Muito estimados em Jesus Cristo:
Como todos os anos, nesta solenidade de Cristo Rei, os membros do
Regnum Christi, em todos os países e localidades, se reunem para agradecer
a Deus seus dons; de modo particular o dom do Regnum Christi e nossa
vocação dentro desta obra de Deus. Este ano é especial de algum modo, porque com o passar do mesmo e sobretudo nestes três últimos meses, estivemos reunindo-nos para orar e refletir sobre o que Deus quer do Movimento. Tivemos as assembleias
territoriais e manifestamos opiniões e preferências com responsabilidade.
A vida do Regnum Christi, como a vida da Igreja, é uma realidade divinohumana.
São duas dimensões que vão juntas. Sabemos, por uma parte, que o
Reino de Cristo não é deste mundo e, por outra parte, nossa missão como
apóstolos é ser instrumentos para que esse Reino esteja presente no mundo.
É Deus quem está na origem e nos manifesta sua vontade, mas nós devemos
escutá-la e traduzi-la em vida. O que Jesus Cristo Rei do universo, Rei da vida e da História, quer neste momento para todo o Regnum Christi? Sem dúvida, quer nos ajudar neste processo, um tanto longo e complicado, para que tenhamos um Estatuto
renovado, de acordo com o desenvolvimento que tivemos nos últimos anos.
Mas sem dúvida quer algo mais importante e mais profundo. O que quer para
cada um de nós?
Faz alguns dias, rezando o breviário, encontrei como leitura um texto de S.
Agostinho a Proba. Nele se faz um belo comentário sobre a oração do painosso.
Comenta que na oração do Senhor estão contidas todas as orações que
podemos fazer. Pensei que em nossa petição que rezamos todos os dias:
«Cristo Rei nosso, venha a nós o vosso Reino!», acontece o mesmo. Nesta
petição: que venha o vosso Reino, de certo modo está contido o que Ele quer
para cada um e também tudo o que necessitamos e queremos. Está contido
sinteticamente todo nosso carisma, espiritualidade e missão. No número 13 §1 do Esboço do Estatuto se faz referência ao reinado de Jesus Cristo:
O testemunho, anúncio e crescimento do Reino de Cristo constitui o ideal que inspira
e dirige o Movimento. Seu lema «Cristo Rei nosso, venha a nós o vosso Reino!»,
expressa este desejo. Por isso, os membros do Regnum Christi, secundando as
inspirações do Espírito Santo:
1.º procuram revestir-se de Cristo em seu coração e em suas obras, para que reine
em suas vidas por meio da progressiva configuração com Ele; e
2.º se deixam penetrar e mover pelo amor de Cristo para todas as pessoas,
procurando que Ele reine no coração dos homens e da sociedade. «Cristo Rei nosso, venha a nós o vosso Reino!», Temo-lo que dizer hoje com desejo, agradecimento, convicção, alegria, compromisso e esperança. Esta oração comum para todos os dias é também o que pedimos agora que estamos terminando as assembleias territoriais.
Que venha seu Reino! Que venha seu Regnum Christi!
O Regnum Christi, como a Igreja —sancta et sanctificanda— sempre deve estar num caminho de conversão e renovação. Neste sentido, Paulo VI dizia com força: «A Igreja deve aprofundar na consciência de si mesma, deve meditar sobre o mistério que lhe é próprio». Mais adiante acrescenta: « Desta nossa consciência esclarecida e ativa […] nasce a necessidade nobre e quase impaciente de se renovar, isto é, emendar os defeitos, que aquela reflexão, como exame interior feito diante do modelo, que nos deixou
Cristo de si mesmo, descobre e repele » (Ecclesiam suam, 3).
Como instituição estamos neste processo. Nas circunstâncias atuais Deus
nos pede que sejamos instrumentos vivos e inteligentes para procurar estruturas e esquemas humanos que são importantes, mas sempre acidentais e passageiros, com o fim de institucionalizar dentro da Igreja o que é e foi o Regnum Christi. Como dom de Deus para nós e para a Igreja o carisma não se esgota nas estruturas e definições humanas. Vai muito além. Desde as primeiras incorporações em 1968, faz quase 50 anos, somos milhares que encontramos e seguimos a Jesus Cristo de uma forma pessoal no Regnum Christi, sem muita preocupação pelas estruturas humanas. É verdade que nos ajudaram as
equipes, as seções, os manuais e outros elementos, mas o fundamental foi a
espiritualidade centrada em Cristo.
Cada um de nós, membros do Regnum Christi de todos os ramos, com todas
as experiências de vida que tivemos, também estamos sempre num processo,
nunca terminado, de transformação em Cristo, Senhor da vida e da história,
Rei de cada um e Senhor do Regnum Christi. Este caminho de conversão, de renovação, pede-nos, deve-nos levar a uma maior vida de oração e união com Cristo, «porque sem mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). É muito edificante e exemplar comprovar como nestes
tempos, de frente aos desafios que temos por diante, em alguns territórios e nos diversos ramos do Movimento, aumentou em profundidade e intensidade a vida de oração. É nossa sede de Deus que nos leva a orar juntos, e a pedir a Cristo Rei, presente na Eucaristia, aquela água viva que nos renova e transforma eficazmente nele.
Por isso, quando celebrarmos na própria localidade a solenidade de Cristo Rei, festa titular de nosso Movimento, temos que pedir com muito ardor a Deus que nos conceda que o Movimento seja seu Regnum Christi. Mas só o será se cada um de nós acolhermos a Jesus Cristo em nosso coração e em nossas obras e nos configurarmos a Ele. Temos que pedir isto com força, convicção e perseverança. O que desejamos ao pedir com fé e esperança para o presente e o futuro que venha o seu Reino? Pedimos que nos dê sua graça que nos faz aspirar a ser dele e nos compromete realmente a que Ele seja quem reine em nossos corações e transforme nossas almas em Sua morada, tirando as manifestações de individualismo e egoísmo. Pedimos que nos limpe de todo respingo de mundo e apego à mundanidade e que nos fortaleça para fazer de verdade frente aos inimigos de nossa alma.
Quando pedimos que venha seu Reino de amor, queremos que transforme nosso coração e nos permita amar como Ele ama; sabendo acolher e amar a nossos irmãos e irmãs no
Movimento com suas qualidades e fragilidades, com suas idéias e aspirações; sabendo encontrar a Jesus Cristo que habita no coração de cada um.
Quando pedimos que venha seu Reino de justiça e de paz, desejamos que nos permita viver uma renovada comunhão segundo o que Ele realmente deseja; e queremos que nos ilumine, que não permita que as considerações puramente humanas nos afetem no que apresentemos à Santa Sé depois da primeira Assembleia Geral do Regnum Christi. Quando pedimos que venha seu Reino, dizemos que nos conceda ser apóstolos mais aguerridos, de algum jeito incansáveis, porque «a messe é grande e os operários poucos» (Mt 9,37). Isto é o que por minha parte peço a Deus, Nosso Senhor, para cada um dos membros do Movimento: que, nesta solenidade de Cristo Rei, conceda-nos que venha o seu Reino a nosso coração e nos siga transformando em melhores filhos dele e audazes apóstolos de seu Reino no mundo ao serviço da Igreja para a salvação das almas.
Seu irmão em Cristo,
P. Eduardo Robles-Gil, L.C.
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