(Mc 1,1-8. Advento B, II)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

Há alguns anos, existia uma ilha deserta que se tornou destino de doentes com lepra. A ilha deixou de ser inóspita, mas continuava deserta. Os doentes eram enviados para Molocai, recebiam algumas previsões, mas eram abandonados à própria sorte. Algumas vezes por ano eram visitados para receber alimentos e atendimentos médicos, mas ninguém cuidava deles; entre eles mesmos reinava uma profunda solidão. Certo dia,
perguntaram para um grupo de padres, quem gostaria de levar a cura pastoral daquelas pessoas indo alguns dias por mês. Um missionário, vindo de longe, aceitou o pedido, não para visitar aqueles doentes, mas para viver com eles e dar uma nova esperança àqueles que viviam abandonados.

Passou toda sua vida ali, reorganizou a cidade, buscou dar-lhes uma melhor vida até o dia em que ele mesmo contraiu a lepra e faleceu. A primeira coisa que ele fez naquela ilha foi rezar e trabalhar por e com aquelas pessoas; elas já não estavam sós: “Vou enviar a tua frente o meu mensageiro que preparará o teu caminho.” Um terço do nosso planeta é um deserto sem condições de vida: sem água, sem alimento, sem proteção, frio e calor excessivos. O deserto é um lugar onde estás sozinho: Se precisas de ajuda, se um animal te ataca ou se estás agonizando, ninguém escuta teus gritos; se estás feliz ou triste, não tens ninguém com quem partilhar. Existe outro tipo de deserto no nosso mundo: O deserto interior. Ali reina uma profunda aridez, uma escassez de relações humanas, de amor, a solidão, a indiferença e o anonimato. Quantas pessoas vivem neste deserto?

Não são poucos os homens que não conseguem se desconectarem do trabalho, que entram no carro e o som se liga automaticamente, que não suportam estar sem TV, internet ou telefone, porque entram em desespero. Têm um horror ao vazio, a essa imensidão de areia, a essa falta de vida que levam dentro de si, têm medo de se encontrar com a própria realidade, com a falta de sentido, com a solidão. Qual é o centro da tua casa? O que tens no centro da sala de recepção? Uma TV? Conheci um lugar mais desenvolvido que o nosso Brasil, onde muitas casas não tinham TV. Não que eles não tinham condições ou
eram cegos, ou tinham projetores de vídeo. A questão é que os valores da casa eram outros: diálogo, comunicação, convivência, partilha, cultura, leitura. Sem uma boa comunicação não se pode ter um conhecimento profundo das pessoas, a confiança, a intimidade, o amor, a comunhão.

Se em uma casa de cinco pessoas, cada uma delas vive no seu mundo virtual como bolhas de sabão isoladas, sem encontro, sem acolhida e doação, esta casa se torna tão fria e deserta de amor como o Alasca. Esta é a razão porque se acabam as famílias, porque pessoas perdem a ilusão por viver, porque muitas pessoas tiram suas vidas. Foi em uma situação como esta de deserto que uma voz clamou: “Preparai os caminhos do Senhor. É Ele quem tira os pecados do mundo. Vos batizará com o Espírito Santo.” Onde tudo estava perdido, o profeta anuncia a vinda de Cristo. Por quanto tempo os judeus esperavam a libertação da Babilônia, o Messias? Quando a espera por algo tão desejado se prolonga, vem o cansaço, a incredulidade, a perca de esperança, a inércia; nada nos move mais porque parece impossível que algo possa mudar.

É justo neste momento que uma voz clama no deserto: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” Ele vos batizará com o Espírito Santo. João Batista morreu, mas Cristo e o Espírito Santo seguem vivos atuando na Igreja e querem vivificar os desertos dos nossos corações. O amor é a única chuva que pode parar a progressiva desertificação espiritual do nosso planeta. Deus quer que experimentemos seu grande amor por nós: tanto amou Deus ao mundo que enviou seu único Filho para que, todo aquele que acredite nele, não pereça, mas tenha vida eterna. Amor, vida, vida eterna; este é o anúncio do Natal: Deus veio até nós para mostrar quanto nos ama, para perdoar nossos pecados, para curar nossas feridas e nos dar um coração como o Seu, um coração de filho muito amado também capaz de amar gratuita e desinteressadamente, derramando sobre nós Seu Espírito de amor que nos faz clamar Pai. Nossas relações são frias, secas e estéreis porque nos falta amor, porque não estamos unidos à fonte da vida.

Consolai o meu povo. Terminaram seus trabalhos, sua culpa foi perdoada. O Senhor não tardará em cumprir Sua promessa. Deus quer que experimentemos Seu amor para sermos também nós mensageiros do Seu amor entre os homens. Saiamos ao encontro deste Deus que se faz tão pequeno para que ninguém possa ter medo e duvidar do Seu amor. Que a experiência do Seu amor nos ajude a sair ao encontro de todo irmão que sofre no corpo e no coração, especialmente na solidão. Às vezes não é necessário muito; basta um
coração cheio de amor, um coração sensível aos sofrimentos dos outros para responder com um sorriso, com um gesto, uma mão, um abraço. Vamos a Belém, acolhamos este amor gratuito de Deus que tanto necessitamos para que também nós sejamos capazes de amar, de ser mensageiros do amor de Deus e dar a nossa vida por aqueles que amamos. Todo dia pode ser Natal! Ide ao encontro, preparai os caminhos do Senhor.

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