(Lc 1,26-38. Advento B, IV)

Pe. Mairon Gavlik Mendes, LC

Pela fé, Maria deu a luz ao Salvador. Em pouco tempo e em poucas horas iremos celebrar o Natal. No dia 24 de dezembro vemos pessoas que correm para todos os lados para acabar de resolver o que ainda não conseguiram para que tudo esteja pronto pela noite: Presentes, ceia, almoço do dia de Natal, cartões, trabalhos de escritório… Talvez algum pai esteja atrás do pedido de Natal do seu filho, ou alguma lembrancinha para um parente querido. Temos todos os presentes à mão? Quem pensou no aniversariante do dia? Hoje à noite celebraremos o nascimento de Jesus. Será que Deus precisa algo? Será que temos algo que Lhe agrade? Passamos todo o Advento em preparação para este grande dia e o tempo já se foi.

Um dia, David queria fazer uma casa para Deus. Deus mesmo lhe manda dizer: “Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (2 S 7,12-16). Nesta noite de Natal, Deus realiza sua promessa: Um filho que reinará para sempre. Davi acreditou na promessa e por isso ela pode se realizar.

Como Deus vem ao mundo? Como Deus pode vir ao meu mundo, à minha vida? Deus envia seu mensageiro a Maria de Nazaré da Galileia: “Conceberás e darás a luz um filho, lhe porás o nome de Jesus, porque Deus salvará o povo dos seus pecados. Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra e o o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Foi pela fé de Maria que Deus entrou na história. Ao escutar as palavras do anjo, Maria disse “faça-se”, Maria acreditou em Deus e se abandonou completamente em suas mãos: “Sou uma folha em branco; escrevas o que queiras!”

“O que tenho entre mãos para oferecer a Jesus? O que posso te dar, pois pequenina sou. Te daria um cordeiro se eu fosse um pastor. Se eu fosse um rei mago, ouro daria, então. Já sei que te darei, te dou meu coração. Que posso te dar, para mostrar o meu amor? As estrelas sorriam para Ele com esplendor. Elas cantam e dançam na escuridão. Já sei que te darei, te dou meu coração”

(Prisminha)

Será que foi fácil a resposta, a fé de Maria? Não era o desejo de toda mulher do seu tempo e da sua religião ser a mãe do Messias? Mas como Maria iria explicar aos outros que o que ela levava em seu seio era obra de Deus? Quem era este Espírito do Senhor que a cobriria, que desposaria, que a protegeria? Cobrir a jovem era um gesto do ritual do casamento hebreu que significava que aquela jovem lhe pertencia e que ela estaria sobre seus cuidados. Ao dizer faça-se, ao dizer sim a Deus, Maria se abandona totalmente às mãos de Deus; não conta com mais ninguém. Sabe que a lei mosaica ordenava lapidar na frente da casa paterna na mesma noite da boda de casamento a mulher que não fosse encontrada virgem. A fé de Maria não é aderir a algumas verdades, mas fiar-se e abandonar-se completamente a ação divina nela. Ela não sabia grego para dizer genoito, nem latim, fiat; respondeu como boa judia: aman, amém: “Se queres isso Senhor, eu também o quero”. Mas esta resposta não é uma mera resignação; é a mesma resposta alegre e total do dia do casamento de alguém: “Eu quero me casar e passar toda minha vida contigo!” Por isso, poucas linhas depois, a Bíblia segue: “A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador porque olhou para a humildade da sua serva”.

Todo homem precisa dizer amém a algo ou alguém porque ele não domina, porque ele não é dono da própria existência. Ele passará toda sua vida à beira da fatalidade, do mero destino, da mesma morte, ou se abandonará nas mãos de Deus. A fé é o segredo para receber uma vida nova, uma vida que é eterna e que dá sentido a vida que vivemos agora, pois “Se o futuro não é certo, o presente se torna impossível e indigno de ser vivido” (Ratzinger). Hoje é Natal porque, pela fé, Maria concebeu e deu a luz a Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio nos salvar e mostrar quanto nos ama. Também será pela fé que vamos conceber e dar a luz ao Filho de Deus no nosso coração. Ele veio ao mundo para isso, para nos salvar, para dar a vida que tanto desejamos. Vou acolher a Jesus no meu coração? Como estará meu coração para receber o Rei dos reis? O que tenho para lhe oferecer?

“O que tenho entre mãos para oferecer a Jesus? O que posso te dar, pois pequenina sou. Te daria um cordeiro se eu fosse um pastor. Se eu fosse um rei mago, ouro daria, então. Já sei que te darei, te dou meu coração. Que posso te dar, para mostrar o meu amor? As estrelas sorriam para Ele com esplendor. Elas cantam e dançam na escuridão. Já sei que te darei, te dou meu coração” (Prisminha).  Deus só pede meu coração, só pede meu sim, meu amém, um abandono confiado e alegre para que Ele venha e reine no meu coração. Este será o motivo da nossa alegria, porque teremos a Deus conosco, porque teremos a Deus em nós. Assim poderemos cantar com o salmista: “Cantarei para sempre vosso amor, porque vosso amor é eterno, porque vossa fidelidade é mais firme que os céus. Senhor, sois meu Pai, sois meu Deus, sois minha Rocha onde encontro salvação”.

Abramos nosso coração para acolher de verdade este Deus que vem ao nosso encontro e abandonemo-nos nas mãos daquele que tanto nos amou a ponto de vir ao nosso encontro.


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