(Jo 15,1-8)
Pe. Mairon Gavlik, L.C.
“Esta é a vontade do meu Pai: que sejais meus discípulos e que deis muitos frutos.” Uns dias atrás, um amigo veio me contar o seguinte fato: Ele foi convidado para dar uma palestra para jovens universitários. Ao chegar, entrou no auditório e viu que estava lotado. Os alunos estavam ali, mas nem sabiam qual seria o tema específico da palestra, somente sabiam que seria um tema de atualidade laboral. E lá começou ele com a seguinte pergunta: o que é o sucesso? Silêncio. “Pode responder, isso não é uma pergunta retórica”, disse ele. Alguns deixaram o celular de lado e começaram a responder: “para mim sucesso é ter dinheiro”, “para mim sucesso é ser reconhecido profissionalmente”, “para mim sucesso é ter um trabalho que me orgulhe…” e assim cada um ia dizendo o que pensava. Foram várias as respostas.
“Alguém mais pensa que o sucesso é algo diverso do que foi dito e gostaria de partilhar?”, perguntou o palestrante, mas não teve resposta.
“Então, para mim o sucesso é ser feliz”, continuou, “De que adianta o dinheiro, o cargo, o reconhecimento, se não sou feliz? O dinheiro, o cargo, o reconhecimento são meios para chegar a um fim, a felicidade e não são fins em si mesmo. Posso ter dinheiro, o cargo, o reconhecimento e não ser feliz, como posso não tê-los e ser feliz. Ter sucesso na vida é ser feliz, profundamente feliz e realizado.”
Jesus nos diz que a vontade do seu pai é que tenhamos sucesso, verdadeiro sucesso na nossa vida. “De que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma?” Jesus nos ensina o caminho para a felicidade, para ter sucesso nesta vida, para não chegar no último dia da nossa existência, com um pé no caixão, olhar para trás e dizer: “se eu soubesse que a vida era isso, não teria feito isso, teria feito aquilo”. Como nossa vida é um viver dinâmico e ativo, precisamos duas pernas sincronizadas caminhando para a mesma direção, se queremos conseguir algo. O primeiro passo para a felicidade é ser discípulo de Cristo.
Quem é o discípulo?
Discípulo significa aquele que aprende do seu mestre. Aprende escutando seus ensinamentos, vendo suas ações, tirando dúvidas, convivendo com ele até aprender tudo o que ele tem para nos transmitir, não só conceitos. Quem lembra Karatê Kid 3? Nele podemos ver como Daniel LaRusso, o Daniel San, aprende do Sr. Miyagi, não somente uma arte marcial, mas a mesma arte da vida. Ser discípulo de Cristo significa sobretudo conhecer os segredos do seu coração, o amor de seu Pai. Por que Jesus chegou a falar que seu alimento era fazer a vontade do seu Pai? Porque ele sabia quanto o seu Pai o amava, pois deu-se totalmente ao seu Filho – tudo recebi do meu Pai – e estava disposto a dar tudo o que tinha, seu mesmo Filho, para mostrar quanto queria o nosso bem. Quem tem a graça de conhecer este amor paterno, gratuito, incondicional de Deus Pai as nossas almas, já deu o primeiro passo para o sucesso. E como é uma graça, nós devemos pedir e colaborar com Deus quando ele vai agindo na nossa existência para dar esta graça.
O segundo passo da felicidade é dar frutos. Quem já experimentou a alegria de colher os frutos de uma árvore que tinha plantado e cuidado por muito tempo? Ou a alegria de ver um jovem adulto, o qual colaboramos na sua educação, que passou por muitas dificuldades e agora está bem estabelecido na vida? Existe outro fruto ainda maior. O fruto que brota no nosso coração e que ninguém pode nos roubar: a bondade, a lealdade, a santidade. Como é bom estar perto de uma pessoa boa, de uma pessoa que irradia esperança e amor! Deus quer que demos muitos frutos de santidade na nossa vida e para outras pessoas. A santidade não se trata de fazer muitas coisas. Nós devemos fazer muito, devemos levar esta experiência que recebemos do amor de Deus a todas pessoas possíveis. Isso também faz parte da santidade, mas seu fundamento está mais no ser e não tanto no fazer. Santo é aquele que participa da vida de Deus. Quanto mais estejamos unidos a Deus, a fonte de toda vida, mais vida, mais frutos podemos levar aos outros, o nosso coração será mais semelhante ao do Mestre. Para isso, os sacramentos e a oração são necessários para receber, manter e cultivar a união com Deus. Mas também é importante levar esta união com Deus para todos os lugares da minha vida: trabalho, escola, família, responsabilidades, lazer. Assim Deus vai transformando nosso coração, fazendo nosso coração semelhante ao d´Ele.
“Se o ramo não estiver unido a videira, se o grão de trigo não cair na terra e morrer, não dará fruto”. Quanto mais estivermos perto de Deus, mais Ele fará em nós esta obra de arte. Deus Pai vê em nós uma bela imagem, seu mesmo rosto do seu Filho, pois somos sua semelhança. Por isso é necessário pegar este bloco maciço e começar a esculpir. E como Deus faz isso? Seu cinzel é a cruz. Escolher é renunciar. Deus escolhe a bela imagem e por isso renuncia tudo aquilo que sobra neste bloco de mármore que somos nós. Como bom agricultor, ele sabe que existem ramos em nós que somente sugam nossa energia, que não dão frutos, ou ainda que estão mortos. É necessário podar. Mas a poda dói e deixa a árvore feia, aparentemente sem vida. Na realidade, ou é tudo o contrário. Ela tem vida, uma vida que concentrada poderá dar vigor aqueles ramos bons destinados a dar muitos frutos. Sem a poda, a pobre árvore continuaria feia, sem vigor e sem frutos.
Não temamos os golpes de Deus na nossa vida, são golpes de amor, pois “Deus corrige ao que ama. No seu momento, a correção não é agradável, mas penosa; porém com o tempo, produz frutos de justiça” (Heb 12,11). Quantas vezes acontece coisas nas nossas vidas que não esperávamos, que nem queríamos. Nem tudo depende de Deus. Existe a liberdade humana e muitas vezes não sabemos usá-la bem. Contudo, Deus permite algumas coisas pois são parte do seu plano para cada alma e porque Ele quer nos unir cada vez mais a si para que também nós possamos dar muitos frutos. Diante da dor da poda, não devemos nos perguntar “por que aconteceu isso comigo?”, ou até “por que Deus permitiu isso?”, senão mais bem precisamos nos interrogar “para que Deus interveio assim na minha vida, aonde ele quer me levar?”.
“Se vós que sois maus, dais coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celeste”. Ainda que seus golpes são golpes de amor, não esqueçamos que Deus não é indiferente ao nosso sofrimento, que Ele também sofre conosco ao ver-nos sofrer. A dor é o momento de olhar àquele que carregou nossas dores, a Jesus crucificado, e nos unir mais intimamente a Ele para crescer na fé, na esperança e no amor. É assim que daremos um fruto que não passará jamais.