Homem e mulher são não apenas criaturas de Deus, mas criaturas à Sua imagem e semelhança, com uma natureza toda especial. E por isso, o homem e a mulher são dignos. Há uma dignidade intrínseca compartilhada por homem e mulher, e isso se deve a serem ambos imagem e semelhança do Altíssimo.
 
A dignidade da mulher, portanto, procede primeiro de sua natureza humana, e nisso é a mesma dignidade que tem o homem. Igual ao homem em essência, criada, pois, por Deus, é digna por si só, é digna por ser imagem e semelhança do Criador, é digna por sua ontológica liberdade, por sua vontade, sua idoneidade intelectual, exatamente como é o homem. Sem embargo, há uma fonte de uma sua dignidade, digamos, feminina: a capacidade de ser mãe. É interessantíssima a leitura da Catequese de São João Paulo II proferida em 12/03/1980, que se insere na chamada Teologia do Corpo, e menciona revelar-se o mistério da mulher justamente na maternidade.
 
A maternidade, ainda que não se efetive em todas, por vocação ou por alguma impossibilidade física ou psicológica concreta, está presente em potência no sexo feminino in abstractu, e é ela que faz a mulher ainda mais semelhante a Deus em seus acidentes. Como o Pai gera o Filho, a mulher pode gerar sua prole. É uma participação toda especial no ato criador do Altíssimo. E isso a faz toda especial, tanto quanto o homem em sua essência, e, ousamos, mais do que ele em seus acidentes por esse caráter sagrado de gerar vida. Mais ainda: em Cristo, a dignidade da mulher foi ainda mais elevada, dado que a uma mulher, Maria Santíssima, foi dado ser a Mãe do Senhor.
 
“Assim a ‘plenitude dos tempos’ manifesta a extraordinária dignidade da ‘mulher’. Esta dignidade consiste, por um lado, na elevação sobrenatural à união com Deus, em Jesus Cristo, que determina a profundíssima finalidade da existência de todo homem, tanto na terra, como na eternidade. Deste ponto de vista, a ‘mulher’ é a representante e o arquétipo de todo o gênero  humano: representa a humanidade que pertence a todos os seres humanos, quer homens quer mulheres. Por outro lado, porém, o evento de Nazaré põe em relevo uma forma de união com o Deus vivo que pode pertencer somente à ‘mulher’, Maria: a união entre mãe e filho. A Virgem de Nazaré torna-se, de fato, a Mãe de Deus.” (São João Paulo II. Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, nº 4)
 
É por isso que no tempo em que o Evangelho governava os povos, no dizer do Papa Leão XIII, i.e., na Idade Média, os homens honrados sabiam ser seu dever louvar a mulher, colocando-a em um pedestal, protegendo-a. Daí as historietas dos cavaleiros andantes, salvando as moçoilas, defendendo as princesas. E hoje, tão afastadas que estamos desses valores medievais, entramos em uma crise de feminilidade que o feminismo não consegue resolver. Santo Tomás diz que a mulher foi formada da costela, i.e., do lado do homem, “para significar que deve haver união entre o homem e a mulher. Pois, nem esta deve dominar aquele e, por isso, não foi formada da cabeça; nem deve ser desprezada pelo homem, numa como sujeição servil, c por isso não foi formada dos pés.” (S. Th., I, Q. 75, a. 3)
 
O Senhor criou homens e mulheres diferentes. Essa diferença é o que torna o gênero humano dividido em dois sexos. E se são dois sexos há, além da igualdade essencial, alguma coisa que os torna diferentes um do outro. Do contrário, não haveria homem e mulher. E se Deus criou os dois, macho e fêmea, homem e mulher, Adão e Eva, sexo masculino e sexo feminino, foi com um propósito: a complementariedade. Eva é criada da costela de Adão, saindo, pois, uma da carne do outro. E o homem quando casa com a mulher se torna com ela uma só carne: voltam a ser um só. Esse simbolismo é muito bonito. No início eram um, separam-se e se unem novamente pelo casamento. Eva é tirada da costela de Adão justamente para que com ele se una novamente, mas, ao mesmo tempo, Adão não esteja só (cf. Gn 2,18).
 
A complementariedade sexual se dá em diferentes níveis e em diversas áreas. O comportamento, a estrutura psicológica e mental, o modo de expressar as afeições, o aspecto biológico (músculos, tamanho, hormônios, gônadas, cavidade vaginal X pênis, menstruação, seios, diferenciação esquelética e metabólica etc), a anatomia e a fisiologia, tudo isso são diferenças sexuais, e, criadas por Deus, são uma bênção. Nada do que Deus é mau. “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom.” (Gn 1,31)
Diferenciando-se o homem e a mulher em seus pensamentos, em seu agir, em suas emoções, no modo de se expressar, e na anatomia, bem como em funções biológicas, um enriquece o outro e juntos podem se complementar e se ajudar.
 
Santo Agostinho defende claramente, em uma obra sua sobre a continência, a bondade da diferenciação sexual (cf. De cont. c. 9, n. 23 [PL 40, 364-365]).O homem tende à mulher, e a mulher tende ao homem, porque juntos se unem exatamente em função dessas diferenças criadas por Deus, a que se chamou sexo. As diferenças sexuais se manifestam até mesmo no modo como marido e esposa praticam a relação sexual e entregam seus corpos um ao outro. Aliás, é a falta de pleno conhecimento das diferenças sexuais, e de seu caráter positivo tal qual estabelecido por Deus que deixa muitos casais frustrados, mesmo aqueles que firmaram seu compromisso em Cristo diante do altar.
 
Ademais, essa diferença que é uma bênção não pode ser anulada nem mesmo por uma concepção extremista do pudor, negando o que é propriamente feminino no nosso corpo, que é bom. É uma tentação ser puritano quando falamos em castidade, pudor e pureza, eu sei. Parece-me que, por vezes, estamos entre dois exageros: a exposição desmedida do corpo, em nome do falso princípio de que o que é bonito é para se mostrar, e a cobertura demasiada do corpo ou “enfeiamento” das vestes, em um desprezo não só da elegância e da pulcritude, como do próprio corpo, em uma noção um tanto gnóstica tão cara aos cátaros.
 
 

1 COMENTÁRIO

  1. […] “A espiritualidade do Regnum Christi é eminentemente cristocêntrica. O membro a vive desde a experiência do amor pessoal, real, apaixonado e fiel de Jesus, e, portanto, é uma relação de amizade com Ele. Trata-se de uma amizade que, animada pelo Espírito Santo, nos une crescentemente a Cristo, em quem somos filhos do Pai. Os membros do Movimento encontram, experimentam e amam a Cristo no Evangelho, na Eucaristia, na Cruz e no próximo. Para os membros, Jesus Cristo é o centro, critério e modelo de sua vida pessoal e apostólica.” (Rascunho dos Estatutos Gerais do Regnum Christi, 14)   Eu participo do Regnum Christi desde 2003. Meu marido quem me apresentou o movimento. Na época éramos namorados. Ele já era membro desde 1998. Os padres Legionários de Cristo, congregação religiosa que faz parte da grande família do Regnum Christi e que orienta espiritualmente os leigos do movimento, foram fundamentais na minha caminhada de fé, no meu crescimento como cristã, na minha descoberta da própria feminilidade. Foi com eles que me dirigi espiritualmente pela primeira vez. Deles recebi Cristo Eucarístico pela primeira vez. Com eles recebi orientação como mulher, esposa, mãe. E deles aprendi a ser cristocêntrica. Por isso o texto acima que transcrevi do rascunho dos novos estatutos que estamos votando para apresentar ao Papa muito fala à minha alma. O cristão deve ser cristocêntrico como a Igreja é cristocêntrica. As devoções a Nossa Senhora e aos santos todas partem de Cristo e retornam a Cristo, tendo a Cristo como centro. Os sacramentos são canais da graça que nos chega da Cruz onde Cristo morreu. A própria Igreja é por Cristo fundada. Não há cristianismo, não há autêntico catolicismo sem Cristo ser o centro. Para melhor desenvolver esse post, vou furtar algumas anotações do meu marido para o retiro mensal de agosto. O retiro mensal é uma atividade que temos no Regnum Christi e faz parte de nossos compromissos. O tema foi exatamente Cristo como centro, critério e exemplo de nossa vida cristã. Cristo é o meu centro como mulher cristã quando ele é o centro de todos os aspectos da minha vida. É Ele o centro do meu lar? Da minha família? Da moda que eu sigo? Do meu comportamento feminino? Da minha sexualidade? A vida cristã deve estar toda centrada em Cristo, como nos diz São Paulo: • Viver em Cristo: Ef 2,5 • Valorar tudo segundo Cristo: Fp 3,7-8 • Sofrer com Cristo: Rm 8,17 • Morrer com Cristo: Cl 3,3 • Ser sepultado com Cristo: Cl 2,12 • Ressuscitar com Cristo e estar com Ele no céu: Ef 2,6 • Reinar com Cristo por toda a eternidade: 2 Tm 2,12 “A espiritualidade do Regnum Christi, como espiritualidade cristã, está centrada na pessoa de Cristo.” (Manual do Membro do Movimentok Regnum Christi, 74) A todo momento precisamos julgar as coisas que se nos apresentam no mundo. Julgar o mundo, as pessoas, as circunstâncias. Devemos julgar nosso tempo, principalmente em função da eternidade. E como julgar? Para julgar é preciso critério. Como mãe, ao decidir o que meus filhos irão comer, preciso ter em conta critérios: saúde, necessidades de alimentação, o que meu dinheiro pode comprar. Como mulher apaixonada por moda, devo ter critérios na escolha das minhas roupas, no ato de comprá-las, como combinar com outras. Como esposa, devo agradar meu marido, amá-lo, servi-lo como a Cristo. E em tudo isso, esses critérios devem refletir o meu mais importante critério que é Cristo. Qual é nosso critério como cristãos? É Cristo! “Fazei tudo o que Ele vos disser.” (Jo 2,5) – é o recado de Maria Santíssima aos empregados nas bodas de Caná. Não se tratar de ter Cristo como critério para algumas coisas. E nem se trata de ter Cristo como um dos critérios ao lado de outros. Ou Cristo é o máximo e sublime critério, e todos os demais que conflitam com Ele devem ser rechaçados, ou Ele não é critério algum. Ou agimos, pensamos, julgamos, decidimos, escolhemos, nos comportamos segundo os critérios de Cristo ou segundo os critérios do mundo. “Dei-vos o exemplo para que, como eu fiz, assim façais também vós.” (Jo 13,15) Cristo não nos salva pelo exemplo, mas pela graça. Todavia, o exemplo de Cristo, embora não seja a causa da salvação, é importante. Isso porque, embora por graça sejamos salvos mediante a fé, precisamos responder a essa graça com nossa liberdade. E quem responde a essa graça necessariamente imita a Cristo, tem a Ele como exemplo. Se queremos seguir a Cristo, precisamos tomar a nossa cruz e seguir o Mestre. O Manual do Membro do Movimento Regnum Christi dá conselhos às mulheres que querem ter a Cristo como centro e aplicar esse cristocentrismo em sua missão propriamente feminina:   “Las mujeres (…) esposas y madres, tienen una misión del todo particular en el cuidado de la familia. Con su presencia cercana y afectuosa, y su actuación decidida y prudente, ellas son las primeras formadoras, educadoras y colaboradoras de sus hijos, ayudándoles a construir un porvenir cimentado en la fe y el amor. Asimismo, tienen la alta responsabilidad de custodiar y transmitir las tradiciones vivas en el seno familiar; y de difundir en el hogar, en la escuela y en la vida social, la fe y la confianza en Dios, el amor a las fuentes de la vida, el aprecio por los valores propios de la familia y la piedad para con el prójimo, especialmente para con los más débiles.” (n. 290) A mulher centrada em Cristo, tendo a Cristo como critério e exemplo, será fiel à sua feminilidade e à vocação própria que dela decorre. Será esposa, mãe ou celibatária que dará atenção ao chamado específico que Deus lhe faz. E em tudo acrescentará o seu gênio feminino, sua delicadeza, sua docilidade, sua receptividade, para servir ao Senhor com o que lhe é seu por vontade divina: o seu ser mulher. LEIA TAMBÉM: A DIGNIDADE DA MULHER E A BÊNÇÃO DAS DIFERENÇAS SEXUAIS […]

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