Quem imaginaria que Deus, em seu infinito Amor, viria ao mundo como uma criança? Quem o imaginaria pobre, sem hospedagem, nascendo em uma manjedoura, rodeado de animais e na solidão de uma noite fresca de um país cálido? Os acontecimentos de Belém tocam realmente o que podemos chamar de loucura de Deus.
O mundo quis, de um modo ou de outro, ocultar Belém. Seja banalizando o nascimento de Jesus como uma mera fábula, ou envolvendo-o de luzes e confeitos, transformando-o em uma ocasião social. Não! Em Belém, aconteceu a manifestação máxima do Amor. “Ele, estando na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como deus, mas despojou-se, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem” (Fil 2, 6s). Deus se encarnou, e como homem, tocou a vida humana para salvá-la e redimi-la.
Só entende Belém quem se rebaixa
De igual modo, o homem precisa inclinar-se de sua condição para reler os fatos na ótica do Amor de Deus. É impossível compreender a grandeza do Natal sem que se tenha um coração humilde.
A Basílica de Belém deixa isso evidente logo na sua entrada. Durante o tempo das cruzadas não era estranho que soldados muçulmanos entrassem na basílica em seus cavalos, brandindo suas espadas e atacando fiéis e sacerdotes. Por isso, a grande porta da basílica foi tapada para impedi-los, deixando apenas uma abertura de pouco mais de um metro.
Nesse sentido, a porta da Basílica encerra um belo simbolismo. Só pode entrar por ela quem se abaixa, ou seja, quem deixa de fora o orgulho do racionalismo e a superficial piedade dos confeitos. É a porta da simplicidade. “Se não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt. 18,3).
Uma noite de silêncio e luz
Uma palavra que marca os acontecimentos de Belém é simplicidade. A solidão de Maria, a dificuldade de conseguir hospedagem, a pobreza, o silêncio da noite. É provável que José tenha acendido uma fogueira fora da gruta, como faria qualquer um que se prepara para passar uma noite na intempérie. Pode ser que, naquela situação, José tenha se questionado sobre ter empreendido aquela viagem com Maria.
Homens estavam rigorosamente proibidos de estar presentes no quarto da parturiente. José poderia estar inquieto, pode ter rezado e perguntado a Maria, de vez em quando, se precisava de algo, até, subitamente, escutar o choro do bebê.
Ai estava Jesus, uma pequena criança. Maria e José olhavam-no com admiração e sem compreender muita coisa. Era esse o menino esperado por séculos. Era esse o Messias que vinha salvar o mundo inteiro. Adoravam-no, mas sem chegar a entender o que tudo isso encerrava.
Era Deus onipotente, mas parecia tão indefeso. Era Deus onisciente e nem sabia encontrar o seio de sua mãe para se alimentar. Era a Vida e se não recebesse proteção, morreria naquela mesma noite. Tinha criado o sol, mas naquele momento tremia de frio. Tudo isso era realmente um mistério.
O Carimbo de Belém
Definitivamente, nossos caminhos não são os caminhos de Deus (cf. Is 55,8). Deus pensa de um outro jeito e aceitar os planos de Dele pode ser, para alguns, o maior desafio da vida. Afinal, Deus sabe o que faz e nós sabemos que o faz com infinito amor, por isso, só a fé e a confiança na sua sabedoria podem nos abrir para a fonte de graças que é destinada a cada um de nós.
Todas as coisas de Deus levam o carimbo de Belém. Começam de jeito simples e discreto, mas crescem sem sabermos como, até chegar a dar fruto abundante. Confie, seja dócil aos caminhos de Deus. Talvez as coisas não vão acontecer do jeito que você pensou, mas acredite, o jeito de Deus será muito melhor. Essa é uma das grandes lições que aprendemos de Belém.