(Mt 25,31-46. TCA, XXXIIII)

Por: Pe. Mairon Gavlik Mendes, LC

A liturgia de hoje apresenta a Cristo, Rei e juiz universal. Ao escutar “Cristo, juiz universal”, vem a mente a pintura de Michelangelo na Capela Sistina que leva o nome “Juízo universal”. Cristo se apresenta no centro superior da imagem; em seu corpo glorioso, é representado com rosto sereno e sério; seu braço direito mostra a autoridade que tem. Todas as outras figuras circulam segundo a sua ordem. Alguns anjos levam os troféus merecidos na paixão de Cristo: a cruz, a coroa de espinhos, os cravos que transpassaram seus membros. Nessa grande imagem, vemos muitos anjos e pessoas, cada um dirigindo-se eternamente ao lugar escolhido durante suas vidas. Alguns levam consigo o sinal da sua fé posta a prova no martírio, outros as representações dos seus vícios. Os que estão à direita de Cristo, são levados pelos anjos ao céu; seus rostos demostram alívio e paz. Os que estão à esquerda de Cristo, são arrastados pelos demônios para o inferno. Não só seus rostos, mas todo seu corpo expressam o desespero de uma sentença irrevocável. Tudo é transparente: alegrias, tristezas, as mesmas obras ocultas durante a vida.

Cristo Rei vem para julgar os vivos e os mortos. Diante de Deus, diante da verdade das nossas vidas, não existem desculpas, não existe subornos, não existe corrupção. O homem é um ser vivo que se acostuma com muitas coisas nesta vida: se acostuma com um frio extremo – como no caso dos esquimós –, se acostuma com o calor, com um certo tipo de alimentação; chega até se resignar ante uma escravidão dolorosa. Porém existe algo que o homem não é capaz de se acostumar: a injustiça. Criado a imagem do Deus amor, criado para o amor, para o bem e para a verdade, o homem não vive em paz se sente que é objeto de uma injustiça. E quantas vidas são escritas com a tinta da injustiça? Campos de concentração, exploração, roubos, assassinatos. Sem a fé no juízo final, a mesma história acaba sendo escandalosa e muitas vezes sem sentido. Nossas obras serão julgadas algum dia por um tribunal superior; todos nós passaremos por ali.

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, criador do céu e da terra e em Jesus Cristo seu único Filho, Nosso Senhor, que virá a julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. O verdadeiro juízo já começou e Deus não se deixa corromper; nós mesmos, nossas ações serão nossos juízes. Ele mesmo diz: “Se tens um adversário, faz a paz com ele antes que ele te leve ao juiz. Porque não sairás de lá até pagares o último centavo.” Jesus nos convida a conversão enquanto ainda é tempo de mudar. O mesmo Cristo, juiz universal, é o Cristo bom pastor. Ele nos chama a seu rebanho, nos dá a oportunidade de que nossa história seja diversa, sobretudo nosso lugar definitivo. “De que serve o homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” Cristo vem manso e humilde. Ele é um rei diverso dos outros. Não conquista pela força física, mas pela força de atração que sua pessoa exerce sobre todos os que se encontram com Ele. Sua coroa não é de ouro, mas de espinhos para nos lembrar que muitas vezes nós o fizemos sofrer por escolher o caminho que nos tira a vida. Seu trono não é de jaspe ou marfim; é um lenho não bem acabado, uma cruz banhada de sangue, pois para Cristo, reinar não é oprimir, mas doar a própria vida para que os outros tenham vida. Seu Reino não é geográfico; Ele mesmo disse a Pilatos: meu reino não é deste mundo. O Reino de Cristo não se mede em quilômetros quadrados; Ele reina no coração de todos aqueles que o acolhem com fé.

Cristo Rei mostra sua autoridade. Ele é Deus, Senhor dos céus e da terra; pelo seu dedo tudo foi criado. Como vemos nesta imagem, toda a criação obedece ao mais leve gesto da sua mão. Porém este rei é diverso. Não vem para tirar a vida, mas para dá-la; não vem para obrigar, mas para nos ensinar a verdadeira liberdade; daqueles que são livres de si mesmos, livres do egoísmo, livre de toda forma de escravidão; veio nos ensinar a liberdade dos filhos de Deus, aquela experiência de ser amados por nós mesmos, amados por aquilo que nós somos, não tanto por aquilo que fazemos. Este juiz vem para nos salvar, não para nos condenar. Ele vem nos oferecer o caminho para ir ao céu: a cruz. A cruz de aceitar nossa verdade e converter toda nossa vida àquele que nos pode dar vida eterna, a cruz que nos permite que Ele nos ame, nos cure e transforme nossas vidas. Acolhamos este rei na nossa vida e o sirvamos caminhando atrás dele para o reino que jamais terá fim.

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