Dentre as figuras mais importantes dos Evangelhos, sem dúvida João Batista aparece com grande destaque. Depois de mais de 500 anos desde a morte do último profeta do Antigo Testamento, o filho de Zacarias e Isabel, ainda no seu nascimento, carrega consigo uma profecia: “E, tu, menino serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frente do Senhor, para preparar-lhe os caminhos!” (cf. Lc 1,76).
É possível, a partir dessa palavra, entendermos João Batista como um homem “descentrado”. Sua centralidade não se resumia em si mesmo ou em seus próprios interesses. Ao contrário, o centro da vida deste profeta era a vontade de Deus, eis o grande propósito de sua trajetória.
Uma voz que clama no deserto
Figura solitária e enérgica. Esse era João Batista, o profeta que – depois de anos de silêncio – surge em Israel. Assim como Isaac, Sansão e os grandes profetas da história do povo de Deus, João é eleito ainda no ventre de sua mãe. A Virgem Maria, carregando o menino Jesus em seu ventre, sabendo da gravidez de sua prima Isabel, vai até ela. No momento em que Maria adentrou à casa de Isabel, deu-se o primeiro encontro do Verbo de Deus com o seu precursor. Sua mãe – cheia do Espírito Santo – anunciou: “Pois quando tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre” (cf. Lc 1,44).
A missão do profeta do Novo Testamento era cheia de alegria: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (cf. Jo 1,19). Um anúncio esperado por séculos era propagado às margens do Rio Jordão, juntamente com a “conversão” e a penitência”, a partir de uma vida coerente e testemunha, no que há de mais profundo nessas características.
Mais do que anunciar alguma palavra ou evento, era a própria pessoa Divina que era anunciada por João. O Messias, que Israel tanto esperava, e que finalmente vinha cumprir todas as suas promessas, era prenunciado. Sua voz que ecoava no deserto, chegava aos ouvidos de todo Israel, inclusive das autoridades religiosas e civis, causando um misto de comoção e medo. Comoção por parte do povo fiel, que vislumbrava o cumprimento das promessas do Deus Eterno, e o medo dos governantes, que imaginavam que o reino do Messias era um reino terreno.
Descentrado: 4 características de João Batista
Mais do que uma mensagem teórica, a vida deste profeta era um anúncio profundo e enraizado em sua personalidade, a fim de preparar o povo para compreender e receber a mensagem de Jesus. As características que revelavam João como um homem descentrado eram: a humildade do discípulo, a rudeza do profeta, a sabedoria da vida ascética e a força de uma missão.
- Humildade: Sendo a humildade a grande virtude dos santos, em João Batista ela se destacava. Ainda que com sua voz forte e cheia de autoridade, ele sabia que não era o personagem principal, mas anunciava em suas ações e palavras que “não era digno nem de desatar as sandálias” (cf. Mc 1, 7) Daquele que era anunciado: o Cristo Jesus.
- Rudeza: João não era ignorante e ríspido, sua rudeza consistia num estilo de vida altruísta e minimalista.,Ele se satisfazia com o necessário. Além disso, sua palavra era firme e sem rodeios, denunciando toda e qualquer ação que fosse contra a Lei de Deus e a caridade, como por exemplo, foram suas palavras a Herodes, tetrarca da Galiléia (cf. Lc 3,19s);
- Sabedoria da ascese: Ascese consiste em um estilo de vida munido de oração e penitência que tende a fortalecer o homem interior em constante luta com suas paixões. João Batista é o grande expoente dessa realidade, no qual deixa todo conforto e seguranças para uma vida dedicada à espiritualidade e ao anúncio de Jesus. A não satisfação dos desejos primários e o autocontrole firmam a mensagem do Evangelho no coração de quem vive uma vida coerente, sendo uma fonte inesgotável de sabedoria e fortaleza interior.
- Força da missão: João não reteve nem a própria vida, mas foi até a última consequência – o martírio – para anunciar o Cordeiro de Deus e sua Boa-Nova. Uma vez silenciada, sua voz ganhou ainda mais eco e chegou aos nossos tempos como um anúncio forte e eficaz de santidade e fidelidade ao Cristo.
Nada é mais convincente que uma vida coerente com o anúncio. A radicalidade de João Batista é modelo para todos os que desejam uma vida de entrega e fidelidade a Cristo. O discípulo do Senhor sabe que sua vida tem um propósito que vai além de si, sendo portanto convidado a sair do centro de sua vida, sendo um homem e uma mulher “descentrado” para que Jesus seja o centro de suas decisões e propósitos.
Material produzido a partir do livro “Redescobrindo Jesus”,
do Padre Rodrigo Hurtado.