(Jo 20,1-9. Domingo de Ressurreição)

Pe. Mairon Gavlik. L.C.

Páscoa significa passar da culpa ao perdão, da morte à vida (S. Ambrósio). Hoje é um
dia tão esperado para muitos. Alguns passaram mais de 40 dias de especial oração e
penitência, outros fazendo pequenas mortificações como deixar de comer doces. Mas
por que é tão importante este dia? Quando era pequeno, gostava muito da páscoa porque
ganhava muitos ovos de chocolate. Não entendia muito bem o porquê do ovo, mas sim
do chocolate. Somente depois fui entender o sentido do ovo de páscoa, pois o ovo leva
em si a potencialidade de uma nova vida. A páscoa significa passar da culpa ao perdão,
da morte à vida.

Um homem devia dez mil talentos. Como ele não tinha com que pagar, seu senhor
ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar
a dívida. Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um
prazo, e eu te pagarei tudo! Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e
perdoou-lhe a dívida" (Mt 18,24-27). Jesus nos ensina como perdoar, porque Ele nos
perdoa dando assim o exemplo. De que Jesus nos perdoa? Por que Ele se fez homem e
morreu numa cruz? Após ter sido criado por Deus e colocado por Ele como
administrador da sua criação visível, o homem desconfiou de Deus desobedecendo-o.
Desde então, o homem segue desconfiando de Deus, segue desobedecendo e segue
fazendo o mal a si mesmo e a muitas outras pessoas.

Muitos homens não querem escutar que fizeram o mal a outras pessoas, muito menos
que são culpados por algo, porque perderam o sentido da responsabilidade, porque não
querem enfrentar e aceitar as consequências das próprias decisões, porque o mal que
fizeram a outros pesa muito sobre seus ombros. Mas esta culpa que levam, esta má
imagem que têm de si, esta falta de paz não os fazem mais humildes e amáveis; pelo
contrário, como não podem anular esta voz, buscam descontar tudo isso nas pessoas que
lhes estão mais próximas. Essa culpa faz mal para eles e para os que vivem ao seu redor.
Precisamos distinguir entre dois sentimentos de culpa. Os que provem do externo, da
cultura, ou até mesmo da educação daqueles que têm uma causa real, do sentimento de
culpa que provem do nosso interior, da consciência que mostra que fizemos escolhas
erradas, fruto da nossa liberdade mal usada em mentiras, fraudes, adultérios, abortos,
mortes. Muitos tentam ignorar esta voz, mas, por mais que busquem convencer a si
mesmos que não aconteceu nada, a ferida segue sangrando dentro de nós. O único
caminho para sair desta situação de dívida é o perdão. Reconhecer o mal feito, aceitar
suas consequências, pedir perdão e reparar os danos. Nesta páscoa, Cristo nos oferece
seu perdão. Quer que passemos da condição de culpados a perdoados, de condenados a
livres, de mortos a vivos. Jesus morreu e ressuscitou por nós para nos reconciliar com
seu Pai perdoando nossos pecados, para acolher seu amor que nos faz filhos.
Muitas vezes, é difícil que este perdão penetre nosso coração porque comparamos tudo
segundo nossas medidas humanas. Quantas vezes escutamos falar: até te perdoo, mas
não esqueço do que você fez! O Evangelho de hoje nos convida a correr até o sepulcro
para ver o lugar onde colocaram Jesus, os panos intactos, o sepulcro vazio. Convida-nos

a reconhecer que foram nossas culpas as responsáveis pela morte tão atroz de Cristo,
convida-nos a, como a Madalena, buscar onde colocaram aquele que deu um novo
sentido a nossa vida, pois quem procura, acha. Jesus quer nos chamar pelo nosso nome
e mostrar o que fizeram nossos pecados, suas feridas. Jesus ressuscitou e as chagas que
vertiam sangue, agora são chagas gloriosas, sinal do grande amor que Ele tem por cada
um de nós. Foi por suas chagas que fomos curados (Is 53). Quando Deus nos perdoa,
Ele cancela, destrói nossas culpas (Miq 7,19). Pelo sangue de Cristo, somos purificados
das obras mortas da nossa consciência para render culto ao Deus vivo (Heb 9,14).
Quem nos separará do amor de Cristo? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não
nos dará também com ele todas as coisas? Quem poderia acusar os escolhidos de
Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou
melhor, que ressuscitou, que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós!
(Rom 8, 31-34).
Deus se encarnou e morreu por nós para nos salvar. Que este dia seja um dia de
celebração, que seja um dia de passagem à uma nova vida. Que a experiência do perdão
de Deus recebido na confissão permita que este sangue de Cristo não fique estéril no
nosso coração. É reconhecendo nossos pecados que nos damos conta que precisamos
misericórdia; e Cristo quer que experimentemos o grande amor que nos tem. Que este
ano seja mais consciente e unido àquele nos amou e se entregou por nós (cf. Gal 2,20).
Se, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à
direita de Deus (Col 3,1).

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