Por: Prof. Felipe Aquino- Revista Missões
A Igreja viu nesta passagem bíblica, em que Deus chama por três vezes o menino Samuel, e faz dele um profeta, a imagem do chamado de uma pessoa à vida consagrada. Aquele que deve servir a Deus radicalmente, apartado do meio do povo, mas inteiramente dedicado ao Reino de Deus. É Deus mesmo quem chama o consagrado, pondo no coração dele esse desejo, e dotando-o de dons adequados, como o celibato, no caso dos sacerdotes, freiras, monges e monjas.
O Catecismo da Igreja Católica (CIC), no número 926, afirma que: “A vida religiosa faz parte do mistério da Igreja. É um dom que a Igreja recebe de seu Senhor e que oferece como um estado de vida permanente ao fiel chamado por Deus na profissão dos conselhos”.
A vida consagrada é um sinal especial do mistério da redenção; uma vida seguindo e imitando a Cristo mais de perto, manifestando claramente seu aniquilamento, e estando mais presente às pessoas. O consagrado é alguém que dá testemunho de que o mundo pode ser transfigurado e oferecido a Deus com o espírito das bem-aventuranças.
O consagrado a Deus precisa, sobretudo, viver intensamente uma vida de oração, de comunhão íntima com Deus, rezando a Liturgia das Horas, participando dos Sacramentos, meditando diariamente a Palavra de Deus, lendo bons livros, vivendo as virtudes opostas aos pecados capitais. Além disso, deve obediência à Igreja e aos seus superiores.
A profissão dos conselhos evangélicos (pobreza, obediência e castidade) em um estado de vida estável reconhecido pela Igreja, caracteriza a “vida consagrada” a Deus (CIC n.915). Esses são chamados, sob a moção do Espírito Santo, a seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus, amado acima de tudo, e, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, anunciando a glória do mundo futuro.
A vida consagrada acontece desde os primórdios da Igreja. Muitos, por inspiração do Espírito Santo, passaram a vida na solidão ou fundaram famílias religiosas, que a Igreja, de boa vontade, recebeu e aprovou. Embora nem sempre professam publicamente os três conselhos evangélicos, os eremitas, vivem o silêncio da solidão, em constante oração e penitência, consagrando a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo. É uma vida de intimidade com Cristo.
Desde os tempos dos Apóstolos, virgens e viúvas cristãs tomaram a decisão, de viver no estado de virgindade ou de castidade perpétua “por causa do Reino dos Céus”. São aqueles que Jesus disse que se fizeram eunucos por amor do Reino (Mt 19, 12). Há várias formas de vida consagrada. Uma delas é o “Instituto secular”, onde os fiéis, vivendo no mundo, tendem à perfeição da caridade e procuram cooperar para a santificação do mundo. Outra são as “Sociedades de vida apostólica”, cujos membros, sem os votos religiosos, buscam a finalidade apostólica própria de sua sociedade. Entre elas há sociedades cujos membros assumem os conselhos evangélicos”.
O consagrado é alguém que abdicou de sua vida, de sua vontade própria, para entregar-se totalmente a Deus; fez a Deus o “dom de si” por amor a Jesus. É alguém que, mais que os demais cristãos, aceitou “perder a vida para ganhá-la”. Aceitou “renunciar-se a si mesmo, tomar a cruz a cada dia e seguir ao Senhor” (Lc 9,16). Não se pode ser “meio consagrado”; ou se entrega o coração a Deus totalmente, ou então se cansará de sua opção. O contra testemunho de um consagrado pesa muito mais que de um não consagrado; embora ambos sejam muito negativos.