O que faz a vontade do Pai, este entrará no Reino dos Céus

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(Mt 21,28-32. TCA, XXVI)

“Muita coisa que ontem parecia importante ou significativa, amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso (…) ah, esse resistirá a todas as ciladas do tempo” (Caio F. Abreu). Existem coisas que são importantes na vida e outras que somente aparecem importantes, mas não deixam uma profunda pegada na nossa alma. Como distinguir se o que fazemos é verdadeiramente importante? S. João da Cruz tinha um lema de vida muito sábio que o ajudava viver cada dia naquilo que de verdade valia a pena: no entardecer da vida seremos julgados sobre o amor.

Uma vez, Jesus foi visitar uma família. Imaginem a alegria daquelas pessoas. O que você faria se o Papa chegasse hoje na sua casa e pedisse se ele poderia entrar para ficar contigo ali uns minutinhos? Sem dúvida alguns correriam para recebe-lo enquanto as outras pessoas da casa colocariam tudo em ordem; talvez alguém fosse preparar um café, ou até alguém começasse fazer fogo para um bom churrasco. Marta correu de um lado para o outro e tentava fazer tudo isso ao mesmo tempo: queria fazer algo para Jesus comer, preparar um suco para tirar a sua sede, arrumar o banheiro e um quarto para Jesus descansar depois do almoço. Que mulher generosa, pensou algum apóstolo que estava com Jesus. Contudo, ele a disse: Marta, Marta, tu te inquietas e te preocupas por muitas coisas; uma só é necessária. E ainda continuou: Maria – tua irmã que está aí sentada aparentemente sem fazer nada – escolheu a melhor parte que não lhe será tirada. Maria ficou aos pés de Jesus escutando-o. O que não daríamos para poder estar com Deus e escutar suas palavras?

A liturgia de hoje nos fala de dois filhos. É uma imagem de duas atitudes diversas que podemos ter na nossa vida de fé. Os dois filhos conhecem seu pai, sabem que ele busca o melhor para eles, para sua felicidade. O tempo passou; deixaram as fraudas, criaram barba e o pai os pede ajuda na sua vinha. Ide trabalhar na minha vinha. Na verdade, a vinha era deles, não só do pai; eles eram os primeiros beneficiários dos frutos da vinha; era a vinha quem os sustentava e proporcionava tudo o que eles precisavam para viver. Um filho disse que iria trabalhar e não foi; o outro não queria ir, mas depois foi. Nossa relação com Deus é como estes dois filhos: Deus nos revela seu amor, mostra o quanto Ele quer nosso bem, mostra que muitas pessoas vivem dos frutos do seu amor, mas parece não acabamos de compreender bem isso.

Segundo a última pesquisa do IBGE feita nove meses atrás, o Brasil conta com 50% de católicos. O que significa isso? De cada duas pessoas, uma se diz católica. Mas será que sabem o que é ser católico? Será que estas pessoas de verdade acreditam no grande amor que Deus tem por cada uma delas a ponto de enviar seu único Filho para que se fizesse nosso amigo e entregasse sua vida por nós? Será que para eles Deus é alguém vivo, uma parte necessária, o centro das suas vidas? De verdade? Será que eles confiam neste amor de Deus a ponto de abandonar-se totalmente nas suas mãos?

Como aqueles dois filhos do evangelho de hoje, uns dizem que são católicos, mas isso não faz nenhuma diferença substancial nas suas vidas e outros não afirmam ser católicos, mas talvez sim vivam melhor que muitos outros que se consideram católicos. A Igreja tem muitos filhos: alguns são maus, outros são indiferentes, outros são medíocres, outros são bonzinhos e outros são santos. E sua missão é ajudar a que todos possam chegar ao céu, que todos se salvem e cheguem ao conhecimento pleno da verdade. Mas como fazemos para entrar no céu? Jesus mesmo disse: não todo o que diz ‘Senhor, Senhor’, mas aquele que faz a vontade do meu Pai entrará no céu. Deus quer que sejamos felizes, quer que vivamos plenamente. Mas isso, depende muito de nós. Não basta se declarar católico e não viver numa relação de amizade com Deus. Como reconheço que alguém é meu amigo? Somente quando me ajuda nos momentos difíceis? Não. Se reconhece um amigo se essa pessoa se interessa por mim; se é assim, ela me ajudará nos momentos difíceis, mas estará comigo também nos momentos de alegria. Como afirmamos que cremos em Deus se nem conversamos todos os dias com este amigo? O Brasil é um dos países que passa mais tempo nas redes sociais; e cada dia, mais pessoas passam mais tempo junto a seu smartphone; também é o país que diminui na capacidade de relações de amizades autênticas, de tempo para dedicar aos amigos, de tempo para estar com Deus.

Jesus nos deixou um único mandamento, o mandamento do amor. Será que vivemos como Jesus viveu, servindo, perdoando, ajudando, abençoando, dando nossa vida pelos nossos amigos? Deus não nos chama a coerência de vida, Ele nos chama a santidade de vida; isso é muito mais. Santo é alguém capaz de amar e de dar-se totalmente pelo bem dos seus irmãos. O santo não é justo. Quem fica na justiça, nunca chega a amar. A justiça é somente a condição para poder amar, mas o amor começa quando se acaba o direito ou o dever. Tenho direito a vingança pelo mau que recebi; renuncio meu direito para poder perdoar e dar uma nova oportunidade a meu agressor. Tenho direito a difamar a quem me difamou; a lei do amor me diz que posso amar e mesmo assim responder o mal recebido com o bem.

Nosso problema não está em que existe muito mal no mundo e cada dia cresce; basta ver a violência do nosso país. Não é nem questão que mais pessoas deixam a fé católica. Nosso maior problema é que temos poucas pessoas que se atrevem a confiar na graça de Deus e em buscar a santidade. O problema verdadeiro é a ausência de pessoas verdadeiramente boas. Mas o que fazer se sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar? Quando perguntaram isso a Madre Teresa, ela respondeu assim: “o mar seria menor se lhe faltasse uma gota, se faltasse o seu amor… O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá… Não é o quanto fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos. Não é o quanto damos, mas quanto amor colocamos em dar… Quer fazer algo para promover a paz mundial? Vá para casa e AME a sua família”. Estamos num tempo onde se escuta muitos desejos de mudanças e reformas; as pessoas estão cansadas com a mediocridade, com a falsidade. Será que isso se aplica somente aos outros, ou podemos aplicar também às nossas vidas? Deus nos chama a santidade; ele me chama, ele te chama. Atreve-te a responder sim a Deus para viver uma autêntica relação com Deus, para deixar que a Sua Palavra modele e transforme nossas vidas, nosso modo de viver. Se hoje escutares a voz do Senhor, não endureçais os corações.

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