Por: Eline Carrano

Muita gente cita São Cipriano afirmando que ele foi um grande feiticeiro que se converteu após se casar com uma mulher cristã. Outros, que ele chegou até a virar um bispo católico e depois um mártir da Igreja, depois de anos de magias e ocultismo. Ao todo, as histórias acabam se misturando e confundindo todo mundo, virando lenda e ninguém acaba sabendo da verdade. Principalmente no Brasil e em Portugal, confunde-se muito essas duas personalidades que foram contemporâneos- sim, existem dois Cipriano’s! Porém, a diferença de suas vidas foi gritante. Citando primeiramente São Cipriano de Cartago,  deve-se destacar que ele foi realmente bispo do Cartago, no Norte da África entre 249 e 258. Deixou numerosos escritos teológicos, hoje em dia editados, que nada têm a ver com magia ou ocultismo. Gozou de grande fama e estima após a sua morte, pois foi um mártir heroico, que marcou a Igreja do seu tempo.

São Cipriano foi bispo do Cartago, no Norte da África entre 249 e 258.

Nascido em Cartago, no seio de uma rica família pagã, depois de uma juventude dissipada, Cipriano se converte ao cristianismo aos 35 anos. Ele mesmo narra seu itinerário espiritual: “Quando ainda jazia como em uma noite escura, me parecia sumamente difícil e fatigoso realizar o que me propunha a misericórdia de Deus. Estava ligado aos muitíssimos erros de minha vida passada, e não cria que pudesse libertar-me, até o ponto de que seguia os vícios e favorecia meus maus desejo. Mas depois, com a ajuda da água regeneradora, ficou lavada a miséria de minha vida precedente; uma luz soberana se difundiu em meu coração, um segundo nascimento me regenerou em um ser totalmente novo. De maneira maravilhosa começou a dissipar-se toda dúvida. Compreendia claramente que era terreno o que antes vivia em mim, na escravidão dos vícios da carne, e pelo contrário, era divino e celestial o que o Espírito Santo já havia gerado em mim” («A Donato», 3-4).  Logo depois de se converter, Cipriano foi ordenado sacerdote e em seguida se tornou bispo. Sofreu perseguições, mas se manteve sempre disciplinado em sua comunidade cristã. Nesse mesmo tempo de desafios evangelizadores e disciplinares, a África foi atingida por uma grave epidemia e que gerou questões teológicas angustiantes, tanto na comunidade em questão quanto em relação aos pagãos que ainda eram muitos.

“quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, fica na ilusão de permanecer na Igreja”

Cipriano, ficou conhecido por sua fidelidade à Igreja e por seus textos teológicos onde defendeu com firmeza o bom comportamento dos fiéis. De fato, a Igreja é seu tema preferido. Distingue entre Igreja visível, hierárquica, e Igreja invisível, mística, mas afirma com força que a Igreja é uma só, fundada sobre Pedro. Por várias vezes repete que “quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, fica na ilusão de permanecer na Igreja” (A unidade da Igreja Católica, 4). Ainda em tom de autoridade, afirma que “fora da Igreja não há salvação” (Epístola 4, 4 e 73,21), e que “não pode ter Deus como Pai que não tem a Igreja como mãe” (A unidade da Igreja Católica, 4). Característica irrenunciável da Igreja é a unidade, simbolizada pela túnica de Cristo sem costura (ibidem, 7): unidade que, segundo diz, encontra seu fundamento em Pedro (ibidem, 4) e sua perfeita realização na Eucaristia (Epístola 63, 13). “Só há um Deus, um só Cristo», exorta Cipriano, «uma só é sua Igreja, uma só fé, um só povo cristão, firmemente unido pelo fundamento da concórdia: e não pode separar-se o que por natureza é um” (A unidade da Igreja Católica, 23).  Além dessa fidelidade incondicional, Cipriano tem uma forte opinião sobre a oração. “Nossa oração é pública e comunitária e, quando rezamos, não rezamos só por nós, mas por todo o povo, pois somos uma só coisa com todo o povo” (A oração do Senhor, 8). Deste modo, oração pessoal e litúrgica se apresentam firmemente unidas entre si. Sua unidade se baseia no fato de que respondem à mesma Palavra de Deus. O cristão não diz “Pai meu”, mas “Pai nosso”, inclusive, no segredo de seu quarto fechado, pois sabe que em todo lugar, em toda circunstância, é membro de um mesmo Corpo. Assim, Cipriano- “o bispo abençoado” como era chamado- deixou claro suas origens da fecunda tradição teológico-espiritual que está no coração. Coração este que é considerado o local mais privilegiado da oração.

São Cipriano, padroeiro das religiões cristãs.

Já no caso de Cipriano, de codinome “Feiticeiro”, seu nome verdadeiro era Tascius Caecilius Cyprianus. Acredita-se que ele tenha nascido no ano de 250 d.C, em Chipre e vivido da Antioquia- região da Ásia que hoje pertence à Turquia. A região era na época conhecida pelos hábitos devassos e depravados da maioria de seus habitantes, costumes estes tão baixos que por inúmeras vezes chegaram a causar grande preocupação às administrações imperiais de Roma, governantes e, no então, proprietárias daquele território. Nascido em uma família rica e de crenças pagãs, ele seguiu os caminhos da feitiçaria e das ciências ocultas como alquimia, astrologia, adivinhação e outros tipos de magia. Diz a história de que aos 7 anos ele já era considerado um jovem mago que conseguia invocar trovões, ventos, formar tempestades marítimas e terrestres. Foi um homem que viajou por muitos países, aprendendo e ensinando feitiçaria. Viajou por vários países como Egito e Grécia e aos trinta anos decidiu ir para a Babilônia para conhecer a cultura oculta dos Caldeus. Muitos acreditam que ele é o autor do “Livro de capa preta”, mas não se sabe ao certo se isso é verdade. A obra contém pensamentos obtidos por centenas de viagens feitas por todo o mundo e relatos de rituais do mago. Nele estão diversos feitiços, exorcismos, magias e simpatias com múltiplas finalidades, inclusive para o cotidiano. É um livro dividido em 10 partes.

São Cipriano e Santa Justina, mártires católicos.

Contudo, a história desse homem mudaria na cidade de Antioquia, ao conhecer a jovem Justina. Rica e bela, foi educada nas tradições pagãs e tornou-se cristã, convertendo seus pais e se tornando extremamente devota à Cristo. Ao chegar a adolescência, Justina foi prometida em casamento ao jovem Aglaide, rico e apaixonado pela jovem. Contudo, Justina não queria aquela união e optou por manter-se virgem. O noivo ficou enfurecido e recorreu ao feiticeiro Cipriano, pedindo um feitiço para que a noiva se entregasse para o casamento. Mas, para surpresa dos envolvidos, nada aconteceu. Justina conseguia rebater a magia de Cipriano com orações e devoção. Ele investiu nas tentações demoníacas sobre o corpo da jovem, fez sacrifícios, usou dos mais avançados conhecimentos, mas nada foi capaz de fazer a moça sucumbir. Depois disso, a fé do feiticeiro ficou abalada e fez com que ele se voltasse contra o demônio e tudo aquilo que ele vinha praticando por tanto tempo. Nesse meio tempo, um amigo cristão, Eusébio, fez parte dessa conversão para uma nova vida. Cipriano se tornou católico, queimou seus livros de feitiços e distribuiu todos os seus bens aos pobres. Justina e Cipriano passaram a pregar a fé cristão por Antioquia. Depois de converter-se, Cipriano foi fortemente atormentado pelos espíritos de bruxas e demônios que o perseguiam, mas ele não vacilou, foi forte e manteve sua fé, afastando de si estas aparições malignas que pretendiam fazer com que ele retornasse aos caminhos do maligno.

Ao saber desses dois novos pregadores, o imperador romano, Diocleciano, mandou que eles fossem mortos- já que era proibida a prática do catolicismo na Nicomédia. Assim, Justina e Cipriano foram perseguidos e torturados até que renegassem sua fé. Como isso não aconteceu sob nenhuma hipótese, foram mortos decapitados às margens do Rio Galo na Nicomédia. Atualmente, ambos são canonizados e se tornaram padroeiros das religiões cristãs.

Fonte: Agnus Dei iCatólico Cleofas 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here