(Mt 2, 1-12. Festa da Epifania do Senhor B)
Pe. Mairon Gavlik Mendes, LC
Todos conhecem a história dos três reis magos que viajaram do Oriente a Belém para adorar a Jesus e lhe oferecer ouro, incenso e mirra. Na realidade não eram três, mas quatro reis magos (cf. Henry Van Dyke). O quarto rei era um rico médico chamado Artaban. Ele era alto, de olhos bem escuros; tinha a mente de um sábio e um coração bondoso. Ele também viu a nova estrela surgir e teve o desejo de segui-la. Conhecia muito bem a profecia. Antes de partir, disse aos seus amigos sábios: “Aprendemos que à luz de uma nova estrela nasceria um grande profeta que daria aos homens a vida imortal e faria os mortos viver outra vez! Com Gaspar, Melchior e Baltazar vou para Jerusalém para ver e adorar o Prometido Rei de Israel. Vendi a minha casa e tudo o que possuo e comprei estas jóias: uma safira, um rubi e uma pérola para oferecer ao Rei. Convido-os para virem comigo nesta peregrinação para juntos adorarmos ao rei!”
“Isso é um sonho; nenhum rei vai nascer!” Responderam os outros e o deixaram só. Artaban viu de novo a estrela e disse a si mesmo: “O Rei vai chegar e eu vou encontrá-lo.” Chegando perto do lugar de encontro para a partida dos quatro reis, percebeu que tinha um homem jogado por terra. Desceu do seu cavalo, examinou-o e deu-o por quase morto. Pensou consigo: “O que devo fazer? Se me demorar, meus amigos irão sem mim, mas se eu deixar este homem jogado aqui, morrerá em breve.” Ele não duvidou; tratou-o por muitos dias até que ele se recuperou. Depois disso, saiu ao encontro de seus amigos.
No lugar de encontro, achou somente um pergaminho com a seguinte mensagem: “Não pudemos esperar mais, vamos ao encontro do Rei de Israel. Siga-nos através do deserto.” E ele foi sozinho seguindo a estrela até Belém. A pequena vila parecia deserta. Artaban ouviu a voz de uma mulher cantando suavemente, entrou e encontrou uma jovem mãe acalentando o seu bebê. Ela lhe falou dos outros três magos que vieram guiados por uma estrela ao lugar onde José de Nazaré, sua esposa Maria e o seu bebê estavam hospedados. Eles trouxeram presentes para o menino e logo depois desapareceram juntamente com a família, talvez para o Egito. Subitamente, ouviu-se uma grande comoção nas ruas: gritos de dor, “não matem meu filho”. Bateram na porta da casa onde estava o rei, a mãe e a criança se esconderam. Artaban colocou-se em frente à porta da casa impedindo a entrada dos soldados. “Estou sozinho aqui esperando para dar esta jóia ao prudente capitão que vai me deixar em paz.” Acreditando na história os soldados gritaram “Marchem, não há criança aqui!” E Artaban, olhando para cima orou: “Deus da Verdade, perdoa o meu pecado! Eu disse uma coisa que não era, para salvar uma criança. E dei aos homens o que havia reservado para Deus. Poderei ainda ser digno de ver a face do Rei?” Saiu dali e foi para o Egito. Lá, procurou o conselho de um velho rabi que lhe falou das profecias e do sofrimento do Messias prometido: “Lembre-se, o Rei que procuras não o vais encontrar num palácio ou entre os ricos e poderosos, mas entre os pobres e os humildes”. Artaban passou por lugares onde a fome era grande, morou em cidades onde os doentes morriam na miséria. Encontrou um mundo cheio de angústia; não achou ninguém para adorar, mas muitos para ajudar. E assim passaram 33 anos na esperança de achar a família de Belém.
Certo dia, resolveu passar a páscoa em Jerusalém. Chegando lá, viu uma grande confusão. Perguntou para umas mulheres o que estava acontecendo: “Dois ladrões vão ser crucificados e com eles, um homem chamado Jesus de Nazaré, que dizem que fez coisas maravilhosas entre o povo. Mas os sacerdotes exigiram a sua morte, porque afirmava ser o Filho de Deus”. Assim, Artaban se viu novamente em um momento de desafio. “Agora é o tempo de oferecer a minha pérola para livrar da morte o meu Rei!” pensou. Ao seguir a multidão, apareceu um grupo de soldados arrastando uma mulher da sua terra que o reconheceu: “Tem piedade, salva-me, pois vão me vender como escrava!” Artaban tremeu. Era o velho conflito da sua alma entre a fé, a esperança e o impulso do amor. Os presentes reservados ao grande Rei tinham sido dados aos homens. Ele pegou a pérola e colocou-a na mão da moça: “Este é o último dos tesouros que guardei para o Rei!” De repente, a terra tremeu fortemente; uma telha desprendeu-se e feriu o velho mago na cabeça. Caiu no chão com a cabeça nos ombros da jovem; ela ouviu uma voz suave e o velho mago respondeu na sua própria língua: “Não meu Senhor! Quando te vi com fome e te dei de comer? Ou com sede e te dei de beber? Ou quando te vi enfermo ou na prisão e fui te ver? Por 33 anos eu te procurei, mas nunca vi a tua face, nem te servi, meu Rei!” E um som veio dos céus: “Em verdade te digo que quando o fizeste a um destes meus irmãos a mim o fizeste!” Uma alegria radiante iluminou a face de Artaban e um suspiro aliviado saiu de seus lábios. A viagem para ele havia terminado. O quarto mago, compreendeu que havia encontrado o seu Rei durante toda a sua vida.
Estamos celebrando a festa da grande manifestação de Deus a todos os homens; Deus que veio ao mundo para salvar os homens, convida a todos os homens ara vir até Ele. Manda os anjos aos pastores e uma estrela aos magos do oriente; todos estão chamados a adorá-lo e encher-se de alegria. Diante do nascimento do grande Rei, podemos ter várias atitudes. Herodes acolheu a grande notícia com medo de perder algo. Convocou os sacerdotes, não para conhecer a verdade, mas para poder seguir sua mentira de vida à custa do que fosse; só lhe interessava tirar vantagem. Herodes é a figura daquele que já fez sua eleição pela sua verdade, pela sua vontade, não pela Verdade, pela sábia Vontade de Deus. Para ele, não existe epifania, não existe manifestação de Deus na sua vida porque ele não quer ver outra coisa que a si mesmo; prefere ficar na escuridão dos seus míopes horizontes, das “suas verdades” que abrir-se à luz da Verdade. Quantos sabemos muito bem onde podemos encontrar a Jesus, o que se necessita para poder segui-lo, mas quantos temos esta valentia dos reis magos para colocar-se a caminho seguindo a Estrela?
O evangelho de hoje mostra outra atitude a seguir. São estes homens sábios, os reis magos que buscam um sentido profundo a própria existência. São sábios, não porque conhecem muitas coisas, mas porque são pessoas atentas aos sinais da verdade e porque estão dispostos a encontrá-la. Quando descobrem algum sinal, nenhuma dificuldade é grande, nem mesmo o deserto. “Vimos sua estrela e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2). Estes homens que partiram rumo ao desconhecido eram pessoas de coração inquieto que não se contentavam com o passar dos dias, mas desejavam algo maior; homens movidos pela busca da verdade, da justiça e do amor, homens que desejavam ver o rosto de Deus e o bem de seus irmãos. Talvez fossem eruditos, mas não de um conhecimento qualquer; sobretudo queriam saber o essencial, saber como se consegue ser uma boa pessoa. Sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho em busca da verdade sobre Deus e sobre o mundo. Eram homens que buscavam e caminhavam ao encontro de Deus. É na oração onde se realiza esta peregrinação interior da fé para Deus; em certo modo, ali se realiza o nosso desejo de Deus. Mas para encontrar a Deus, não basta o desejo; é necessário ter a coragem de acolher o sinal de Deus e sair por caminhos desconhecidos e cheio de perigos. Os Magos seguiram a estrela e chegaram a Jesus, à grande Luz que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem (cf. Jo 1, 9). Como peregrinos da fé, os Magos tornaram-se eles mesmos estrelas que brilham no céu da história e nos indicam a estrada. Os santos são as verdadeiras constelações de Deus, que iluminam as noites deste mundo e nos guiam (cf. Bento XVI, 2013).
É necessário fé, esperança, humildade e desprendimento das próprias seguranças para poder adorar o Senhor. Adorar a Deus é reconhecer sua absoluta soberania, pois ele é o Senhor do céu e da terra, o nosso criador, aquele que nos mantém na vida e nos cuida. O encontramos em muitos lugares, sobretudo nos irmãos que mais necessitam da nossa ajuda. Porém, a adoração que Ele deseja é uma adoração existencial. Por isso os magos voltaram por outro caminho! O encontro com o Rei dos reis, quando é verdadeiro, muda nossa vida, da um sentido que nos enche de alegria; é um tesouro que não podemos guardar para nós mesmo. Que Deus nos conceda a graça de encontra-lo, de adorá-lo e testemunhar sua grandeza, seu amor a todos os homens.