(Mc 6,1-6. TCB XIV)
Por: Pe. Mairon Gavlik, L.C.
A liturgia de hoje nos mostra a identidade de Jesus: homem verdadeiro – era o filho do carpinteiro, conheciam sua família, sua humilde origem – e Deus verdadeiro – capaz de realizar milagres –. Porém, para conhecer verdadeiramente Jesus, é necessário a fé. Na teologia liberal do século XIX, alguns teólogos insistiram tanto a importância da fé que caíram em uma fé sem raízes. Até chegaram a afirmar que não importa se, ao final, Jesus existiu ou não, o importante é a experiência de fé que se tenha com a sua pessoa. Porém, se isso fosse verdade, Jesus poderia se resumir em uma fábula, em algo bonito que nos transmite um valor, mas que no fundo não é realidade.
Alguns dias atrás, celebramos a festa dos santos Pedro e Paulo. Recentemente, até saiu no cinema um filme sobre a vida de s. Paulo. Saulo sabia muito bem da existência de Jesus e perseguia seus seguidores até o momento que Jesus mesmo foi ao seu encontro, caminho de Damasco: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Neste momento, Saulo se encontrou pela primeira vez com Jesus e soube que ele tinha verdadeiramente ressuscitado e estava presente em cada um dos que o seguiam. Quando Jesus ressuscitou, ele se apareceu aos apóstolos reunidos, mas não estavam todos presentes. Quando Tomé voltou, contaram-lhe com alegria que Jesus realmente tinha ressuscitado e veio até eles, mas ele não acreditou. “Se eu não puser meu dedo nas suas chagas e minha mão no seu lado, não acreditarei…”. Dias depois, Jesus veio novamente onde eles estavam reunidos e disse a Tomé: “coloca teu dedo nas minhas mãos e põe tua mão no meu lado aberto. Não seja incrédulo, mas fiel”. E Tomé respondeu: “meu Senhor e meu Deus”.
Jesus era verdadeiro homem: nasceu em Belém da Virgem Maria, foi educado, cresceu e viveu em Nazaré; tinha amigos e parentes. Mas Jesus era alguém mais que um simples homem. Quando ele foi a Nazaré, sua cidade Natal, já era bem conhecido pelos milagres que tinha realizado em outras cidades. Eles o conheciam, mas não tão bem assim. Por isso, s. Lucas nos conta que Jesus revelou sua verdadeira identidade na pregação que fez na sinagoga neste mesmo dia. A Leitura do profeta Isaías dizia assim: o espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade; proclamar um ano de graças da parte do Senhor” (Is 61, 1-2).
Imaginem a alegria com que Jesus revelou sua verdadeira identidade e missão: ele era o Messias prometido que libertaria Israel; ele veio para sarar, para trazer a graça de Deus e seus amigos e familiares eram os primeiros destinatários. Sem dúvida Jesus conhecia o sofrimento dos seus; era o momento de trazer alegria às suas dores. Porém s. Marcos acaba seu relato dizendo que Jesus não pode fazer milagre algum, admirou-se com a falta de fé deles. Jesus tinha proclamado um ano de jubileu, um ano de graças especiais e não foi acolhido porque “sabiam” quem ele era, de onde ele vinha e se estranhavam de onde vinha tanta sabedoria.
Sem a fé, Jesus não pode entrar em nossa vida para nos curar e oferecer a vida plena, a vida sem fim que tanto desejamos. É necessário crer nas suas palavras, crer na sua verdadeira identidade, crer na sua pessoa, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O homem do nosso tempo não quer saber muito de Deus; para muitos, é suficiente ter meios de subsistência e dinheiro na conta para os imprevistos da vida. Será que isto, será que uma felicidade parcial e momentânea sacia o nosso coração? Deus sabe que não, pois nos fez para si e nosso coração fica inquieto até não descansar nele, a fonte da vida. Jesus vem nos trazer esta Boa-Notícia: Deus é amor, Deus nos ama e quer nossa felicidade verdadeira. Por isso mandou seu Filho para que possamos ter vida eterna. Mas é necessário acolher de verdade a Deus em nossa vida, é necessário acreditar no seu amor porque somente assim vamos nos abandonar em seus braços. E crer em Deus, não consiste somente em dizer sim a sua pessoa de boca para fora. A fé, envolve toda nossa pessoa, toda nossa vida confiando nossa vida a Jesus e deixando que seus ensinamentos e seu amor transforme toda nossa vida.
Jesus Cristo é o único salvador, ontem, hoje e sempre! Somente Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, pode vencer a Satanás a quem o homem se subordina pelo pecado. Ele já venceu por nós dando sua vida na cruz, carregando sobre si o peso dos nossos pecados. Jesus quer acolher toda pessoa que aceita na sua mensagem de libertação. Nenhuma condenação pesa sobre os que estão em Cristo (Rm 8,1). Jesus nos propõe um plano de salvação e passa hoje em nossas vidas. Depende de nós acolher sua proposta de redenção e de graça, ou deixar que ele passe por nossa vida sem poder realizar esta transformação que desejamos. No tempo favorável, te escutei e no dia da salvação te ajudei. Eis agora o momento favorável; eis agora o dia da salvação (2 Cor 6,2).
Que Jesus não somente passe, mas que ele fique conosco e nos transforme. Ele quer nos conduzir às águas refrescantes, restaurar nossas forças para que possamos habitar na sua casa por longos dias (cf. Sal 23). Peçamos a Deus o dom da fé, o dom da adesão de toda nossa pessoa a sua Pessoa para que Ele possa realizar em nós suas grandes obras.