Línguas de fogo, a língua de Deus!

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(Jo 7, 37-39. Pentecoste)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

Celebramos hoje a festa da primeira manifestação pública da Igreja como Igreja, como grupo daqueles que creem em Cristo, Filho de Deus feito homem por amor a nós, e vivem do seu mesmo espírito. Em pentecoste, os discípulos se transformam em apóstolos; já tinham sido enviados a testemunhar a Boa Nova de Jesus, mas é neste momento que recebem a força, a graça para testemunhar sem medo o que viram e ouviram, tudo o que aprenderam com Jesus.

Doze anos atrás, na festa de pentecoste de 2016, o papa Bento XVI teve um encontro no Vaticano com as novas congregações, comunidades de vida consagrada e sociedades de vida apostólica. Estimaram mais de 300 mil pessoas naquele encontro. Alguns deram testemunho de como Deus guiava suas vidas e missões. Pessoas de todos os lugares do mundo; culturas diversas, idiomas diversos, carismas diversos…, mas todos falavam da mesma coisa e a mesma língua do amor de Deus. Muitos sãos os dons, mas é o mesmo espírito que inspira e guia a todos.

O que significa pentecoste? Como podemos saber que o Espírito Santo está presente em mim? Todos nós recebemos o mesmo espírito de Jesus no dia do nosso batismo com uma sementinha. Este dom foi fortificado no dia da nossa confirmação, no dia da crisma, dando-nos a graça de ser testemunhas de Cristo com toda a nossa vida. Pentecoste significa uma especial efusão do Espírito Santo em nossos corações. Muitas pessoas escutam falar do Espírito Santo e pensam diretamente em alguns dos dons especiais que ele dá a alguns para edificar o Corpo Místico de Cristo, a Igreja. Não nos devemos confundir. O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado (Rom 5,5), dizia S. Paulo. Deus pode nos conceder esta graça em qualquer momento, mesmo no meio de um momento de dificuldades e provações.  O primeiro fruto na alma daquele que recebeu esta especial efusão do Espírito Santo é o amor, é o sentir-se profundamente amado por Deus de modo pessoal, único. Não se trata de um sentimento que hoje temos e amanhã já passou; se trata de uma marca de fogo no nosso coração, algo que já não se pode apagar, algo que parece vivo, pois nos impulsiona a falar para todos deste amor de Deus sem medos, com audácia, convencimento e paixão.

Este amor de Deus leva consigo a graça do perdão e da compreensão com outros como manifestação do grande amor e da paciência que Deus tem conosco; este amor leva consigo o dom da paz e do gozo de ser amado por Deus justamente assim como nós somos, frágeis e pecadores; esta paz vem da honestidade diante da verdade daquilo que somos, deixando que a luz de Deus ilumine todas nossas escuridões. Assim exultava S. Paulo em dizer: nos amou quando ainda éramos pecadores. Se seguimos fugindo da luz, da verdade sobre nós mesmos ou se seguimos fugindo ou até justificando nossas escuridões, é porque o Espírito de Deus não está em nós. Este amor leva consigo o dom da bondade, da mansidão, da longanimidade e benignidade, pois foi deste modo que Deus nos tratou e nos trata. Como pagarei ao Senhor todo o bem que fez? Amando a Deus como Ele mesmo nos ensinou, servindo-lhe nos nossos irmãos. Este amor leva consigo o dom do domínio de si e da fidelidade a este amor de Deus recebido, pois não busca outra coisa nesta vida que responder este amor de Deus com o nosso amor.

Estas línguas “como de fogo” que desceram e pousaram sobre os apóstolos não falavam outra coisa que deste amor de Deus. Os apóstolos começaram a falar em vários idiomas, mas todos entendiam, cada um na sua língua. Quando proclamamos as maravilhas de Deus em nossas vidas, falamos a língua do amor, da doação, do serviço e, independente dos idiomas dos outros, todos vão compreender, pois o amor gera a unidade e o entendimento. Ao contrário falamos somente de nós mesmos, quando buscamos somente nosso próprio interesse, a vontade de poder, ninguém entende e não existe a comunicação, o diálogo. Uma comunicação sem referência a Deus, sem amor, onde existe somente nosso egoísmo, é uma comunicação entre estrangeiros que não se entendem, pois cada um fala somente o seu próprio idioma; isso não é fecundo, pois não gera comunhão. Acaba tudo no vazio, na solidão e no isolamento.

A lei da comunicação é o amor. Mais importante que aquilo que vou transmitir, é como posso fazer-me compreensível ao outro; muitas vezes, implicará abaixar-se ao nível do outro, tirar obstáculos, silenciar ruídos exteriores para que minha mensagem chegue ao outro no modo que ele possa compreender. Nós podemos escolher onde queremos viver: em Babel, lugar onde cada um fala o seu idioma porque está interessado somente em construir seu próprio nome, poder, fama, em se afirmar, ou em Pentecoste, o lugar onde se afirma o outro, o amor que Deus nos tem.

Nós também recebemos esta efusão do Espírito Santo como os apóstolos naquele dia de pentecoste? Qual é o espírito que temos dentro do nosso coração? Para confirmar, basta ver que idioma falamos. Falamos o idioma do amor ou do egoísmo. E ainda que tenhamos recebido dons especiais, como diz s. Paulo, se não tenho amor, de nada adianta (cf I Cor 13). Quem experimentou o amor de Deus pessoalmente, não consegue guardar só para si. Ai de mim se não evangelizar! O desejo de comunicar o amor de Deus a todas as pessoas é outro sinal de que vivemos pentecoste. Neste tempo em que o Papa nos convida a ser uma Igreja em saída, a ser discípulos e missionários, a viver nossa fé de modo autêntico dando testemunho desta fé com a nossa vida, precisamos mais que nunca desta especial efusão do Espírito Santo. Peçamos a Deus esta graça, por intercessão da Mãe de Deus.

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