(Mt 22,34-40. TCA, XXX)

Há muito tempo, enquanto um homem passeava por um bosque, ele ficou surpreendido com a seguinte cena: Viu uma raposa que estava deixando um pedaço de carne para um tigre todo ferido que nem conseguia se levantar. Impressionado, decidiu voltar no seguinte dia para observar se era somente uma coincidência. Durante alguns dias, a raposa seguiu alimentando o tigre até que ele conseguiu novamente se levantar. Comovido pela solidariedade, resolveu fazer o mesmo: “Se estes animais conseguem ajudar-se mutuamente, quanto mais nós homens!” Se dirigiu para a praça central da sua cidade e ficou lá, jogado no chão, simulando que estava muito doente, para ver se alguém lhe ajudava. Esperou todo o dia e ninguém lhe estendeu uma mão. “Isto deve ter sido um azar”, pensava ele, e decidiu voltar no outro dia. Ao chegar a tarde de mais um dia, sentiu o desespero do faminto, a solidão do doente, a tristeza do abandono. Seu coração estava destruído, convencido de que a humanidade não tinha mais remédio. Saiu do chão e começou a voltar para casa. De repente, sentiu uma voz no seu coração que dizia: “Se queres encontrar teu próximo, se queres seguir acreditando na humanidade, deixa de fazer o tigre e começa a ser a raposa”.

Hoje a liturgia nos faz a seguinte pergunta: Qual é o maior mandamento da Lei? Basta um pouco de catequese para responder: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!’ Não é difícil dizer que se ama a Deus com todo o coração; ninguém vê o que levamos no nosso coração. Talvez, até dizemos e cremos que amamos a Deus, mas podemos estar enganados. Por isso, Jesus segue a resposta: “Amar a Deus com todo o coração é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,37-39). O amor ao próximo é semelhante ao amor de Deus; como insistia s. João, o amor ao próximo é um espelho do amor a Deus. “Se alguém diz que ama a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu” (I Jo 4, 20s).

Se Deus assemelha o amor a si com nosso amor ao próximo – porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes  (Mt 25,35s) – como podemos amar de verdade nosso próximo? Muitas vezes, achamos que amamos nosso próximo porque “não lhe fazemos o mal”. Mas será que isso é amor? A caridade não faz o mal ao próximo (Rom 13,10), mas Jesus nos diz que amar ao nosso próximo não é somente evitar o que lhe incomoda ou de fazer o mal, nem significa dar alguma moedinha, fazer algum tipo de bem. Não consiste nem em retribuir um bem recebido. A medida básica do amor ao próximo é amar nosso próximo como queremos ser amados por eles: aquilo que quereis que os outros vos façam, fazei vós a eles (Mt 7,12), pois com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também (Lc 6,21). Quantas vezes estamos sós, desapontados por algo, até frustrados e ninguém nos liga naquele momento que mais precisamos. Talvez, deste mesmo modo em que você se encontra, ou até pior de ti, alguém que conheces pode estar passando necessidade. Tu também podes ser hoje a lebre (raposa), por mais que te sintas um tigre. Não foi o que Jesus fez?

Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros (Jo 13,34). Jesus sabia que tinha chegado sua hora, a hora de passar deste mundo para voltar a seu Pai, sabia muito bem do sofrimento que lhe esperava e justo neste momento ofereceu tudo o que tinha: Se deu, ficando conosco na eucaristia, nos deu sua mãe, nos deixou a Igreja. Quando Ele mais precisava de consolo e atenção, pedia a seu Pai que perdoasse seus agressores. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Sempre podemos escolher amar ainda que estejamos limitados, sempre podemos escolher fazer o bem a quem necessita. Sempre? Sim, sempre podemos escolher por amar. Antes de fazer o bem, é preciso querer o bem do outro de verdade, amar sinceramente, sem compromissos, sem buscar algum tipo de recompensa; mas também não basta querer o bem, é necessário que esse amor se transforme em ações. Podemos passar por momentos difíceis, podemos até sentir tudo o contrário, mas como dizia S. João da Cruz, o amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado.

Como está meu amor a Deus? Será que o amo de verdade? É só ver se a minha vida é uma vida de amor e doação a Deus no meu próximo. Deus não vê as aparências, ele vê as necessidades de cada pessoa porque ele vê o nosso coração, como somos de verdade. Filhinhos, amemos porque o amor é de Deus e todo o que ama nasceu de Deus e conhece a Deus (I Jo 4,7).

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here