Por: Eline Carrano e Aline Paggy

Muitas vezes os relacionamentos são um grande presente do céu. Deus, em Sua bondade infinita, nos agracia com pessoas que nos marcam de maneiras profundas e nos mostram um novo mundo a ser explorado. É bonito ver casais mostrando como suas histórias de vida, opiniões, percepções e tantos outros aspectos que mudaram ao conhecer aquela determinada pessoa e como são felizes em poder partilhar uma trajetória que gerará frutos. Mas, como nem tudo são flores, alguns acabam terminando esses relacionamentos e entendo que nem sempre tem um “feliz para sempre” como resposta final. Muita gente encara isso como algo unicamente negativo, mas talvez a coisa não seja tão terrível assim como se pensa.

Claro, é impossível não fazer a pergunta: Por que vivemos esses relacionamentos, se era para não dar certo? Pois bem, esse é o grande valor do período do namoro. Conhecer o outro não é uma tarefa simples e é o fator decisivo para o começo de uma verdadeira Igreja Doméstica. Como cristãos, devemos antes de tudo observar se o outro ama à Deus verdadeiramente, dentro das suas particularidades. E se talvez essa pessoa ainda não descobriu os caminhos para se aprofundar na fé ou ainda tem esse assunto meio abstrato na vida, se há uma abertura para isso e se ele(a) se permitiria buscar a formação e se permitir conhecer verdadeiramente a Deus. Há um caminho de santidade que irá ser partilhado com essa pessoa que escolhemos para fazer parte de nossos dias e a fase do namoro mostra como nossos futuros cônjuges optaram por encarar esse caminho. Desde sua rotina de oração, seu tratamento com o sagrado, seus testemunhos de fé, o cuidado com sua família… tudo isso identifica quem está ao nosso lado e irá envelhecer conosco. A partir daí, é nosso papel colocar na balança (e em oração) se esse é o ser que eu sonhei para mim e que é a vontade sincera de Deus para a minha história.

É preciso, antes de tudo, entender que o maior amor vem em primeiro lugar de Deus. Tudo depois disso é reflexo desse amor e dessa misericórdia cotidiana que recebemos. Se eu não consigo praticar junto do outro as virtudes do Espírito, manter firme meus pilares morais e espirituais, se o outro me priva de ser verdadeiramente quem eu sou- qualidades e defeitos-, é hora de repensar esse relacionamento. Não é fácil desistir de uma história que se tornou a zona de conforto, que parece ser tão segura e ainda carrega tanto sentimento. Mas muitas vezes é necessário olhar de fora e reconhecer os pontos de crise, que se não tiverem capacidade de melhora ou mudança, acabam minando um futuro matrimônio e sustentando relações doentes e falhas.

Depois de se permitir encarar determinadas verdades que vão se revelando ao decorrer do tempo, temos que praticar profundamente o amor próprio para reconhecer quando algo já não realiza, mas sim, danifica. É preciso se olhar como Deus te olha, para reconhecer quando é hora de mudar o rumo da sua vida ou insistir nas escolhas já feitas- e nenhuma dessas alternativas deve ser vista como fracasso, jamais. Muitos vêem, no amor, uma desculpa para permitir que o outro te machuque de maneiras que podem ser irreversíveis ou de se manter em algo que é seguro e estável, por medo de arriscar. Há uma distorção de valores na sociedade de hoje que confunde e acaba envenenando o que era para ser um presente divino. Relacionamentos não foram feitos para serem gaiolas ou contratos restritivos, mas sim, um exercício de liberdade em se comprometer verdadeiramente com alguém que desperta em nós o sentimento de entrega e real caridade. Se em algum momento isso se torna uma tortura, nos causa uma sensação de sufocamento ou até mesmo de medo- e esse medo é diverso, seja por violência ou medo da própria solidão- é porque as coisas já não estão em seus devidos lugares.

Para conseguir discernir tudo isso e encarar os resultados dessas decisões- seja manter esses relacionamentos e lutar por sua melhora ou simplesmente assumir que é hora de seguir um rumo diferente- temos o auxílio de Deus, obviamente, mas também de nossos diretores espirituais, da Igreja que nos acolhe com casais experientes que podem auxiliar nesses momentos. O namoro é a grande catequese do matrimônio e deveria ser visto assim por todos, já que nesse período o casal deveria se formar profundamente e saber que a maleabilidade em se moldar e se aperfeiçoar pelo outro é um exercício árduo e que os acompanhará por longos anos. São João Paulo II deixa um conselho excelente ao dizer que “a oração reforça a estabilidade e a solidez espiritual da família, ajudando a fazer com que esta participe da fortaleza de Deus.” A família começa nesse período de conhecimento e discernimento. Aos planos do Pai, tudo está organizado, mas é preciso que façamos nossa parte, seja seguindo adiante numa relação ou findando-a para que possamos viver de acordo com o que o céu nos reserva.

Muitas vezes acontece de nos relacionarmos com pessoas que não nos acompanharão pelo resto da vida. Mas com certeza elas deixaram grandes lições e irão sempre fazer parte da nossa história de alguma maneira. Um amor que não foi adiante, uma relação que não teve um resultado esperado, não devem ser vistos como um erro do passado ou algo estritamente ruim. As experiências que nos permitimos viver também nos constituem. Mas precisamos de caridade e amor para agradecer esses momentos e usá-los como exemplo para o futuro que Deus nos reserva. Já diria São Paulo Apóstolo: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Eclesiastes 3:1

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