(Mt 18,15-20. TCA, XXIII)

Se teu irmão pecar, mostre o erro dele em particular; se ele te escutar terás ganho teu irmão (Mt 18,15). Santa Teresa de Jesus foi uma grande santa espanhola do século XVI. Ela foi a grande reformadora do Carmelo. Durante os anos em que passou reformando espiritualmente e fundando alguns conventos, ela conheceu um sacerdote que vivia em concubinato. Conta ela que o fato era conhecido por todo o povo. Em vez de sentir raiva ou ficar brava pelo mau testemunho deste pároco, ela sentiu profunda compaixão e começou a rezar e se sacrificar pela conversão desta alma. Um dia resolveu se confessar com ele, pois sabia que era Jesus que atuava através do confessor no sacramento. Abriu sua alma para ele; voltou a se confessar até que ele lhe pergunta: “Mas por que você vem se confessar frequentemente se seus pecados são leves?” “Para ganhar sua alma para Deus”, responde ela. “Sim padre, sua alma está numa situação deplorável; eu não quero que o senhor se perca e fique para sempre longe de Deus. Deixa tua concubina e vive tua vocação!” Pela oração e pelo exemplo daquela religiosa, o sacerdote rompeu com sua vida de pecado e voltou a viver em amizade e no serviço de Deus. Esta é a ousadia dos santos. Se seu irmão pecar, mostre o erro dele em particular; se ele te escutar terás ganho teu irmão. Imaginem a alegria de S. Teresa por ganhar novamente seu irmão sacerdote para Cristo?

O Evangelho de hoje nos fala sobre a correção fraterna. Então, Jesus liberou o falar mal dos outros, criticar, reclamar ou até focar nosso olhar nos defeitos dos outros? A correção fraterna exige muita liberdade interior, liberdade da própria soberba, do próprio orgulho, do próprio egoísmo e, ao mesmo tempo, muita maturidade e ousadia para deixar a própria zona de conforto, para vencer todo o respeito humano e ir ao encontro do nosso irmão que necessita. Quem ama, não é indiferente a vida do outro; as alegrias do outro são sua alegria, as tristezas do outro são suas tristezas; as preocupações do outro são suas preocupações; as ameaças do outro são também suas. “Se teu irmão pecar…” Quem não peca? Todos nós pecamos e muitas vezes; porém algumas delas, nem nos damos conta do mal que fazemos para nós mesmos e para os outros por viver a vida na correria, na superficialidade ou porque já nos acostumamos do mal que fazemos chegando a chamar este mal de “normal”, “natural” ou até de “bem”.

Uma vez, quando era missionário em um país da Europa e trabalhava com outro sacerdote na pastoral juvenil, tinha um mau costume; nem sempre chegava pontual. Até sabia que deveria ser mais pontual, mas não ligava muito pela precisão do tempo. Até que, um belo dia, outro padre me disse: “Olha Mairon, a pontualidade para mim é muito importante; chegar um ou dois minutos tarde, para mim faz a diferença e me incomoda porque não gosto de deixar as pessoas esperando”. Dito e feito. Eu sabia que chegava mais ou menos pontual, como a maioria dos brasileiros; é um fator cultural. Uma das poucas coisas que chega pontual aqui é a conta para pagar; do contrário tem juros! Mas já não se tratava de chegar ou não a tempo, mas se tratava do bem daquele outro sacerdote que trabalhávamos juntos. Aí me dei conta que este simples gesto, este detalhe quase insignificante fazia uma grande diferença para ele. E tentei mudar. Até o clima das nossas relações fraternas melhorou ainda mais do que era.

Se teu irmão pecar, mostre o erro dele em particular; se ele te escutar terás ganho teu irmão. A correção fraterna não se trata de apontar o dedo aos erros do outro. É muito mais. Se trata de ajudar o outro. Todos nós já tivemos esta experiência. Quantas vezes tínhamos que fazer um trabalho ou carregar algum peso, ainda que fosse as compras do supermercado e alguém nos viu e nos deu uma mão? Que alívio! Corrigir fraternalmente alguém, é ver que ele está levando um peso que lhe oprime, que talvez esteja até destruindo e não ficar indiferente ante sua necessidade, mas ajudar de verdade. Mas como se faz a correção fraterna. O Evangelho nos deixa uma recomendação muito clara: “Se teu irmão pecar, mostre o erro dele em particular…” Mas por que em particular? Isto nos deixa claro que sobre tudo está o respeito à pessoa e a busca sincera do seu bem. Corrigir fraternalmente não é viver como fiscais do trânsito que estão à caça de infrações para aplicar uma multa. Corrigir fraternalmente é sobretudo um ato de caridade, é buscar ajudar alguém que necessita. E, se buscamos ajudar um irmão necessitado, não é tão importante a correção, quanto a pessoa, o modo como comunicar esta correção é o melhor modo pelo qual ela possa receber este ato de caridade. Por isso o respeito à pessoa, não difamar pelos seus atos, não julgar nem muito menos condená-la; esperar o momento oportuno, encontrar as palavras certas. Jesus sempre condenou o pecado, não o pecador; até nas suas correções transparecia a bondade do seu coração: “Mulher, quem te condenou? Eu também não te condeno; vai em paz e não torne mais a pecar.”

Se teu irmão pecar, mostre o erro dele em particular; se ele te escutar terás ganho teu irmão. Terás ganho teu irmão. O significado do verbo original grego é ao mesmo tempo lucrar e evitar um perigo. Na verdade, não estão contrapostos. Se evitares a perda do teu irmão, o ganharás, ganharás que esteja no céu contigo.  Mas para que a correção fraterna seja verdadeira, para que a caridade e o desejo de ajudar o irmão seja sincero, é necessário estar disposto a deixar-se ajudar, deixar-se corrigir. Uma vez São Paulo chamou a atenção de São Pedro, porque diante dos cristãos vindos do judaísmo se comportava de um modo, mas quando eles não estavam presente se comportava de outro modo. Que coragem teve São Paulo e com que humildade reagiu São Pedro. Quando queremos de verdade o bem das pessoas, quando queremos ajudar sinceramente é porque estamos dispostos a que também outros nos ajudem.

Peçamos a Deus esta graça de estar cada vez mais livres de nós mesmos para amar sempre, para ajudar a todos os que precisam de nós, para não ficar indiferentes ante as necessidades dos nossos irmãos e para que sejamos corajosos para ganhar nossos irmãos para Deus indo ao encontro deles por meio da correção fraterna e aceitando com alegria essas correções que nos ajudam a crescer no amor.

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