Por: Ir. Lucas de Brito, L.C.

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Em um dos seus argumentos, Nietzsche afirma três coisas: Deus está morto, nós o matamos e conseguimos um grande benefício com a sua morte. Certamente ele se referia a um outro tipo de morte, assassinato e benefício, mas se posicionamos cada uma destas palavras com a reta compreensão da tradição cristã, nos encontraremos diante do momento mais importante da história. No dia 14 de Nisán do ano 785 de Roma[1], Cristo morre por amor cravado numa cruz, assassinado por nós, recuperando o maior benefício que poderíamos ganhar: a Salvação.

Mas a história da Paixão, segundo nos diz a Teologia, inicia muito antes do sacrifício na cruz. Começa na verdade quando o Pai, que é amor transbordante, “necessita” doar-se inteiramente. Nesta doação, Deus necessita exaurir o seu amor gerando o seu Filho, Jesus. Este, sendo gerado, ao contemplar ao Pai que se esgota de amor por Ele, deseja corresponder a esse amor. A correspondência de Jesus ao amor do Pai se realiza quando Ele se faz carne e morre em uma cruz. Neste momento, Jesus é total amor, como o Pai, até o ponto de esvaziar o seu coração quando o perfuraram com uma lança.

Os crucificados normalmente morriam por asfixia, devido as dificuldades em respirar na posição da cruz, como já comentamos. Mas a causa da morte de Jesus é muito discutida pelos estudiosos do Santo Sudário. O Dr. Pierre Barbet alega que Cristo morreu por asfixia, como todos os demais crucificados. Mas o Dr. Zugibe, discorda dessa opinião, concordando mais com a teoria de um falecimento por choque hipovolêmico, ou seja, falta de sangue. Alguns fatores concordam com esse último estudo: comumente se quebravam as pernas dos crucificados para dificultar o movimento respiratório, mas em Cristo isso não chegou a ser feito, por isso “um dos soldados perfurou-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (cf. Jo 19, 34).[2]

Depois de uma série de sofrimentos, Jesus havia perdido muito sangue. Ele suou sangue na noite de sua agonia, provavelmente comeu e bebeu parcamente na prisão, sofreu uma flagelação excruciante e por fim sofreu a crucifixão. De por si é incrível que tenha chegado até o calvário e aguentado três horas na cruz. As consequências dessa grande perda sanguínea são muitas, dentre elas, disfunção de vários órgãos e formação de edema pulmonar. Se analisa que tudo isso contribuiu para que Jesus morresse de uma parada cardiorrespiratória no alto da cruz.[3]

Ao verem que Jesus estava morto, o perfuraram com uma lança, da qual saiu sangue e água. Segundo a imagem Santo Sudário, a ferida provocada pela hasta se encontra parcialmente oculta por uma imensa mancha vermelha de sangue com algumas manchas amarelas de soro. A arma foi introduzida por cima da sexta costela do lado direito, perfurando a pleura, o pulmão direito, chegando até coração, provocando a saída do sangue acumulado no edema pulmonar e no átrio direito. Comumente o sangue inicia um processo de separação após a morte, pelo qual não cabe dúvida de haverem sido sangue e soro que saíram do peito de Jesus.

Através do esvaziamento do seu coração, Jesus nos faz um convite clamoroso de permanecer no seu amor. Eis que nos é apresentada a fonte perene de água da vida (Cf. Jo 4, 14). Cada gota do sangue de Jesus nos comunica o seu imenso amor por nós. Cada gota de sangue indica a um homem morto, mas paradoxalmente, também nos fala de vida. Foi pela sua vida que as nossas foram compradas, não pelo preço barato do pecado, mas pelo Corpo e Sangue de Cristo.[4]

O Coração de Jesus é finalmente um convite a “sair de nós mesmos, a abandonar as nossas seguranças humanas para confiar nele e, seguindo o seu exemplo, a fazer de nós mesmos um dom de amor sem reservas.”[5] Para que gloriando-se do nome de cristãos, possam fazer de Cristo o centro do mundo.”[6]

Vivamos este Tríduo Sacro com a consciência deste amor infinito que se esvazia até a morte por cada um de nós. Na sexta-feira Santa, diante do silêncio de um sacrário vazio, nos recordemos do amor que se esvaziou por cada um de nós. Não percamos ao fim a oportunidade de reparar este coração tão humilhado por nossas ofensas e pecados do mundo todo.

Senhor Jesus, obrigado por amar-me tanto! Ajudai-me a viver nessa Semana Santa uma verdadeira morte contigo. Para que como São Paulo possamos dizer: “a nossa única glória é a cruz de Cristo”[7] ,”Loucura para os pagãos, mas que para nós é o poder de Deus”[8]. Poder esse que é motivado unicamente por amor. E a partir dessa morte de amor, nos preparemos para uma vida nova, ressuscitada pelo Teu mesmo amor.

 

 Referências:

[1] G. Ricci, L’uomo della Sindone è Gesú, Milão, Cammino, p.491

[2] J.P. Carvajal, La Sábana Santa: estudio de un cirujano. Madrid. Espejo de Tinta.

[3] J.P. Carvajal, La Sábana Santa: estudio de un cirujano. Madrid. Espejo de Tinta.

[4] BENTO PP XVI, Discurso no Domingo, 2 de Maio de 2010. Visita Pastoral a Turim.

[5] BENTO PP XVI, Homilía na Sexta-feira, 19 de Junho de 2009, na Basílica de São Pedro, por ocasião da abertura do Ano Sacerdotal.

[6] PIO PP XII, Haurietis Aquas, n. 72

[7] Cf. Gálatas 6, 14

[8] Cf. 1Coríntios 1, 18

 

 

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