Carta aos membros do Regnum Christi sobre o sacerdócio

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Venha a nós o Vosso Reino!

CONGREGATIO
LEGIONARIORUM CHRISTI
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DIRECTOR TERRITORIALIS

São Paulo, 13 de junho de 2021.

Aos membros do Regnum Christi, sobre o sacerdócio

Queridos em Cristo membros do Regnum Christi e amigos,

Estamos no mês de junho, um mês especial dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Não se trata de uma devoção qualquer, mas do encontro com o amor maior do mundo. O amor que Deus, em sua capacidade infinita, tem por cada ser humano, tem por nós. Todo esse amor contido em um coração humano que também é divino. Nele, encontramos tudo o que nos faz mais plenamente humanos, toda a bondade divina e toda a capacidade humana para o amor.

Durante os próximos meses, teremos várias ordenações de legionários no território do Brasil e pelo mundo afora. É animador constatar que Deus continua chamando homens para o seu serviço numa vocação tão bela. Convido a todos a agradecer, mas sobretudo a rezar para que o dono da messe mande mais operários.

Sacerdócio e Sagrado Coração de Jesus estão intimamente relacionados. Cada sacerdote recebe um chamado do coração de Cristo. Coração que olha de modo amoroso e cheio de compaixão para o seu povo. Cada sacerdote é parte de um sonho de Cristo que se faz realidade com uma vida entregue a Ele e aos demais. Estão relacionados também porque o sacerdote está chamado a ter um coração como o de Jesus. Um coração de bom pastor que é capaz de dar a vida pelas ovelhas, sendo ele mesmo ovelha. Uma vocação, um projeto de vida que é um dom sobrenatural do amor de Deus para o bem das almas, mas depositado num homem com todas as fragilidades humanas, necessitado da graça, da misericórdia e do apoio de uma comunidade.

Além de convidar a todos a participar nas ordenações, segundo as circunstâncias e limitações deste tempo de pandemia, gostaria de aproveitar esse momento para fazer uma reflexão sobre o sacerdócio, e sobretudo para que levemos nas nossas orações todos os sacerdotes da Igreja. Em primeiro lugar, o Papa, quem tem a missão de ser o Pastor da Igreja Universal. Depois, cada bispo, que é pastor do seu rebanho numa Igreja particular, cada pároco, com a sua pequena porção e, por fim, cada sacerdote religioso ou que faz parte de algum instituto de vida consagrada com o seu carisma próprio no serviço à Igreja. Todos precisam da oração do povo. Além da oração, os sacerdotes também precisam da colaboração dos leigos, uma colaboração que não é secundária, mas que é parte essencial do “ser” Igreja. Os leigos não são assistentes dos sacerdotes, mas protagonistas na evangelização e, muitas vezes, deverão assumir, também eles, papéis diretivos em instituições e ações evangelizadoras da Igreja. Sem vocês, a nossa missão fica limitada, empobrecida e incompleta.

O sacerdote é uma pessoa chamada do meio da sociedade e que bebe da mesma cultura do ambiente no qual vive. Nesse sentido, é normal que os problemas culturais afetem também a vida do sacerdote. Eles também são filhos do seu tempo. Trazem as mesmas riquezas e fragilidades do tempo presente. Se as famílias estão bem e vivem em seu seio, uma fé simples e cheia de sentido, os futuros sacerdotes que saírem dessas famílias, possivelmente, terão uma estrutura humana mais equilibrada e uma fé mais viva. Mas, essa não é sempre a realidade atual das nossas famílias. Temos cada vez mais famílias desestruturadas e que vivem a fé simplesmente como uma obrigação e sem muito brilho. Isso transforma o caminho formativo do sacerdote em um grande desafio.

Os leigos se inquietam muito quando um sacerdote deixa o sacerdócio. Ficam abalados quando um sacerdote produz algum escândalo. Mas, será que não são os mesmos elementos do ambiente social e cultural que levam a pessoa a este tipo de situação? Talvez, o que esteja acontecendo é que este sacerdote, em seu processo formativo, não conseguiu curar as sequelas que trouxe do seu caminho anterior à entrada no seminário, não conseguiu se preparar adequadamente para essa missão tão exigente para os tempos atuais.

A Igreja já entendeu, há muito tempo, o desafio dos processos formativos dos futuros sacerdotes, mas nem sempre consegue equilibrar tantos elementos e ter os formadores adequados. O sacerdote deve ser um homem capaz de ter empatia com todas as pessoas, deve ser um homem equilibrado para acolher e dialogar com todos, deve ser um homem de Deus com uma espiritualidade profunda, um bom pregador, um bom gestor, conhecer bem a doutrina católica e a cultura atual, ter conhecimentos científicos, ter resiliência para suportar muitas frustrações, saber interagir serenamente com as fragilidades dos outros e, ainda, precisa cuidar da própria saúde, muitas vezes, em situações precárias. Como conseguir tudo isso? Na verdade, é impossível. Temos que partir das qualidades de cada um, dos próprios talentos e levar este jovem, com uma formação séria e exigente, a um nível mínimo em algumas características e, com certeza, a um nível excelente em outras. Ninguém poderá ter tudo e nunca poderá agradar a todos.

Toda essa exigência formativa poderia ficar só na superfície. Inclusive, um seminarista aparentemente muito piedoso, pode ter processos humanos que não foram completados por alguma ferida. São situações que nem sempre se revelam durante o período formativo. Hoje, a psicologia está muito presente nos seminários e em todos os processos formativos e de acompanhamento dos sacerdotes, mas nem isso pode garantir o êxito. Na verdade, qualquer pessoa pode descobrir que tem um problema grave em algum momento da vida. Pode ser que outras pessoas percebessem que algo não estava bem, mas sem entender muito bem o que era. Na maioria das vezes, o indivíduo não consegue perceber e mantém as aparências de excelência por muito tempo, até que chega a hora da ruptura. Geralmente, não é por má vontade, mas sim pelo desejo de seguir fazendo o bem. Não é um caminho fácil e o desfecho pode ser bem problemático.

Nesse sentido, precisamos que os leigos se tornem pessoas cada vez mais ativas no acompanhamento dos sacerdotes. A oração é a primeira necessidade. As amizades autênticas também são um bem precioso para o sacerdote. Toda manifestação de carinho será um bálsamo para o coração do pastor. A correção fraterna da parte dos leigos também é muito bem-vinda e, às vezes, é mais eficaz que a correção do bispo ou do superior. Os leigos também podem ter uma percepção mais realista da vida e evitar que o sacerdote caia em espiritualizações, ao invés de enfrentar e resolver os problemas com metodologia e um trabalho constante.

Como instituição, temos que redobrar o esforço na hora de ajudar os jovens no discernimento pessoal e, também, durante todo o caminho formativo. Todos querem ser bons e santos sacerdotes e, ao longo dos séculos, a Igreja tem dado ao mundo muitos sacerdotes exemplares e que fizeram a diferença na história das civilizações. Hoje mesmo temos muitos sacerdotes santos entregando sua vida generosamente e, em seu entorno, formam-se comunidades vivas que amam a Deus e ao próximo. Não é um caminho fácil, mas vale a pena seguir acreditando que Deus manda bons sacerdotes para a sua Igreja e que, com a ajuda dos leigos, poderemos superar os desafios formativos do nosso tempo.

Peçamos ao Sagrado Coração para que estes novos diáconos e sacerdotes cheguem com maturidade e com um grande amor a Deus e ao próximo. Peçamos por eles e, também, pelos sacerdotes que estão nos primeiros anos de sacerdócio frustrados pela falta de frutos ou iludidos por êxitos humanos. Peçamos pelos sacerdotes que levam mais anos no ministério e estão sentindo o cansaço ou descobrindo e reconhecendo fragilidades importantes na própria vida. Peçamos pelos sacerdotes idosos que, às vezes, sentem que deram pouco fruto ou que não são valorizados pelos companheiros ou pela sociedade, mesmo tendo feito um grande bem. Peçamos que, na vida de todos, renasça a esperança e a confiança no Deus amoroso.

Também apoiemos todos aqueles sacerdotes que perseveram no entusiasmo e que desejam fazer o bem. Apoiemos aqueles que estão buscando a santidade e se entregam diariamente pelo bem das pessoas. Apoiemos aqueles sacerdotes que levam responsabilidades importantes na Igreja e que querem fazer presente o Reino de Cristo no mundo. Que eles possam encontrar, nos leigos, o compromisso e a fidelidade à Igreja.

Peçamos ao Sagrado Coração que não deixe de chamar muitos jovens para a vida sacerdotal na Igreja e que nossos seminaristas encontrem, na Igreja, um caminho formativo adequado e respondam com verdade e generosidade.

Por fim, colocamos todos os sacerdotes, seminaristas, consagradas, leigos consagrados e, também, todos os chamados ao matrimônio sob a proteção de Maria, que com seu Imaculado Coração, proteja a cada um deles e mostre a eles todos os dias o caminho do Amor.

Que Deus abençoe a todos,

Pe. Cleomar Ferronato,
Diretor Territorial dos Legionários de Cristo e Presidente do Colégio Diretivo Territorial do Regnum Christi

 

 

 

 

 

 

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