(Jo 9,13-22. III domingo de quaresma)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

Os últimos anos da história foram anos de progresso e muitas descobertas: luz elétrica, motores e veículos, aviões, eletrodomésticos e diversos meios de comunicação. No campo da medicina não foi diverso. Muitas doenças já podem ser tratadas e conceder aos pacientes um tempo a mais de vida. Todos buscamos viver e viver bem, viver com qualidade. Hoje, Jesus nos revela algo grande, algo que todos desejamos: o caminho para felicidade eterna. Mestre, é bom estarmos aqui”, dizia Pedro a Jesus transfigurado. “Que bom estar contigo; oxalá pudéssemos ficar para sempre contigo contemplando a sua glória.” Neste domingo, a liturgia nos apresenta o caminho para que isso seja realidade, o caminho para irmos ao céu. Quem gostaria de ir ao céu e viver para sempre feliz com Deus? Jesus é o caminho que nos leva ao Pai, ao céu. “A Lei do Senhor Deus é perfeita, é precisa, é justa, é correta, é doce, alegria ao coração.”

O Evangelho de hoje apresenta um Jesus um pouco diverso. Não é o Jesus paciente, que dá uma palavra de ânimo a todos os que se aproximam dEle. Pelo contrário, é um Jesus que faz um chicote de cordas e expulsa algumas pessoas do Templo: “não façais da casa do meu Pai um covil de ladrões.” Alguns podem até se escandalizarem com uma tal atitude. Porém, o Bom Pastor, que também é médico de almas, quer nos ensinar algo muito importante. Nós podemos chegar a usar de Deus e das coisas de Deus para nosso interesse, em vez de ter uma relação sincera com Ele. O que aconteceu neste dia no templo de Jerusalém?

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O Evangelho nos fala que este episódio da vida de Jesus era próximo da páscoa. Vinham judeus de todo o mundo a Jerusalém para agradecer a Deus e pedir o que precisavam para suas vidas; e o modo como faziam era oferecendo sacrifícios no templo para se unirem a Deus; esta era uma forma privilegiada de união com Deus, de oração. Porém, algumas pessoas que deveriam estar ao serviço de Deus e dos seus irmãos judeus se aproveitavam da situação, abusavam da boa vontade do povo usando o mesmo nome de Deus. Eram os cambistas e vendedores de animais para os sacrifícios.

Todos os judeus deveriam pagar uma taxa anual ao templo equivalente a dois dias de trabalho; mas era possível dar essa oferta somente em moeda local. Por isso Jesus expulsa os cambistas injustos. A Lei de Moisés prescrevia que somente poderia ser oferecido em sacrifício animais dignos, perfeitos; todos os animais que as pessoas traziam para o sacrifício, eram revisados por alguém do templo para confirmar sua dignidade. Na maioria dos casos, os animais que não eram comprados no templo, não passavam por tal vistoria; e o preço ali chegava a ser o dobro, muito além do verdadeiro valor. Jesus reage ante esta atitude de usar o nome de Deus para se aproveitar dos outros. Jesus não fica indiferente ante a injustiça contra os simples e pobres. Porém Jesus também reage ante a ideia que se precisa oferecer algo a Deus para ganhar o seu favor, como faziam muitas religiões primitivas, como muitas pessoas vivem ainda hoje em dia: “para que Deus abençoe os meus planos, vou fazer isso e aquilo.” Jesus nos lembra qual deve ser nossa relação com Deus, nosso Pai: “a confiança e obediência [a seus mandamentos] valem mais que todos os sacrifícios” (I Sam 15,22).

“Mestre, o que hei de fazer para ganhar a vida eterna?”, perguntou um jovem a Jesus. E a resposta de Jesus foi: “guarda os mandamentos”. Os quatro evangelhos nos apresentam esta cena de Jesus expulsando os vendedores do Templo: “não façais da casa de meu Pai – da casa de oração – um covil de ladrões”. São João apresenta esta passagem logo após o início da vida pública de Jesus. Os outros evangelistas relatam esta passagem pouco depois da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, poucos dias antes da sua morte. Jesus tinha vindo para nos salvar, para nos revelar o Amor do seu Pai, para nos mostrar o caminho que nos leva ao céu e, depois do seu ministério, que frutos ele encontra? Jesus chora por Jerusalém que não o reconheceu como o Messias esperado e não acolheu a salvação prometida. Jesus tem uma reação mais enérgica para mostrar que aquilo que o caminho para o céu é sério e poucos indo por este caminho. “Não o que diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus”. E qual é a vontade do seu Pai? “Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as formas é o maior de todos os mandamentos; e amar o próximo como a si mesmo é semelhante a esse”. Aquele que guarda sua Palavra permanece nele, aquele que ama é reconhecido como seus discípulos, não outro tipo de pessoa.

Jesus completa a interpretação dos mandamentos. Não basta um cumprimento externo; é necessário viver na Verdade, viver o mandamento do amor em todas as suas dimensões. Os mandamentos é o caminho que Deus nos deu para poder viver com Ele, são indicadores que apontam a verdadeira felicidade. Deus é Amor e cada um dos mandamentos é uma expressão do amor; é impossível amar verdadeiramente transgredindo um só dos mandamentos. Por isso, neste tempo de conversão, Jesus nos convida revisar para onde estamos caminhando; para o céu pelo o caminho do amor, ou se estamos indo por outros caminhos. Podemos ter duas atitudes, dois tipos de relação na vida: viver na verdade ou viver na mentira, viver na luz ou viver nas trevas, viver para amar doando-se na fidelidade incondicional àqueles que dizemos amar ou viver para si mesmo no egoísmo aproveitando-se dos outros. É possível que nós vivamos como estes cambistas nossa relação com Deus. Em vez de entregar-se a Deus nesta adesão de toda nossa pessoa a Ele e a sua revelação, podemos, como estes vendedores do templo dizer que amamos a Deus, mas, na verdade somente nos aproveitamos de Deus. Vestimos a camisa de Deus enquanto nos convém. E, se preciso, trocamos a camisa para quem nos “dê mais” como fazem muitos esportistas.

Jesus também quer expulsar do templo do nosso coração tudo aquilo que não faz parte dele. Nossa alma é o lugar onde Deus está; tudo o que não é abandono àquele que nos dá a vida que precisamos e amor agradecido pelo recebido deve ser expulso deste templo. Nosso interior não é lugar de ladrões, mentirosos, viciados, egoístas; pelo contrário, é um lugar de oração, de encontro, união e de uma autêntica relação com Deus. Aproveitemos esta quaresma para fazer uma boa revisão interior, uma purificada no nosso coração pelo sacramento da penitência. O confessionário, ademais de ser o lugar do perdão de Deus e da nossa reconciliação com Ele, é um lugar de muitas graças e curas interiores. Peçamos a Deus um coração como o seu, um coração que sabe amar e se doar, um coração autêntico e não mentiroso. Não vivamos de fachada, não vivamos divididos, não vivamos mais ou menos na mediocridade; peçamos a Deus a graça de viver de verdade, de amar realmente, de perder todo o medo que nos freia para amar sem medida.

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