preparando por muito tempo até o dia em que os muçulmanos quiseram atacar; durou todo o dia. Não foi nada fácil, pois, apesar do número superior, os cristãos eram bons navais. Porém, iam se consumindo. Até que no final da tarde, veio uma grande tempestade que fez com que os navios sarracenos chocassem um contra o outro. Era a festa da Assunção de Nossa Senhora. Foi por favor divino que os invasores não venceram a batalha e conquistaram Roma.

Sigamos nossa viagem no tempo.

Se já voltamos mais de mil anos, voltemos ainda alguns anos mais. Pelo VII século antes de Cristo, o povo hebreu estava exilado na Babilônia. Já se tinha passado um bom tempo
que viviam como escravos. Como já não tinham mais o templo para irem rezar, começaram a se reunir nas casas para estudarem juntos a Torah. Ao lerem as promessas de Deus feitas aos patriarcas e ao rei David, muitos se perguntavam se ainda Deus iria reinar em Jerusalém. Porém tinha algo que os preocupava ainda mais. Muitos conheciam a Lei, mas não conseguiam vivê-la, pois seus corações eram duros. Como se podia tirar de cima este monte de pecados, como seria possível amar e ser santos como Deus os pedia? Ah, se um deus baixasse e transformasse nossa vida.

Diante disso, o profeta Isaías clama a Deus pela vinda do Messias: “Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho; que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, ela faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo” (Is 45, 8). Nossa situação hoje não está diferente. Basta escutar a música “Magico de Oz” dos Racionais-MC. Deus, que já tinha vindo para libertar da escravidão do Egito e constituir um povo para si, vem novamente para uma libertação ainda maior; vem
para nos libertar desta escravidão interior do nosso egoísmo, do pecado que nos impede amar de verdade. É isso que nós pedimos à Deus no Advento. Que Ele venha! Inspirado neste desejo de salvação, a oração se faz clamor e música no cântico Rorate Caeli: rorate Caeli desúper et nubes plúant justum (Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo). Conheçamos este canto e sintonizemos nosso coração clamando pelo Salvador. Você pode acompanhar abaixo:

“Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo”

Não vos ireis, Senhor, nem vos lembreis da iniquidade.
Eis que a cidade do Santuário ficou deserta:
Sião tornou-se deserta; Jerusalém está desolada.
A casa da vossa santificação e da vossa glória,
Onde os nossos pais vos louvaram.

Pecamos e nos tornamos como os imundos,
E caímos, todos, como folhas.

E as nossas iniquidades, como um vento, nos dispersaram.

Escondestes de nós o vosso rosto
E nos esmagastes pela mão das nossas iniquidades.

Olhai, ó Senhor, para a aflição do vosso povo,
E enviai Aquele que estais para enviar!
Enviai o Cordeiro dominador da terra
Da pedra do deserto ao monte da filha de Sião
Para que Ele retire o jugo do nosso cativeiro.

[A última estrofe é a resposta de Deus a esta prece (cf. Is 40,1s)]

Consola-te, consola-te, povo meu,
Em breve há de vir a tua salvação!
Por que te consomes na tristeza, se a dor te renovou?
Eu te salvarei, não tenhas medo!
Porque Eu sou o Senhor, teu Deus,
o Santo de Israel, o teu Redentor.”

“Em breve há de vir a tua salvação! Eu te salvarei, não tenhas medo! Porque Eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Redentor.” (Isaías, 43) Em Jesus, Deus salva, Deus realiza esta salvação tão esperada. Mas, para recebermos esta salvação, é necessário que acolhamos este salvador no nosso coração e em toda nossa vida. Por isso o Evangelho de hoje ensina a vigiar e a orar. Velai porque não sabeis quando chega o dono da casa. Não sabeis quando chegará este Salvador que tanto desejas. A condição para poder vigiar é a oração que dilata nosso coração para querer receber um Salvador: Mostrai Senhor o Vosso rosto e seremos salvos. Orar significa também silenciar os rumores e preocupações diárias para poder escutar a voz de Deus, para poder ter nosso olhar firme no céu, nossa meta, a vida verdadeira.

Mas por que Jesus nos convida a velar? A nossa vida se assemelha a um sonho que se acabará diante da aurora do dia; esta vida que vivemos acabará um dia, mas não será o fim. Pelo contrário, será o início da vida verdadeira, a vida sem fim. A nossa morte não será somente uma passagem, mas um verdadeiro despertar para a vida eterna. Nossa vida aqui na terra é como um sonho por sua brevidade, pela sua rotina, pela sua fantasia e irrealidade. Em quanta vaidade estamos presos, sendo que um dia, tudo isso não contará
nada? A diferença do sonho, nossa vida leva o peso da responsabilidade pelos nossos atos. No final desta vida seremos examinados pelo amor com que vivemos, pelo bem que tenhamos feito, não por quanto dinheiro tivemos no banco ou por quantos diplomas e prêmios tenhamos recebido. Velai! Para velar é necessário estar acordado. Já é tempo de acordar (Rm 13,11); desperta e Cristo será tua luz (Ef 5,14). Vigiar requer algo mais que estar acordado para a vida; vigiar implica estar atento.

Estar atento para não perder o foco onde queremos chegar, o céu é nossa meta, e não desviar a atenção ante tantas coisas, distrações e dificuldades. Se fala que quando o Titanic estava em alto mar, a guarda naval avisou que tinham alguns icebergs na rota ordinária de navegação; porém, na noite em que chocaram, estavam em festa, distraídos. É necessário estar prontos para quando o Senhor venha ao nosso encontro e nós não sabemos nem o dia nem a hora. Vigiar é viver prontos parapartir para esta grande viagem rumo a vida eterna.

Feliz o servo que seu senhor encontrar assim, pois colocará a frente de todos os seus bens. Se sou fiel no pouco, Ele me confiará mais. Vigiemos e oremos; sobretudo, desejemos que Jesus, nosso Salvador, alcance nossa vida e a transforme. Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo.

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