(Jo 12,20-33)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

“O que mais me impressiona em Cristo é seu amor e abandono confiado à Vontade de seu Pai.”

Neste tempo da quaresma, estivemos vendo o porquê Cristo se encarnou. Veio ao mundo para nos salvar, para nos revelar Seu Pai e o caminho que leva a Ele, para ser nosso modelo neste caminhar, para fazer de nós filhos como Ele é Filho. Ser e viver como filho.

Alguns anos atrás, foi editado um livro intitulado “O espião do Vaticano” que narra a história de um sacerdote americano que passou muito tempo na antiga União Soviética durante a guerra fria. Era de origem polonesa e sentiu no seu coração este desejo de levar o Evangelho de Cristo a este povo oprimido pelo comunismo ateu. Depois de anos de formação e preparação, foi para o lugar tão desejado para fazer realidade este sonho. Depois de algum tempo, as coisas pioraram e a perseguição contra os católicos ficou mais forte. Sua comunidade precisou sair da antiga URSS. Mas, padre Walter quis continuar. Se registrou como lenhador para ir aos bosques da Ucrânia como um trabalhador a mais, vendo como uma oportunidade de lançar as sementes do Evangelho silenciosamente. O trabalho era duro e a comida e o salário eram poucos; mas não importava, ele seguia com o coração ardendo por levar a Jesus àqueles homens. Com o tempo, foi se unindo a outros católicos para rezar e oferecer os sacramentos. Um dia descobriram quem ele realmente era. Começaram as dificuldades, privações, interrogatórios, prisões. Ficou muitos anos nesta situação sendo levado de um lugar a outro, pois pensavam que era um “espião do Vaticano”.

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Passou muitos momentos, anos, só, preso, sem ninguém para levar a Palavra de Deus. Ele questionava muito a Deus porque o tinha trazido até aquela terra tão distante onde ele não poderia fazer nada. Foram tempos difíceis externa e sobretudo internamente. Sua fé, confiança e amor foram provadas. Pouco a pouco, foi aceitando que os Planos de Deus não eram os seus planos; sim foi Deus quem o tinha trazido até aquela terra fria para anunciar o calor do seu amor. Porém, o modo como Deus tinha planejado esta missão era diverso do seu. Com o tempo, foi vendo que Deus pedia somente que confiasse e se abandonasse nas suas mãos fazendo aquilo que estava ao seu alcance. A graça, a conversão dos corações não depende tanto daquilo que os homens fazem, mas é principalmente obra de Deus. E Deus tem seus modos de obrar. Em um momento, Deus lhe pedia uma ação apostólica, estar no meio das pessoas falando dele, outro momento, pedia que oferecesse sua limitação, sua prisão e intercedesse por aquelas mesmas pessoas para que a graça divina chegasse a todas elas. E assim o fez padre Walter.

Nós acreditamos em Deus, O amamos e buscamos viver em amizade com Ele. E assim, esta amizade crescendo cada dia. Chega um momento da vida em que Deus quer dar um passo a mais nesta nossa amizade, quer dar mais de si e dos seus dons para que experimentemos mais o seu amor. Por isso, ele pede o volante da nossa vida para que Ele assuma o controle e a direção. Somente nos pede um abandono confiante onde coloquemos tudo o que está da nossa parte para colaborar com seu plano. Ao aceitarmos este convite de Deus, no início, é muito bonito. Precisamos trabalhar e suar a camisa por Ele, mas vamos vendo que isso dá fruto e tem muito sentido. Porém chega um momento em que parece que uma nuvem carregada vem sobre nós e tudo fica escuro. É a morte – a renúncia, o sacrifício, as contrariedades – que bate à nossa porta. “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice.” E quanto mais rezamos, parece que as coisas ficam mais difíceis ainda. E, como Jesus, dirigimos nosso coração ao Pai outra vez, agora com súplicas, gemidos, lágrimas e até suor de sangue. “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice.” Deus Pai tem um plano maior que o nosso e métodos muito mais eficazes: “se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica só, mas se morre, produz muitos frutos.” Deus quer que deixemos nossas seguranças para que Ele seja nossa única segurança, nossa única fonte de vida, nosso Deus.

Cristo foi escutado pela sua obediência. E não foi fácil obedecer; Cristo aprendeu obedecer sofrendo, morrendo, abandonando-se. Mas foi graças a esta obediência, graças a este abandono confiado, que ele foi glorificado: “quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.” Cristo atrai todos a si pela confiança amorosa ao seu Pai e por este amor confiante a cada homem. É necessário cair na terra e morrer para dar fruto; é necessário que Deus tome controle da nossa vida para que Ele vença em nós, para que Jesus vença o pecado, esta desconfiança no seu amor, este apego a nossa vida, porque Ele quer nos dar uma vida nova, sua vida, a vida de filhos.

Este grão de trigo que cai na terra e morre é o mesmo Jesus por meio da sua paixão, morte e ressurreição. Será que Ele tinha pregado o Evangelho a todos os homens, será que os apóstolos já estavam prontos para a missão… Os fatos mostravam o contrário. Mas o Pai tinha outros métodos. Frutos desta entrega de Cristo foi a Igreja. Pelo batismo entramos na Igreja participando da mesma vida de Cristo morrendo ao pecado para viver a sua mesma vida, formar com Ele um só corpo participando do seu mesmo Espírito. Mas é necessário cair na terra e morrer para poder continuar na vida, para ter uma vida nova, para dar fruto. É neste sentido que Jesus fala que quem quiser guardar a própria vida, perderá. Se o grão de trigo cair na terra e não morrer para dar fruto, ou será comido por algum pássaro, ou secará pelo sol, ou apodrecerá na superfície, mas sem poder continuar na vida. O homem precisa uma transformação que vem da fé, do batismo, da cruz; uma transformação que muda seu modo egoísta, calculador, apegado para uma vida de acolhida, abandono e união com Deus. Não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Muitas vezes nos resistimos a entregar toda nossa vida a Deus para que Ele tome o controle; por isso não nos abandonamos e não experimentamos sua presença, sua ação, sua vida em nossa vida.

Foi pela desconfiança do amor de Deus que a desobediência a Deus, o pecado, e com ele a mesma morte entrou no mundo quebrando esta harmonia que existia no nosso coração. Cristo nos ensina e nos dá o remédio oferecendo a sua mesma vida de filho. Não era bom quando éramos pequenos e nos sentíamos amados e protegidos por nossos pais? Deus Pai quer que experimentemos e vivamos esta vida de filho!

Para mais homilias de Pe. Mairon Gavlik, L.C., entre aqui.

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