(Mt 28,16-20)

Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.

Celebramos hoje a festa da família, a festa da Santíssima Trindade. A liturgia de hoje quer nos lembrar uma realidade muito profunda. Por isso a primeira leitura nos pergunta: existe algum povo que tenha ouvido a voz de Deus ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo? (Deut 4,32-34). Deus veio ao nosso encontro e nos escolheu. A mesma liturgia nos convida a reconhecer este grande presente de Deus, agradecê-lo e viver este grande dom: recebestes um espírito de filhos adotivos que os faz exclamar Abbá, ó Pai! Os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus. (cf. Rom 8,14-17). Somos filhos adotivos de Deus, para isso Deus nos criou: ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para que recebêssemos a condição de filhos (Gal 4,4-5). Não somente nos chamamos filhos de Deus, mas o somos realmente (I Jo 3,1). Somos filhos adotivos de Deus!

Filhos adotivos. Deus concedeu a minha família conviver com esta realidade desde pequeno. Minha vó materna teve nove filhos, adotou outra criança e ajudou a criar mais outra. Os filhos eram tratados da mesma forma, em casa e fora de casa. Depois, dois dos meus tios também adotaram crianças. Não porque não tivessem filhos, mas pela mesma necessidade das crianças sem pais que os cuidassem; eram meus primos e mereciam o mesmo respeito. Lembro quando uma das minhas tias adotou uma menina. Ela já tinha uns 13 anos. Na primeira grande festa da família, avisaram a todas as crianças da chegada do novo membro na nossa família, para que a acolhêssemos com todo amor e cuidado que ela merecia. Também tive amigos de infância que foram adotados; suas casas transpiravam o amor dos pais e o amor das pessoas que eram. Nosso mundo atual vive tempos contraditórios. Muitas crianças são impedidas pelo aborto de nascer e ver a luz de um dia enquanto outras são abandonadas por pais que não as querem ou não as podem acompanhar na vida e na educação. No final da história, quem é que sofre? As crianças.

Conhecemos muito bem a realidade de uma adoção. Muitas crianças trazem consigo traumas que às vezes são manifestados como indiferença, como ingratidão, como rebelião ou até violência. Apesar de todos estes desafios que a criança carrega consigo e que a família precisa saber ajudar a superar, a adoção também é fonte de alegrias. Ainda que existam matrimônios que busquem a adoção como o caminho para terem filhos, na maioria dos casos, o que motiva um matrimônio à adoção é o desejo de ser pai e de ser mãe, o desejo de dar a vida e amar aquela criança que não pode receber o amor de um pai e de uma mãe por ter ficado só e desprotegido na vida. Estes pais sabem que enfrentarão dificuldades, que esta nova vida mudará o ritmo das suas vidas, sabem que deverão se adaptar ao estilo desta nova vida, mas o amor, a vida que levam dentro de si, é mais forte que todo tipo de renúncias e morte pessoal que este novo membro possa ocasionar em suas vidas. Este amor se assemelha muito ao amor de Deus, um amor centrado naquilo que pode dar a quem necessita, um amor gratuito, um amor que tudo perdoa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Cor 13,7). Agradeçamos estes pais e estas mães por serem um sinal de como é o amor de Deus!

Quando este novo membro chega ao seio da família, não é visto como um estranho, como alguém de fora, mas como parte da família, como se sempre existisse. E, sem fazer nada, sem merecer, recebe toda a atenção, todo o cuidado, até mesmo o nome de filho e, juridicamente, o nome dos seus pais no seu próprio nome. A adoção divina difere em alguns pontos desta adoção humana, principalmente porque não somente nos chamamos filhos de Deus, mas o somos realmente. Se os filhos adotivos não têm as características físicas, o sangue de seus pais, eles podem adquirir as características do caráter e os traços espirituais da bondade dos seus pais. Deus nos dá mais que seu sangue, pois dá seu mesmo Espírito, sua vida divina para seguir vivendo em nós. Pelo batismo, nos tornamos filhos de Deus, parte integrante da família de Deus, herdeiro do céu (cf. Ef 2,19).

Geralmente, os filhos adotivos geram um especial amor aos pais que lhe tiraram da solidão, da pobreza, da exclusão e lhe deram amor, carinho e proteção. Espiritualmente falando, esta gratidão é a que gera os santos, pessoas pequenas e frágeis, mas que querem corresponder do melhor modo possível todo o amor que receberam deste Deus que lhes tirou do nada à vida partilhando da sua mesma vida divina. Não somos órfãos, temos um pai, temos uma mãe, a Virgem Maria, temos um irmão, Jesus Cristo, temos uma família, a Santíssima Trindade, e temos um lar, o céu. Nós recebemos este Espírito divino que nos faz exclamar Pai. Não estamos sós neste mundo; temos em quem confiar e abandonar nossa vida. Vivamos segundo este espírito que recebemos, busquemos a santidade, pois os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

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