(Mc 14 – 15. Domingo de Ramos)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

Hosánna fílio Dávid: benedíctus qui vénit in nómine Dómini. Rex Ísrael; hosánna in excélsis.

Nós começamos esta celebração com este glorioso canto: “Hosana ao Filho de David. Bendito o que vem em nome do Senhor. É o Rei de Israel. Hosana nas alturas.” Deus tinha prometido a David um filho que reinaria para sempre, um filho que seria tido por Deus como um filho, o qual Deus sempre seria fiel e nunca desistiria dele. Seria filho de Deus. Este filho seria um rei que serviria a Deus e ao seu povo. De fato, o rei era aquele que realiza a união e dá identidade ao povo, dá alimento e tudo o necessário para a vida, é aquele que o protege. Porém os hebreus estavam sem rei. Os hebreus esperavam ardentemente esta libertação.

Jesus sobe a Jerusalém para ser coroado Rei. Ele mesmo tinha dito: “Eu sou rei. Foi para esta hora que eu vim!” Mas Jesus era consciente do que lhe esperava: “Meu Reino não é deste mundo!” Para que o seu Reino viesse a este mundo e desse muito fruto, era necessário que grão de trigo caísse na terra e morresse. Jesus é Rei e nos convida subir com ele a parte mais alta de Jerusalém, ao Calvário, para que Ele seja proclamado nosso Rei.  

Anos depois da morte e ressurreição de Cristo, aqueles que tinham aceitado a Jesus como seu Rei, seus discípulos e apóstolos, estavam por todas as partes do império romano. Era pela década de 60 do primeiro século, quando começaram as grandes perseguições contra os cristãos. S. Pedro estava em Roma. Quando o perigo estava cada vez mais iminente, a comunidade pediu incessantemente que ele deixasse a cidade para não ser morto como tantos outros no circo romano devorado pelas feras. Mesmo relutante, Pedro aceitou deixar a cidade para continuar sua missão de pastor da Igreja de Cristo. Pegou a estrada que ia para o sul da Itália, a Via Appia. Passada alguma hora de caminhada, Pedro se encontra com Jesus que carrega sua cruz em direção a Roma. Impressionado pelo fato, lhe pergunta: quo vadis Domine? E Jesus responde: “vou a Roma morrer pela segunda vez por ti.” Neste mesmo instante, Jesus desapareceu e Pedro entendeu o que Jesus queria que ele fizesse. “Não tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos!” Pedro volta a Roma para testemunhar seu amor pelo seu mestre, para testemunhar que Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo que tinha morrido pelos nossos pecados, era o seu Rei e Senhor.

Quem foi s. Pedro? Por que ele voltou atrás, sabendo o que lhe esperava em Roma? Pedro tinha uma característica especial. Como todos, ele era um homem. Como tantos outros, era uma pessoa frágil: impulsivo, soberbo e medroso. Como muitos, ele também tinha negado seu mestre, seus amigos e sua mesma identidade de discípulo de Cristo; quando Cristo mais precisava da sua amizade, ele respondeu: não o conheço! Neste mesmo momento, Jesus olhou para Pedro com muita dor e ao mesmo tempo com misericórdia. Pedro não buscou desculpas, mas ao contrário, reconheceu sua fragilidade e chorou amargamente mostrando seu arrependimento. Outro apóstolo também tinha negado seu mestre por 30 moedas de prata; também reconheceu seu erro e se arrependeu devolvendo as moedas. Jesus tinha avisado aos dois pouco antes de realizar a traição, a negação. A um lhe chama a atenção, lhe convida a orar com Ele mostrando sua dor e aceitação da vontade do Pai; a outro, lhe dá o primeiro pedaço de pão como gesto de predileção. Os dois reconheceram seu erro; somente Pedro confiou no amor infinito que seu mestre lhe tinha e se abandonou a sua misericórdia. Alguns dias depois da traição, já ressuscitado, levando consigo as marcas da sua paixão, Jesus perguntou três vezes a Pedro se lhe amava. Pedro não negou nada; não negou seu amor, muito menos a fraqueza do seu amor: “tu sabes tudo, sabes que te amo! Tu sabes tudo.”

Jesus sobe a Jerusalém para reinar. Reina na cruz, pois ali mostra seu grande poder: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem! Seu poder é capaz de vencer a mesma morte com sua ressurreição, o ódio com amor, é capaz de vencer o mal com o bem, com o perdão, com a misericórdia. A paixão de Cristo a suprema manifestação do amor que Deus nos tem. Tanto amou Deus ao mundo que enviou seu único Filho para que todos os que acreditem nele tenham a vida eterna. porque Deus não enviou seu Filho para condenar, mas para salvar e chamar os pecadores a conversão.

Pedro somente chegou a ser o representante de Cristo na terra porque experimentou o grande amor, este amor sem limites e incondicional que Cristo tinha por cada homem e mulher. “Mulher, ninguém te condenou; eu também não te condeno. Vai em paz e não torne a pecar.” Foi a experiência e a certeza deste amor que permitiu que Pedro confiasse no seu mestre e não quisesse ficar igual cada vez que se encontrava com suas limitações. Queremos acolher hoje a Cristo como o Rei e Senhor de nossas vidas e não fazer como os outros judeus que um dia aclamaram a Jesus como rei e somente depois de quatro dias o crucificaram? O segredo está em olhar para Cristo crucificado e deixar-se tocar pela sua misericórdia. Somente vamos dar a vida por alguém que conhecemos, que amamos e, sobretudo, que temos a certeza do seu amor.

Subamos com Cristo para Jerusalém nesta semana santa que está iniciando para contemplar cada gesto de amor que Cristo nos mostra. Seu Reino não é daqui porque vem do céu. Mas Ele quer implantar seu Reino de amor aqui nesta terra, em cada um dos nossos corações. Esta experiência da sua misericórdia nas nossas vidas por meio da oração e da confissão, é fundamental. Peçamos a Nossa Senhora, a Mãe das Dores, que nos acompanhe e nos leve até seu Filho e nos revele todo o amor do seu coração.

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