Por: Ir. Lucas de Brito, L.C.
Quem é o homem do Sudário? Que melhor maneira haveria de começar a nossa análise se não pelo seu rosto? Sem dúvida, esta será a opção primordial para responder a nossa pergunta pensada para esta série. Através da face, podemos perceber muitos aspectos de uma pessoa, seu olhar, sua expressão, seus traços característicos, que indicam a pertença a uma família, uma cultura ou até a uma nação inteira.
Mas o que sucederia se o rosto estudado não fosse de um homem qualquer? E se o rosto desse homem fosse o do mesmo Deus feito carne, como seria? O que desejaria comunicar-nos com a expressão do seu rosto? O Santo Sudário nos dá uma resposta impressionante!
Não é a primeira vez que alguém se questiona sobre o rosto de Deus. Já desde muito tempo o povo de Israel ansiava por ver a Sua face (Cf. Nm 6,26), também Moisés falava com o Senhor face a face (Cf. Ex 3,6), o motivo da desgraça era que Deus havia tapado a sua face ao seu povo (Cf. Sl 102). Atendendo ao pedido de Israel, Deus revelou o seu rosto, de maneira especial na sua encarnação e na Eucaristia, mas também de uma maneira muito visível e palpável no seu retrato impresso no Santo Sudário de Turim.
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Aqui vale a pena fazer uma distinção entre o Santo Sudário de Turim e o Sudário de Oviedo, constantemente confundidos entre si. O “Sudário” que analisamos aqui é aquele que se encontra em Turim e que contém a imagem do corpo inteiro de Jesus, de frente e de costas. O nome que damos a este não é o mais apropriado, pois não se trata bem de um sudário, mas de um lençol. Por isso em italiano se usa o termo “Sindone”, do grego “sindon”, que significa lençol e em espanhol se fala de “Sábana”, que significa o mesmo. O Sudário de Oviedo é realmente um sudário, ou seja, uma peça do vestiário utilizada para enxugar o suor e foi aquele que cobriu o rosto de Jesus quando descido da cruz. Estudos atuais indicam que a “Síndone” e o Sudário envolveram o mesmo homem. Usaremos os termos indistintamente referindo-nos ao mesmo tecido de Turim.
O rosto do Sudário visto a olho nu sempre pareceu estranho a todos. Os olhos e o nariz parecem demasiado grandes e a boca, bastante pequena. Se permitem ver cabelos longos, bigode e uma barba bífida, além de sangue, feridas causadas pela coroa de espinhos, hematomas, e inchações por todo o rosto. Algo que nos permite afirmar que seguramente este homem foi condenado de uma maneira terrivelmente dolorosa, mas ao mesmo tempo, parece demonstrar uma serenidade majestosa.
No ano de 1976, o capitão John Jackson, oficial das Forças Aéreas dos Estados Unidos, submeteu uma foto em negativo do Sudário a uma tecnologia chamada VP-8, já antes utilizada para fotografar a superfície de Marte. E qual não foi a surpresa de todos? Descobriu-se que todo o corpo de Cristo se apresentava uma verdadeira imagem tridimensional. Utilizaremos o estudo do rosto em três dimensiones para complementar a nossa informação.
Segundo a imagem holográfica obtida pelo método, somos capazes de identificar muito mais claramente as dores deste homem. A cabeça está rodeada de manchas de sangue, causadas pela coroa de espinhos, da qual falaremos mais tarde. Entre as diversas marcas, aquela que mais se destaca é uma em formato de “3” invertido, devido ao sangue escorrido em abundância, passado pelas rugas da testa, constantemente franzidas pela imensa dor. Uma variedade de inchações denuncia que Jesus foi golpeado por punhos repetidas vezes na face. O nariz está claramente desviado por uma ruptura da cartilagem, no qual se percebe uma mancha com resíduos de saliva. Assim como um forte hematoma na bochecha direita, provocado pelo golpe de um tipo de bastão com 4 ou 6 centímetros de diâmetro, de acordo com o escrito no Evangelho “Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na cabeça” (Mt 27, 30).
Que duro sofrimento! Ele não tem “graça nem beleza para atrair nossos olhares e seu aspecto não podia seduzir-nos. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto” (Is 53, 2-3). Não podemos cair na tentação de fechar os olhos, de negar o sofrimento evidente deste homem! Não é possível refutar a existência certa da dor e tampouco é possível fugir dela. A dificuldade existe e é parte da nossa vida, o único que necessitamos fazer é dar um sentido profundo a ela, como fez o Homem do Sudário.
Os seus discípulos abandonaram-no, porque pensaram que a felicidade estava em descer da cruz e fugir dela, mas a serenidade no rosto deste homem que sofreu tudo isso nos indica que o caminho da felicidade deve ser outro. Mas como a felicidade pode existir em meio a tanto sofrimento? Como ser feliz quando é pesado o sacrifício? Parece misterioso e contraditório, mas não é impossível aprender algo da dor. O rosto desse homem nos fala que talvez as nossas cruzes sejam tão pesadas porque as carregamos sem Cristo. A tua cruz está incompleta sem Cristo e Cristo se sente incompleto sem a tua cruz. O Cristo do Sudário nos olha e diz: eis aqui que sou teu Cristo, nesta Quaresma dá-me a tua cruz.
Esta é a mensagem que nos transmite Cristo através do seu Santo Rosto impresso no Sudário: a cada homem que esteja no seu grito de sofrimento, pronto para dizer “não posso mais! ”, o Senhor vai ao seu encontro para oferecer-lhe a rocha firme do seu amor, sobre a qual cada um de nós pode aferrar-se com segurança, sem medo de cair, pois “o Senhor é o [nosso] rochedo, [nossa] fortaleza e [o nosso] libertador” (II Samuel, 22,2)
“Senhor, ajudai-me a contemplar o Vosso rosto e a ver nele a maior expressão de amor que me destes. Que eu perceba na Vossa dor e no Vosso amor a força para carregar cada uma das minhas dificuldades nesta vida e a capacidade de trocar o meu rosto de angústia pelo Vosso rosto de paz. Por fim eu Vos peço que Vossa paz reine no meu coração quando esteja diante da cruz, porque Sois o meu Cireneu, pronto para levantar-me quando necessite.”